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Esqueça a aula que começa com “o que nós vamos aprender hoje”. Na “sala de aula invertida”, professor primeiro diz algo do tipo “o que vocês aprenderam em casa?”. Como o próprio nome diz, consiste em inverter a ordem de estudos: o primeiro contato com o conteúdo é feito em casa, antes da escola. Criado nos Estados Unidos, o método conquista adeptos no Brasil. Mas esbarra na tradição do ensino tradicional.

A ideia de tornar o aluno um agente ativo do processo de conhecimento ganhou força no início dos anos 1980, nos Estados Unidos. Os métodos tradicionais já não traziam resultados. Estudiosos da psicologia cognitiva apontaram que muito pouco do conteúdo ensinado era fixado na memória. Em paralelo, educadores passaram desenvolver métodos de ensino para a chamada “aprendizagem ativa”.

A sala invertida é um deles. Não há uma fórmula de aplicação. O estudo em casa deve ser dirigido. O aluno pode ir além; mas é o professor, que tem o domínio do tema, quem define qual o material didático mais adequado.

Os “ambientes virtuais” podem ajudar. Além de plataformas de Ensino à Distância (EaD), com as quais muitas escolas já trabalham, há redes sociais educacionais que permitem ao professor criar um ambiente de sala de aula na internet. Por lá, é possível disponibilizar um roteiro de estudos, textos de apoio, sugestões de link, interagir com os alunos e até montar jogos de pergunta e resposta. Mas é importante não fazer uma mera transposição, explica o professor José Armando Valente, da Universidade de Campinas (Unicamp), fazendo o aluno assistir em casa à mesma aula expositiva que seria ministrada em sala.

Também não há uma regra para o momento em sala. Pode ser uma atividade prática, um debate com a turma toda ou em grupos. Ou tudo ao mesmo tempo, com diferentes atividades simultâneas.

O professor deve atuar como mediador. Significa que ele deve “ser capaz de extrair as principais ideias daquele conteúdo e conseguir transformar as ideias levantadas em questões norteadoras”. É tão ou mais trabalhoso do que preparar uma aula “tradicional”; o profissional deve estar preparado para fugir do script, a adaptar a atividade conforme os elementos levantados em sala.

Já para o aluno, a educação deve “ser desafiadora, ter diversidade e diálogo”, defende a pedagoga Katia Ramos. Ela coordena o EAD no Instituto Singularidades, que oferta cursos de graduação e pós para a formação de docentes, a adotou a sala de aula invertida em todas as suas disciplinas. Para Katia, a sala invertida permite uma aula que não se paute apenas no conteúdo, mas no desenvolvimento de competências. “Como a comunicação, o saber ouvir, se posicionar em relação a alguma opinião diferente da sua, entre outras”.

Experiências

Além do Singularidades, que adotou o método em toda a sua grade curricular, a sala invertida já ganhou adeptos pontuais, no Brasil. Em São Paulo, o Colégio Dante Alighieri capacitou todos os seus professores para utilizá-lo. No Paraná, quatro instituições de ensino superior hoje estão ligadas ao Consórcio Sthem. Coordenado pelo Instituto Laspau, da Universidade de Harvard, funciona como um impulsionador de práticas de aprendizagem ativa. A Faculdade Opet e as universidades Positivo e PUCPR compõem a iniciativa.

Método esbarra na tradição e infraestrutura

A inversão da sala de aula exige uma reconfiguração na forma de ensinar que passa pela infraestrutura. Os alunos vão conversar entre si, e as carteiras dispostas em fila sequenciais são um empecilho. A falta de equipamentos eletrônicas também atrapalha. Muitas escolas até possuem ambientes alternativos, mas as chamadas “salas multi-uso” em geral são poucas e sua reserva é difícil.

Também falta internet. Os colégios até têm rede, mas nem sempre é aberta para os alunos utilizarem em seus dispositivos pessoais. Pior ainda para quem não tem acesso em casa.

Na outra ponta, há uma certa barreira cultural. “Os professores recebem pouco, e para que ele inove precisa de tempo para se preparar e testar novas práticas”, opina Maykon Müller, que estuda a sala invertida em seu doutorado, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

Os alunos também resistem. “Senta lá no fundo da sala e acha que o professor é um entretenimento. Ele não quer ser ativo”, lamenta José Armando Valente, da Unicamp. Ele acredita que o sistema de pagamento do professor, por hora-aula, também é uma pedra no caminho das práticas inovadoras.

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