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Método fônico de alfabetização será prioridade no governo Bolsonaro
| Foto: Alan Santos/PR

O novo texto sobre a Política Nacional de Alfabetização, uma das metas prioritárias do governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL), já foi entregue à Casa Civil e passa pelos últimos ajustes. Segundo os jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo, que tiveram acesso ao documento (ainda não publicado oficialmente), a proposta priorizará a adoção do método fônico e a participação da família no processo de alfabetização da criança. Estudos empíricos afirmam que todo método de ensino com um componente instrucional, como o fônico, é superior aos outros. Mas só essa abordagem não supre todas as necessidades do processo de alfabetização e, por isso, precisa ser acompanhada de outras metodologias.

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De acordo com o MEC (Ministério da Educação), o objetivo é "estabelecer uma política de alfabetização eficaz, baseada em evidências científicas, ou seja, na ciência cognitiva da leitura, que foi a base para experiências bem-sucedidas em diversos países". Antes de elaborar a nova proposta, a pasta fez um mapeamento dos problemas relacionados à "educação básica e alfabetização".

Conforme publicou o Estado, o texto apresenta cinco eixos que devem ser adotados no processo de alfabetização: "consciência fonêmica, instrução fônica sistemática, fluência em leitura oral, vocabulário e compreensão de texto".

Outra orientação, segundo o jornal, é que crianças de 0 a 5 anos tenham “ensino de habilidades fundamentais para a alfabetização, como consciência fonológica, consciência fonêmica, conhecimento alfabético”. Os jornais que tiveram acesso ao documento ainda afirmam que Estados e municípios que adotarem às orientações do MEC receberão "assistência técnica e financeira da União".

O Grupo de Trabalho (GT), criado pelo MEC para auxiliar na implementação da proposta, "realizou audiências com representantes do Conselho Nacional de Educação (CNE), do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), bem como com um grupo de cientistas especialistas em alfabetização, que puderam contribuir com as experiências em suas respectivas áreas e discutir o tema".

Após a nomeação de Carlos Nadalim, entusiasta das abordagens de alfabetização fônicas, para a Secretaria de Alfabetização do MEC, defensores de filosofias construtivistas têm criticado o governo, temendo que a linha seja deixada de lado.

O que é o método fônico?

A abordagem é conhecida por ser da linha tradicional. Veja alguns pontos adotados pelo método:

  • Premissa é ir ‘do simples ao complexo’
  • Alunos aprendem, primeiramente, que há uma relação entre grafema e fonema (letras e sons). 
  • Preza pela instrução formal realizada pelo docente
  • Envolve prática repetitiva de exercícios variados 
  • Textos utilizados para as atividades não são, necessariamente, contextualizados à realidade do aluno/infantil.

Especialistas

Para Vitor Geraldi Haase, graduado em Medicina pela UFRGS, doutor em Psicologia Médica pela Universidade Luís Maximiliano de Munique e professor titular do Departamento de Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), os métodos fônicos são fundamentais, principalmente para crianças mais desfavorecidas, que necessitam de 1) instrução formal, 2) acabam tendo dificuldades para se adaptar a métodos por descoberta, como adota a filosofia construtivista e, muitas vezes, 3) não têm motivação própria para aprender.

"Existem muitos que são menos inteligentes, sem motivação. E, mais do que isso, há aqueles que têm problemas como autismo, TDH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), dislexia, discalculia", afirma. Nesses casos, segundo ele, é necessário que seja aplicado, inicialmente, a abordagem fônica.

Mas apenas saber ler e escrever não é o suficiente. É importante, sobretudo, ter a capacidade de interpretar o que se lê e registra, e é aí que a abordagem construtivista deve ter espaço.

“Não digo que [o método fônico] seja errado, mas só trabalhar com a relação das letras e sons é algo absolutamente conservador, nós já superamos isso. A cartilha Caminho Suave, por exemplo, durou até metade do século 20, porque se vivia em uma sociedade na qual não se exigia mais do que usar o código. Era simples, a grande massa da população precisava saber escrever para assinar o próprio nome e votar. A parcela de pessoas que usava a leitura e escrita funcional era muito pequena”, argumenta Sérgio Antônio da Silva Leite, graduado em Psicologia pela PUC-Campinas e que atua na área dentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Entre os especialistas, há um consenso de que a solução para melhorar os índices de alfabetização está em uma abordagem que una o ensino mais metódico, como o fônico, a práticas mais experimentais, da forma como defende a filosofia construtivista.

“O que precisamos é de uma metodologia que dê conta da relação grafema e fonema e também do aspecto do letramento. Usar o domínio funcional do código implica em se ter contato com a escrita do modo como ela está no ambiente, de acordo com o que se vê na rua, nos cartazes, jornais. À medida que a criança vai aprendendo as relações entre grafema e fonema, precisa compreender como a escrita aparece no meio dela, e ir se apropriando de textos, historinhas”, defende o professor da Unicamp.

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