• Carregando...
 |
| Foto:

Pesquisa

76% dos pais adeptos ao homeschooling acham a escola nociva

Agência O Globo

De acordo com a Associação Nacional de Ensino Domiciliar (Aned), há 800 famílias no país declaradamente adeptas de uma forma de ensino não regulamentada no Brasil. Na pesquisa "Escola? Não, obrigado: um retrato do homeschooling no Brasil", o sociólogo da Universidade de Brasília (UnB) André de Holanda ouviu 62 pais de todas as regiões do país que educam seus filhos em casa.

Segundo ele, as motivações religiosas e/ou morais foram manifestadas por todos os entrevistados. O pesquisador destaca também que a maioria dos pais (76%) considera o ambiente de socialização escolar nocivo. Também aparecem as motivações pedagógicas e as alegações de que o ensino regular ou o ambiente de aprendizado convencional é pobre (53%).

Conforme a pesquisa, três em cada dez pais consideram "eclética" a abordagem pedagógica que aplicam aos filhos, o que sugere a ocorrência de experimentações e combinações de métodos e filosofias educacionais diversas. Os filhos educados em casa têm 8 anos, em média, e começaram a ser educados nessa modalidade com 6.

O que diz a lei

Atualmente, no Brasil, ensinar as crianças em casa é crime. Isso porque o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no artigo 55, prevê que é direito da criança e dever dos pais a matrícula da mesma em uma instituição oficial de ensino. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) também determina isso e o artigo 246 do Código Penal (CP) prevê o crime de abandono intelectual quando os pais deixam, "sem justa causa, de prover à instrução primária de filho em idade escolar". Para que o homeschooling passe a ser permitido, é preciso que o Congresso aprove mudanças na legislação vigente.

Interatividade

O que você acha do aprendizado domiciliar? Quais os benefícios e os prejuízos da prática?

Deixe seu comentário abaixo ou escreva para leitor@gazetadopovo.com.br

Leia as regras para a participação nas interatividades da Gazeta do Povo.

As mensagens selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.

Uma prática adotada por pelo menos 1 milhão de famílias nos Estados Unidos chama a atenção de pais brasileiros e causa polêmica por aqui. No homeschooling, crianças e adolescentes deixam de ir à escola para ter aulas em casa. O papel do professor geralmente é desempenhado pelos pais. A pedagoga mexicana Yvette Pais tem experiência na área e é incentivadora do método. Ela o adotou quando dava aulas em escolas do Texas e o filho tinha entre 3 e 4 anos. Atualmente, Yvette mora em Curitiba e, sendo a prática ilegal no Brasil, se dedica a dar dicas a pais que desejam aprimorar em casa a educação que os filhos recebem na escola tradicional. Na semana passada, a pedagoga ministrou uma oficina sobre o assunto e recebeu a Gazeta do Povo para uma entrevista. Confira os principais trechos.

Como funciona a prática do homeschooling? E como garantir sua eficiência?

Primeiramente, os pais devem possuir educação superior, conhecimento e devem saber como dar uma aula. Ter paciência também, algo que é chave tanto para pais quanto para professores. Além de entender sobre psicologia infantil para compreender sobre como funciona esse processo de aprendizado.

A criança não corre o risco de ficar muito sozinha, sem interação com outras?

A criança não precisa ficar sozinha. Em muitos países, há grupos de mães que organizam saídas em grupo, aulas em grupo. Uma mãe pode ser boa em Matemática, outra em Ciências, uma terceira pode entender um segundo idioma. Elas podem formar grupos de até 15 crianças e esses grupos se convertem em pequenas escolas na casa de cada uma, ou em um museu, teatro ou galeria. Isso facilita o aprendizado, pois é mais fácil despertar o interesse da criança em pequenos grupos.

Como seria a avaliação dos pais para saber se a criança aprendeu de fato?

Pode ser um sistema por pontos, levando em conta se a criança conseguiu realizar atividades de acordo com a idade dela. Também há softwares que oferecem atividades para a criança e ela passa de nível quando acerta uma pergunta ou exercício. Não há notas.

Não há o risco de a criança confundir o papel de pai ou mãe com o de professor? Não pode haver problemas de autoridade?

Pela minha experiência, já que eu fiz homeschooling por dois anos com meu filho, eu vejo que não há essa confusão. As crianças são muito inteligentes. O segredo é ser organizado, ter controle, estabelecer bem as regras e convidar a criança a participar. Muitas crianças adoram a oportunidade de ter um dos pais como professor. Eles entendem a diferença, desde que você deixe claro quando é hora de ler um livro e estudar e quando é hora de ver tevê ou jogar videogame.

No Brasil, muitas famílias que vão contra a lei e adotam o homeschooling alegam a péssima qualidade da escola. Pais que pensam assim não acabam ficando mais distantes das políticas educacionais e da comunidade?

Sim, imagino que a pessoa que não tem contato com a escola pública ou privada obviamente não vai ter um interesse, pois está encontrando outras soluções que estão nas mãos dele. Mas não acho que é uma questão de má qualidade, é que o modo de ensinar é o mesmo há 50 anos. O problema é a falta de inovação, que não desperta interesse. É preciso ter uma nova didática, uma nova tecnologia. A criança não é a mesma daquela de 20, 30 anos atrás. Ela aprende de forma diferente. É preciso ter uma nova proposta educacional para o hoje, o agora.

Tal inovação pode levar anos em países como o Brasil. O que pode ser feito para minimizar o problema hoje?

Há alguns elementos que podem ajudar, seja no homeschooling, na escola pública ou privada: apoio. Os pais precisam apoiar os filhos e apoiar os professores de seus filhos, e a escola e os coordenadores precisam apoiar seus professores. É preciso participar e trazer novas ferramentas para a sala de aula, despertar o interesse do aluno, pois não existem maus alunos. O que existe são maus coordenadores e bons coordenadores, maus professores e bons professores. Os alunos são todos bons.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]