O Brasil é um dos países que mais investe em Educação. Segundo o relatório Aspectos Fiscais da Educação no Brasil, divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional, ligada ao Ministério da Fazenda, o país investe em educação pública cerca de 6% do Produto Interno Bruto (PIB), valor tido como superior à média de 5,5% destinada à área por parte de países integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Os resultados alcançados em sala e avaliados por estudos técnicos e comparativos internacionais, no entanto, deixam o Brasil entre os últimos colocados no que se refere ao desempenho escolar.
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A grande pergunta repetidamente feita é por que, mesmo gastando tanto em Educação, o Brasil tem um retorno que deixa tanto a desejar? Para o economista Renan Pieri, doutor em Economia e docente do Insper, de São Paulo, a análise deve ser feita do ponto de vista da eficiência.
Em entrevista à Gazeta do Povo, o economista, autor de “Retratos da Educação no Brasil”, estudo disponível no site do Insper, traça paralelos entre o Brasil e vizinhos latino-americanos. Ele fala do “descolamento” existente entre a sala de aula e o mercado de trabalho e insiste na necessidade da formação continuada dos docentes, para que o ensino atinja, de fato, um patamar de eficiência e, futuramente, de excelência.
Por que os resultados do Brasil na área de Educação ficam tão abaixo dos padrões internacionais, mesmo o país fazendo alto investimento, até mesmo acima da média mundial?
A questão pode se resumir em uma palavra: eficiência. Existe uma dívida histórica brasileira no campo da Educação que se nota ao compararmos a situação local com a dos países latino-americanos. A escolaridade brasileira é menor, por exemplo, que a do Chile. Estudo realizado pelo Insper, tendo como fonte dados do IBGE-PNAD, publicado no fim do ano passado, mostra que a escolaridade do jovem brasileiro está uma geração atrás da escolaridade do chileno. Pelo cálculo realizado, a geração chilena nascida em 1964 atingiu a marca de dez anos de escolaridade, enquanto no Brasil essa média só foi atingida pela geração nascida em 1986. Assim, pessoas com 25 anos ou mais não têm mais do que o ensino fundamental completo, embora a média de anos de estudo tenha crescido de maneira geral, mas ainda em ritmo não satisfatório. O estudo mostra que a cada sete anos, o país tem conseguido melhorar a sua escolaridade média em apenas um ano.
Nessa perspectiva, futuramente, os jovens de hoje serão pais menos escolarizados. Ou seja, estamos falando de capital humano, importante e influenciador: estes pais exercerão influência menos positiva sobre seus filhos, algo que seria muito diferente se tivessem escolaridade maior.
Além disso, a pesquisa de dados do Pisa (Programme for International Student Assessment) aponta que, por meio de questionários de gestores de escolas, verifica-se que o tempo de trabalho em sala de aula é menor do que em outros países. É baixa a difusão da escola de tempo integral. Além disso, a carga horária estipulada não é integralmente cumprida. Verificam-se falta de professores e falta de atividades que preencham totalmente o tempo de aula por muitos motivos.
A formação dos professores é outro fator. Dados do Censo Escolar mostram que muitos professores não são formados na área que lecionam. Outro problema é o estágio pro forma, por meio do qual o aluno não tem formação e experiência robustas, necessárias para exercer satisfatoriamente o seu trabalho. Por isso, o Brasil precisa investir como prioridade na formação continuada dos docentes, colocando o foco dessa formação nos conteúdos sobre os quais o professor irá lecionar.
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O país investe pouco em formação infantil. Faltam creches e, além disso, não universalizou a pré-escola. Sabemos que se o aluno não desenvolver as atividades iniciais dos três aos seis anos, dificilmente conseguirá acompanhar o que virá a seguir. É muito importante alfabetizar os alunos na idade certa.
Assim, a falta de foco na educação infantil; professores com formação inadequada; tempo insuficiente de atividades em sala de aula e pais menos escolarizados são fatores que impactam sobre o atual cenário do ensino.
O Brasil gasta em Educação muito mais do que outros países na relação com o PIB. Mesmo assim, amarga resultados pífios (estamos entre os últimos no Pisa). A isso soma-se o fato de o investimento feito em Educação não se refletir no desenvolvimento do País, no PIB. Por que isso acontece?
De fato, aumentamos os investimentos em escolaridade, mas não o PIB per capita. Apesar de o país ter aumentado a escolaridade média da população, isso não tem se refletido na produtividade média do trabalhador. Entre 1980 e 2010, tivemos investimentos maiores e nem por isso a escolaridade aumentou. Aumentamos a escolarização, mas não o impacto positivo. O motivo é o “descolamento” entre a educação formal e a necessidade do mercado. Os alunos não saem da escola com as habilidades que o mercado de trabalho exige. Basta ver que, segundo pesquisa do Instituto Nacional De Gestão De Bolsas (Inagbe), há 30% de analfabetos funcionais entre a população ativa. Há falta de acesso ao ensino técnico, com poucas escolas de qualidade nesse nível. Estive recentemente em Manaus conversando com industriais e a maioria reclama que o currículo das universidades não é condizente com as necessidades da indústria. Além disso, faltam vagas em escolas técnicas de qualidade. O próprio Pronatec mostra que há pouco impacto na formação do aluno.
Cite, por favor, exemplos de países que gastam proporcionalmente menos que o Brasil e têm melhores resultados.
Quando se avalia a relação entre a despesa com os alunos e o retorno, nota-se que o resultado não é satisfatório. Colômbia, México, Peru e Chile têm gastos muito próximos aos do Brasil, com desempenho superior ao nosso. Uma das razões é que o Brasil gasta mais com ensino superior, praticamente a metade dos investimentos, enquanto a educação fundamental recebe investimento muito menor. De acordo com o Pisa, o aprendizado no Brasil está abaixo do que se poderia esperar para o seu nível de despesa. O México tem programa bem-sucedido de monitoramento de alunos ausentes com baixas notas. Já o Chile destaca-se pela política de vouchers, o que acaba despertando uma saudável competição pela qualidade entre escolas – o aluno escolhe a escola que vai frequentar. Quando tratamos a questão do ensino específico da matemática, estudando a relação do desempenho na disciplina versus o gasto por aluno, vemos que a Colômbia (2.835 dólares), o México (3.065 dólares) e o Peru (3.590 dólares) gastam menos que o Brasil (3.822 dólares), conforme mostra o estudo da OCDE Education at a Glance de 2016. Apesar de que todos estão abaixo da média de desempenho esperado para seus gastos, o índice de proficiência na disciplina é de 389,6 para a Colômbia; 408,0 para o México; 420,5 para o Peru, enquanto o índice para o Brasil fica em 377,1.
Quais são as sugestões que o senhor daria aos Secretários de Educação que agora estão assumindo as respectivas Secretarias nos Estados?
Começar a focar mais o orçamento na educação infantil. Há uma distribuição muito desigual, muito focada no ensino superior, com muito pouco destinado à formação infantil. Outro ponto necessário é a universalização de creches de boa qualidade. É essencial concentrar esforços para que todo aluno seja alfabetizado na idade certa. A aplicação da Avaliação Nacional da Alfabetização (ANA) propicia a verificação de alfabetização e letramento em língua portuguesa (leitura e escrita) e matemática dos estudantes do 3º ano do ensino fundamental das escolas públicas. É um instrumento que facilita o processo subsequente de aprendizado. O Ceará deve ser lembrado como exemplo de resultado positivo na alfabetização, conforme resultados verificados por meio do Programa Alfabetização na Idade certa (Paic), lançado em 2007. Houve empenho em todas as instâncias, com a atuação também das universidades. Além do compromisso de alfabetização dos alunos das redes municipais até o segundo ano do ensino fundamental, o Paic, entre outros pontos, envolve ações voltadas para a valorização e profissionalização dos docentes.
Assim, é preciso investir mais na formação continuada de professores, recorrendo aos docentes mais experientes da rede para ajudar os mais jovens, numa espécie de programa de tutoria. Necessário também o monitoramento de sala de aula, para que se cumpra o currículo da estabelecido pela Secretaria Ensino. Cuidar para que não faltem professores. Tal iniciativa demanda dinheiro e organização, além do comprometimento de todos os envolvidos nesse processo.
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