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Sábado era dia de limpeza em nosso jardim comunitário da cidade, onde acabamos de receber um lote depois de um longo tempo na lista de espera. 

Um dos jardineiros anunciou que estava procurando voluntários que ajudassem a identificar as mudas de árvores de bordo. Elas precisavam ser encontradas e removidas antes de projetar sombras nas plantações.

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Duas pessoas disseram que poderiam identificá-las: minha filha de 11 anos, Molly, e uma jardineira veterana que plantava naquele solo há décadas. 

Quando Molly disse que sabia identificar as plantas, os outros jardineiros ficaram muito surpresos. "Você aprendeu isso na escola?", perguntou um deles. "Não, eu estudo em casa", respondeu Molly. "Então, você aprendeu em casa?", continuou o jardineiro. "Não, eu apenas sei", ela respondeu alegremente. 

O mito de que crianças devem ser ensinadas 

Essa conversa expõe o mito profundamente enraizado em nossa cultura de que crianças não podem aprender a menos que sejam sistematicamente ensinadas. Seja na escola ou em educação domiciliar, elas só podem aprender quando são orientadas por um adulto, quando seguem um currículo estabelecido, quando são estimuladas e avaliadas. 

Como uma criança poderia saber como identificar plantas se não tivesse aprendido em uma aula na escola? 

No entanto, essa suposição não foi lançada sobre a jardineira mais velha. Ninguém perguntou se ela havia aprendido a identificá-las na escola ou se tinha um curso recente sobre o assunto. Supunha-se que ela conhecia essa informação da experiência, da imersão. Ela vinha fazendo jardinagem há muito tempo e provavelmente gostava do processo, tornando-se cada vez mais interessada na vida das plantas e do solo. 

Talvez ela tenha passado algum tempo com outros jardineiros mais experientes que, com o tempo, compartilharam seu conhecimento. Ou talvez ela tenha lido alguns livros. Ninguém questionou que a jardineira veterana aprendeu como reconhecer árvores de bordo através do tempo, experiência e imersão na vida real; no entanto, eles tiveram dificuldade em imaginar que uma criança poderia fazer o mesmo. 

Molly se tornou interessada em jardinagem quando ainda era muito jovem, motivada pela paixão e talento de sua tia-avó. 

Uma jardineira mestre, sua tia felizmente incluiu Molly e seus irmãos em esforços de jardinagem ao longo dos anos. Molly então tornou-se particularmente interessada na identificação de plantas. 

Ela fez muitas perguntas e absorveu todas as respostas, através do envolvimento ativo no processo real de jardinagem e exploração da natureza. Mais tarde também recorreu a livros e guias periodicamente, quando isso importava para ela. 

Molly aprendeu sobre as plantas seguindo seus interesses, fazendo perguntas a quem tivesse mais conhecimento, ouvindo atentamente as respostas e, crucialmente, fazendo o verdadeiro trabalho de jardinagem. 

Ela aprendeu da mesma maneira que a jardineira mais velha aprendeu, da maneira natural que a maioria dos seres humanos aprende. 

Aprendemos apesar das salas de aula, não por causa delas 

A maior parte do que sei hoje não foi o que aprendi na escola. É o que aprendi desde a escola, seguindo meus próprios interesses e buscando um trabalho significativo. É assim que a maioria dos adultos aprende e faz - particularmente se tivermos a sorte de reter ou reacender a centelha inata da curiosidade humana tantas vezes ofuscada pela escola convencional. 

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Como Paul Goodman escreveu em Compulsory Miseducation (Deseducação Compulsória, em tradução livre): 

"A tarefa difícil da educação é libertar e fortalecer a iniciativa de um jovem e, ao mesmo tempo, fazer com que ele saiba o que é necessário para lidar com as atividades em curso e a cultura da sociedade, para que sua iniciativa possa ser relevante. É um absurdo pensar que esta tarefa pode ser realizada passando tanto tempo sentado olhando para a frente, manipulando símbolos na direção de administradores distantes. Esta é uma maneira de regimentar e fazer lavagem cerebral.” (p. 140) 

Crianças não precisam se sentar em uma sala de aula ou na mesa da cozinha, seguindo um currículo rígido de conhecimento considerado importante pelos outros. Elas aprendem como todas as pessoas aprendem quando estão livres da educação institucionalizada: seguindo o instinto humano de explorar, descobrir e sintetizar nosso mundo. 

Crianças são alunos surpreendentemente ávidos e capazes quando lhes são concedidas liberdade, respeito e oportunidades autênticas de interagir como membros vitais de sua comunidade. Devemos apenas removê-las da caixa e recebê-las no mundo. 

*Kerry McDonald é bacharel em Economia pela Bowdoin e mestre em políticas educacionais pela Universidade de Harvard. Ela mora em Cambridge, Massachusetts, com o marido e quatro filhos que nunca frequentaram a escola. É autora de “Unschooled: Raising Curious, Well-Educated Children Outside the Conventional Classroom” (“Desescolarizado: Formando crianças curiosas e educadas fora da sala de aula tradicional”, em tradução livre).

©2018 FEE. Publicado com permissão. Original em inglês. 

Tradução: Andressa Muniz.

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