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Há quase 30 anos, o grupo pesquisa insetos e demais animais terrestres e marinhos de pequeno porte. Crédito: Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB
Há quase 30 anos, o grupo pesquisa insetos e demais animais terrestres e marinhos de pequeno porte. Crédito: Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB| Foto:

Desde o início dos anos 90, o pesquisador Marcelo Hermes-Lima, 53 anos, atualmente professor da Universidade de Brasília (UnB), tenta entender como alguns animais conseguem passar por situações extremas ­­– como hibernar, congelar, ou suportar altas temperaturas – e depois voltar à vida normal como se nada tivesse acontecido. Atrás dessa resposta, há quase 30 anos, o doutor em biologia pesquisa insetos e demais animais terrestres e marinhos de pequeno porte.

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Depois de anos e anos de estudos, experimentos e várias frustrações, Hermes-Lima e outros estudantes que o ajudam nas pesquisas chegaram a uma conclusão recente que já se transformou em uma teoria aceita pelo mundo científico. De acordo com os pesquisadores, há uma preparação por parte do organismo desses animais para lidar com o estresse oxidativo. Ou seja, a natureza, sabiamente, faz com que o corpo deles produza algumas proteínas para que, ao voltarem às condições normais, os bichos não sofram danos físicos.

Assim, foi criada a Teoria da Preparação para o Estresse Oxidativo, batizada de POS. “Hoje, conseguimos formular uma teoria biológica que é estudada por pesquisadores dos cinco continentes. E temos planos de continuar nossa aventura nas fronteiras do conhecimento, nos aprofundando em novos aspectos de nossa teoria da adaptação animal”, explica o professor, orgulhoso.

Desde que a teoria foi aceita e publicada nas principais revistas científicas, mais de 26 países instalaram grupos de estudo para evoluir no assunto. Até agora, os pesquisadores espalhados pelo mundo encontraram a POS em ao menos 100 animais de diversas espécies e oito filos, incluindo vertebrados e invertebrados, como insetos, crustáceos, moluscos e corais.

“Antes, a pesquisa era voltada apenas para animais marinhos e hoje costumo brincar que fizemos a 'teoria de tudo', pois submetemos diversos animais a diferentes estresses como hipóxia (pouco oxigênio), congelamento, exposição aérea (de animais aquáticos), desidratação severa e dormência e eles se encaixaram na teoria”, completa Marcelo Hermes-Lima.

Colaboradores

Doutor pelo Departamento de Biologia Celular da UnB e atualmente biólogo na instituição de ensino, Daniel Moreira, 30 anos, participou do grupo de pesquisa do professor Marcelo Hermes-Lima desde o início de sua vida acadêmica. Agora, coautor da teoria da POS, ele conta que se interessou pelo assunto ainda na graduação e jamais imaginou que os estudos pudessem chegar tão longe.

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Feliz pelo trabalho desenvolvido em terras brasileiras e pelos frutos agora colhidos com a pesquisa, Moreira resume os anos de estudo e dedicação na seguinte frase: “É uma teoria que consegue explicar tudo o que foi publicado sobre o assunto até hoje e que ainda não tinha um porquê”, garante.

Já Juan Manuel Carvajalino Fernandes, 34 anos, veio da Colômbia para realizar seu pós-doutorado sobre o tema com o professor Marcelo Hermes-Lima. O estudante explica que o mais interessante desses anos de pesquisa é perceber como a partir dos estudos desenvolvidos por eles, outros estão sendo criados. “Somos uma referência mundial, isso significa que o Brasil contribuiu amplamente para uma área da ciência”, completa.

Entenda

Ainda nos anos 1990, Hermes-Lima desconfiou que alguns animais tolerantes ao congelamento e a falta de oxigênio aumentavam suas defesas antioxidantes nesses períodos críticos. A partir daí, surgiu a hipótese de que o aumento dessas proteínas aconteciam para proteger órgãos e tecidos dos animais contra os efeitos tóxicos de radicais livres que se formam no momento do retorno do oxigênio ao organismo.

Em 1998, o professor da UnB batizou esse processo de “preparo para o estresse oxidativo” (POS, na sigla em inglês). No entanto, só em 2015 os pesquisadores conseguiram transformar a hipótese em teoria e o estudo passou a ser aceito no mundo todo e a influenciar novos estudiosos.

O próximo passo dos pesquisadores brasileiros agora é focar em como se dá a POS na natureza, já que os estudos até aqui foram realizados em laboratório. Por isso, Daniel Moreira analisará o comportamento bioquímico de um sapo da caatinga capaz de sobreviver meses sem comer nem beber em períodos de seca. O colombiano Juan Fernandes também está viajando pelo mundo analisando novos animais e coletando dados.

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Enquanto isso, eles já projetam como a teoria pode ser usada no dia a dia das pessoas. “Eu descobri como é o ciclo de vida do lagarto do girassol, que consegue destruir plantações inteiras da flor. Agora, a indústria com esses dados pode desenvolver uma maneira de inibir o antioxidante do animal e facilitar seu combate”, explica o doutor Daniel Moreira. Ainda de acordo com o professor Hermes-Lima, entender o ciclo do oxigênio nos seres vivos pode colaborar, no futuro, em questões relacionadas a transplante de órgãos e até mesmo no envio de astronautas ao espaço. “As oportunidades se abrem para quem está preparado. Antes, é preciso muita persistência, trabalho duro e uma pequena dose de sorte”, completa o pesquisador.

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  • Peixe Oscar, da Amazônia/ Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB
  • Área de pesquisa/ Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB
  • Coleta de ouriços/ Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB
  • Preparo para o estresse oxidativo/ Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB

  • Preparo para o estresse oxidativo/ Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB
  • Área de pesquisa/ Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB

  • Preparo para o estresse oxidativo/ Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB
  • Área de pesquisa/ Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB

  • Preparo para o estresse oxidativo/ Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB
  • Coleta de mexilhões/ Equipe do Laboratório de Radicais Livres da UnB
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