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Fachada da Escola de Comunicação e Artes da USP | Marcos Santos/USP Imagens/
Fachada da Escola de Comunicação e Artes da USP| Foto: Marcos Santos/USP Imagens/

Professores de unidades da USP com prédios ocupados por alunos grevistas têm apelado para atividades on-line para evitar a perda do semestre e atender quem não aderiu à paralisação. Trabalhos, provas e até aulas completas já foram realizadas pela internet nas últimas semanas.

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Diante das ocupações e da paralisação de servidores, estudantes também têm enfrentado dificuldades para renovação de estágios e para aprovação de intercâmbios.

Os prédios da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e da ECA (Escola de Comunicação e Artes) estão tomados há mais de um mês por alunos - que alegam seguir decisão de assembleia estudantil.

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Os grupos grevistas exigem, entre outras coisas, implementação do sistema de cotas sociais e raciais, além de apoiarem a paralisação dos professores e servidores técnico-administrativos da USP, decretada pelos respectivos sindicatos no mês passado.

A universidade já tem um programa para aumentar a inclusão de alunos da rede pública, mas que é considerado tímido pelos manifestantes.

O professor Helmut Galle já deu quatro aulas on-line para driblar os piquetes. Por e-mail, encaminhou apresentações e arquivos de áudio da disciplina classicismo alemão. O trabalho para avaliação teve de ser entregue por e-mail na quarta passada (15).

Uma aluna do 5º ano de letras, que pediu anonimato por medo de represália, diz ter tido dificuldades com esse método. “Na aula, ele dá explicações mais completas. Preferia as reposições.”

Os colegas de classe do estudante Marcus Repa, 26, tiveram que fazer uma prova on-line de ciência política -algo inédito, segundo ele, mesmo em outras greves.

O professor Brasílio Sallum deixou no Moodle (ambiente virtual de apoio) duas perguntas. Os alunos tiveram 2h10 para fazer. “Foi um método interessante para caso de greve”, disse Repa. “Evita conflito com movimento estudantil, que tem legitimidade para suas ações”, afirma.

A prática dividiu alunos. “A minha internet caiu duas vezes, tive ataques de pânico”, diz Daniela Uehara, 22.

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Violência

Além das atividades on-line, a ocupação já levou professores a organizarem aulas em locais secretos. Por exemplo, em um restaurante da FFLCH, conforme noticiado pelo “O Estado de S. Paulo”.

O diretor da faculdade, Sergio Adorno, afirmou que a greve atual rompeu uma tradição de manter acesso ao prédio administrativo -a lgo que preservava atividades como a pós-graduação.

Para ele, é preocupante a regularidade e alongamento das greves. “[Há um] apelo cada vez mais frequente à violência, como as ocupações e bloqueios de prédios.”

Na ECA, os estudantes fizeram a ocupação do prédio da administração central e piquetes na porta das salas de aula para evitar atividades. Somente a apresentação de trabalhos de conclusão de cursos estão sendo liberados.

Alguns professores sugeriram a prova on-line, mas os alunos recusaram. Em relações públicas e turismo, a data de entrega dos trabalhos pela internet foi mantida.

A aluna de turismo Tainá Santos, 19, diz que precisou entregar trabalho por e-mail, e professores ainda pediram que trabalhos fossem deixados em seus armários. “Sou a favor da greve, mas é melhor que o professor tenha forma de avaliar. Tem disciplinas no próximo semestre que dependem deste ano.”

O estudante de jornalismo Vitor Matioli, 22, que participa dos piquetes, diz que a atitude dos professores tem objetivo de “furar greve”. “Temos reivindicações de melhoria para a universidade, os alunos pedem reposições.”

O professor Ciro Correia, ex-presidente da Adusp (associação dos docentes), também critica. “Esse tipo de atitude fere uma certa ética com os colegas que estão efetivamente empenhados contra o desmonte da universidade.”

Alunos não conseguem renovar contratos de estágio

Estudantes da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) e da ECA (Escola de Comunicação e Artes) têm enfrentado dificuldades burocráticas com a interrupção dos serviços administrativos, causada pelas ocupações. Sem documentos ou validações da USP, estágios e intercâmbios ficam comprometidos.

A aluna de letras Gabriela Passos, 20, precisa de uma assinatura da USP para renovar o contrato de estágio, que vence no dia 6. “Mandei e-mail para a reitoria, Pró-Reitoria de Graduação, direção da FFLCH”, diz ela, que teme perder o emprego. “O RH da empresa não aceita outra coisa.”

Na USP desde 2013, passou por três greves. Conta que nos anos anteriores os serviços da administração não haviam sido interrompidos.

A ocupação na FFLCH e ECA é comandada por estudantes. Servidores administrativos estão em greve, mas, como a adesão é variável, os serviços acabavam não sendo totalmente prejudicados.

A aluna Camille Lohmeyer, 20, também de letras, teve de adiar para 2017 os planos de fazer intercâmbio na Itália. Ela não conseguiu um documento de equivalência curricular. “Sem ele, não consigo a carta de aceitação da universidade e, sem ela, não consigo o visto”, diz.

Alunos da USP de outros países também têm tido problemas. No Brasil há dez meses, a chinesa Elisa Chen, 21, precisava de uma assinatura da universidade para renovar seu visto. “Depois de um mês, consegui falar com um professor e peguei a assinatura dele”, diz. “Não é a mesma coisa, mas disseram na Polícia Federal que vão aceitar”.

Para Maria Cristina Mungioli, presidente da Comissão de Relações Internacionais da ECA, a situação pode afetar a vinda de alunos estrangeiros no segundo semestre. “Algumas universidades ligaram perguntando”, diz. “Muitas pessoas reavaliam quando a instituição está em greve.”

Mesmo com problemas para revalidar créditos de um intercâmbio feito em 2015, a estudante de artes cênicas A.R., 21, que pediu para não ser identificada, apoia a greve.

“Vou ter que refazer as matérias que já cursei, porque todos os meus documentos estão dentro do prédio ocupado”, diz. “A greve coloca debates que, infelizmente, não têm espaço no dia a dia da faculdade, como o de cotas.”

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