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“O grito não é uma ferramenta para substituir as surras e palmadas, mas se equivale a elas. Todas são formas de descontrole e não têm qualquer valor educativo, pois os pais somente descarregam a raiva e não se preocupam em fazer dos erros das crianças possibilidades de discipliná-las.”

Karin Bruckheimer, psicóloga infanto-juvenil e psicopedagoga da Clínica Animus | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
“O grito não é uma ferramenta para substituir as surras e palmadas, mas se equivale a elas. Todas são formas de descontrole e não têm qualquer valor educativo, pois os pais somente descarregam a raiva e não se preocupam em fazer dos erros das crianças possibilidades de discipliná-las.” Karin Bruckheimer, psicóloga infanto-juvenil e psicopedagoga da Clínica Animus| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Como educar

Não espere as coisas saírem do controle para agir. Aprenda a repreender educando:

1 Explique os porquês: se a criança ou adolescente aprontou, o primeiro passo é explicar porque sua atitude foi errada e não deve ser repetida. Seja direto. Quanto menor a criança, menor o tamanho e a complexidade da explicação. Se a explicação funcionar, elogie e reforce que está muito feliz por ela ter compreendido.

2 Reforce sua autoridade: se o diálogo não funcionar, seja firme e reforce sua autoridade, mas evite se descontrolar ou fazer ameaças. Diga que você já explicou os motivos para ela não poder se comportar daquela forma e, por isso, ela precisa compreender e obedecer. Seja objetivo, pois não são raros os casos em que as crianças acham que os pais "só falam e não fazem nada".

3 Use o castigo: se a criança insiste em não obedecer, tenha uma atitude sancionadora (o popular "castigo"). Não adianta se descontrolar, bater ou gritar. É importante que o castigo tenha algum sentido para a criança, como não poder brincar com os amiguinhos no fim de semana ou não pode ver tevê no fim do dia.

Fonte: Tania Zagury, educadora e filósofa.

O que fazer

Diálogo e regras

Se apelar para os castigos físicos não é mais uma alternativa, os pais mais modernos não pensam duas vezes em lançar mão do diálogo para educar as crianças. Mas é bom tomar cuidado, pois conversar é um caminho importante, mas não o único. Hoje, sem medo das surras e da rigidez dos pais, as crianças lutam pelo que querem e não têm medo de confrontar os adultos. "Dialogar é o primeiro passo, mas deve ser sempre acompanhado por uma postura que combine firmeza com compreensão e, se preciso, até castigos", explica a filósofa e educadora Tania Zagury.

Para os pais, a chave do sucesso para evitar os gritos e construir uma convivência mais saudável é estabelecer regras em parceria com as crianças e adolescentes, exigindo sempre o cumprimento delas. "Os pais precisam ensinar, cobrar o que foi ensinado e, se o filho transgredir as normas, fazê-lo perder o benefício de outra atividade que ele gosta, como ir ao cinema, sair com os amigos ou ver TV, até cumprir suas obrigações", diz o médico psiquiatra e educador Içami Tiba.

Outra tarefa para os pais é definir suas prioridades. Ser realizado no trabalho é importante, mas ter um tempo de qualidade com os filhos é fundamental. "Quando chegar em casa, deixe os problemas no emprego ou no trânsito de lado e foque nas suas tarefas como pai ou mãe", explica Karin Bruckheimer psicóloga infanto-juvenil e psicopedagoga da Clínica Animus.

Em julho, um projeto de lei causou polêmica ao propor que castigos físicos aplicados pelos pais em crianças e adolescentes sejam considerados crimes. Mas se as palmadinhas estão proibidas, que atitude tomar quando os filhos insistem em fazer manha, se recusam a terminar suas tarefas e não param de fazer bagunça? Para muitos pais, levantar a voz, gritar e usar ameaças ou palavras bem pouco educadas tornaram-se os recursos mais fáceis para tentar preservar a disciplina em casa. Apesar de essa história fazer parte do cotidiano de muitas famílias, os especialistas alertam: ela não deveria acontecer. "Gritar é uma tremenda falta de educação em qualquer situação e não leva a nada, pois não educa, deixa pais e filhos extremamente irritados, prejudica a relação entre eles ", explica o médico psiquiatra e educador Içami Tiba, autor de 28 livros, como "Quem Ama, Educa!" e "Disciplina: Limite na medida Certa".

Para a educadora e filósofa Tania Zagury, autora do livro "Limites sem Trauma", a "pedagogia do grito" tornou-se um recurso recorrente porque os adultos se sentem perdidos em relação ao seu papel como autoridades para as crianças. "Antigamente, os pais sequer precisavam falar. Bastava um olhar para que os filhos soubessem que tinham de obedecer, senão levariam uma surra. Agora, abolida a alternativa do castigo físico, muitos pais recorrem aos gritos e ameaças para serem ouvidos."

Consequências

O efeito mais grave do abuso dos gritos é que crianças e adolescentes absorvem o comportamento dos pais e passam a agir da mesma forma ao se relacionar com familiares, professores e colegas de escola. "Eles se tornam pessoas agressivas, que perdem o controle facilmente, sempre aumentam a voz para tentar se impor e não pensam duas vezes na hora de apelar para a violência física", explica a psicóloga infanto-juvenil e psicopedagoga da Clínica Animus Karin Bruckheimer.

Outro problema é que os berros constantes podem prejudicar a comunicação entre pais e filhos para sempre. Com o tempo, eles passam a não conversar e somente gritar um com outro até que, na adolescência, esse canal de comunicação está tão desgastado que o filho sequer ouve os pais.

Tão problemático quanto alterar a voz é usar palavras pouco educadas para falar com a criança, o que mina sua autoestima. Geral­­mente o grito vem acompanhado de ofensas do tipo "você é burro" ou "você não presta pra nada". Como as crianças sempre levam as palavras dos pais como espelhos, facilmente passam a acreditar que realmente são assim e se tornam pessoas inseguras. E se engana quem pensa que pedir desculpas é uma forma de amenizar os problemas. "Isso não apaga toda a mágoa do filho por ter sido insultado dessa forma", alerta Karin.

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