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Quando a polícia chegou na escola onde o garoto estuda, encontrou 4 folhas já preenchidas com exercícios de matemática | Farley Rocha/Patos Hoje
Quando a polícia chegou na escola onde o garoto estuda, encontrou 4 folhas já preenchidas com exercícios de matemática| Foto: Farley Rocha/Patos Hoje

O ano letivo na Escola Estadual Marcolino de Barros, em Patos de Minas (MG), cidade que fica a pouco mais de 400 km de Belo Horizonte, começou conturbado. No primeiro dia de aula, um aluno de 14 anos foi apreendido pela polícia militar por ter furtado de uma papelaria um bloco de folhas de fichário de R$ 8. Após a denúncia do dono da loja, os policiais foram até a escola para verificar o ocorrido. Quando chegaram, o menino, estudante do 9º ano, já havia utilizado 3 das 96 folhas para escrever equações matemáticas e outras atividades.  

A denúncia do lojista chegou à polícia na tarde do dia 12, logo após a análise das imagens de segurança do local que flagraram a ação do adolescente. Pelo uniforme, os policiais identificaram que o garoto era aluno da Escola Estadual Marcolino de Barros, localizada no centro da cidade. “Fomos para a escola, mostramos as imagens para a diretora e ela disse: ‘Realmente, esse aluno estuda aqui’”, conta o Sargento Lacerda, do 15º Batalhão da Polícia Militar de Minas Gerais. 

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Depois de ser avisada, a diretora da instituição foi até a sala da turma do garoto e o chamou à coordenação, onde ele e o policial conversaram. “O diálogo que tivemos foi dentro de uma sala, de porta fechada e de maneira discreta. Não fomos abordar ele na sala de aula na frente dos outros alunos”, explica o militar. O estudante confessou o crime e devolveu o bloco de folhas, inclusive as que já havia usado.  

Acompanhado pela mãe, que trabalha como cabeleireira, mas está desempregada, o estudante ainda foi encaminhado à delegacia da cidade, para que a polícia registrasse a ocorrência. Segundo Lacerda, o menino disse que “agiu por impulso, e que furtou o bloco de folhas porque a mãe não tinha condições de comprar o material para ele”.  

O adolescente e a família (a mãe, o padrasto e mais três irmãos, de 11, 5 e 9 anos) moram em um bairro da periferia da cidade. O padrasto faz serviços gerais e o pai está preso, condenado por homicídio. "Vi anoitecer e clarear. Tomei um calmante, mas não consegui dormir nada essa noite", afirmou a mãe do menino, sobre a situação, ao portal de notícias UOL.  

Na delegacia foi feito um termo circunstanciado - registro de situação tipificada como crime de menor relevância - e o adolescente foi liberado. “A gente o orientou bastante. Que quando ele precisar de algo assim, jamais deve praticar esse tipo de coisa. É melhor pedir ajuda do que praticar esses delitos”, disse Lacerda. 

Arrecadação  

A situação repercutiu na cidade de 150 mil habitantes e, principalmente, através da internet, e sensibilizou muita gente. Moradores de Patos de Minas se mobilizaram para arrecadar materiais escolares e itens de higiene para a família do estudante. Quem começou a ação foi Jennifer Magalhães, uma jovem de 26 anos recém-formada em Engenharia Civil.  

Tudo organizado e encabeçado por ela: grupo no Whatsapp, pontos de arrecadação e dia para fazer a entrega. “Lugar de doações: Império das capas (Praça Desembargador Frederico, 34). Doações devem ser feitas até sexta dia 15/02 – Das 08:00 às 19:00. Doações arrecadadas para serem entregues no Pizzolato, no domingo, 17/02, pela manhã. De preferência, materiais escolares novos ou usados, em bom estado de conservação”, dizia a publicação de convite a quem quisesse ajudar.  

“No dia em que a situação ocorreu, eu vi a notícia em um site e entrei em contato com a delegacia para saber o nome do garoto e da mãe dele”, conta Jennifer, que logo se prontificou para ajudá-los. “Eu decidi, então, junto com outras meninas, montar um grupo de Whatsapp para arrecadarmos os materiais. Pessoas de toda parte iam entrando”.  

Parte dos materiais arrecadados pelo grupoJennifer Magalhães

O grupo arrecadou tantos materiais que pretende entregar o que não foi doado ao garoto e sua família a outras escolas da região.  

“ Eu jamais concordaria com o ato de furtar, seja qual for o valor. Mas a situação poderia ter ocorrido de forma diferente. A casa deles é humilde, a mãe tem que ‘se virar nos 30’ para sustentar a família. Tem vezes que a coisa aperta, né? De qualquer forma, o garoto poderia ter agido de forma diferente. A gente espera que ele tenha aprendido”, diz a engenheira.  

As doações foram entregues à família no sábado (16). O garoto já voltou a estudar.

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