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Ninguém dá o que não tem. O esforço feito pelas universidades para transformar os alunos que vêm com péssima formação do ensino médio em bons profissionais é desgastante e trabalhoso. De um lado, alunos que não sabem conteúdos simples que deveriam ter sido aprendidos na educação básica, de outro, professores tentam fazer com que os alunos supram logo as lacunas para dominar as disciplinas na graduação e entrar no caminho pelo qual trilham os países com ensino de sucesso: o empreendedorismo e a inovação.

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Acostumados a estudar apenas para passar em concursos, como o vestibular ou o Enem, muitos jovens de ensino médio colocam como teto de conhecimento adquirir estratégias para responder rapidamente certas perguntas e respostas. Em muitos, a preocupação é apenas entender um mecanismo de prova. O choque ocorre quando chegam a um bom curso de ensino superior e percebem que, para sobreviver no mercado, precisam desenvolver habilidades bem diferentes que já deveriam ter sido adquiridas no passado.

“O estudante vislumbra o que faltou, conhecimento básico e estímulo, o que deixou de ter na educação básica, e é tanta coisa que tem de correr atrás que fica perdido e desanimado”, afirma André Vidal Pérez, professor de Administração da FGV. “São falhas simples. Como posso ensinar a teoria geral da administração, por exemplo, se os alunos nem sabem o que foi a revolução industrial? É chocante, mas isso acontece. Nesse quadro, é preciso mais esforço do professor para estimular outro comportamento no aluno”.

Se esse estudante tem a sorte de cursar uma das universidades de excelência no Brasil, com aulas de reforço – e estímulos para os seus brios, como a existência de empresas juniores e agências de inovação –, ou é esforçado, é capaz de superar o prejuízo. Outro elemento a considerar é que apenas 7% dos cursos do país são consideradas pelo MEC de alta ou excelente qualidade (têm nota 4 e 5 no Índice Geral de Cursos), o que significa que o restante cobre o básico para conceder diplomas. O resultado dessa equação – baixa formação na educação básica, instituições de ensino superior pouco qualificadas e alunos sem motor próprio para correr atrás do prejuízo – é a graduação, ano a ano, de profissionais não preparados para transformar o país.

“Na nossa cultura, o jovem não é estimulado a ter uma postura pró-ativa. O resultado são profissionais acostumados a resolver problemas, mas isso é pouco. É preciso ser capaz de perceber situações que a princípio não parecem ser um problema, mas em que se pode ter uma iniciativa para fazer melhor. Isso, infelizmente, não é comum no brasileiro.”

Elenice NovakDiretora da Agência de Inovação da UFPR

São uma horda de “empregados”, não no sentido de serem funcionários ao invés de empreendedores, mas no fato de que são incapazes de fazer diferença no seu posto de trabalho (seja como proprietários, servidores públicos ou assalariados). São pessoas capazes de resolver problemas, mas que se atêm ao histórico do seu cargo, sem otimizar processos, sem melhorar sistemas. A boa notícia é que, felizmente, há muitos pontos fora da curva desse quadro de insuficiência no país e, além disso, algumas instituições de ensino médio e superior correm contra o tempo para chegar antes e fazer dos estudantes de graduação profissionais que façam diferença no mercado.

Focos de luz

Escolas de ensino médio espalhadas pelo país, com o apoio e incentivo dos pais, começam a sair do modelo de preparar apenas para o vestibular. Ainda que esse movimento esteja longe do ideal, como é possível perceber nos resultados dos estudantes nas avaliações de qualidade de ensino nacionais e internacionais, há iniciativas de sucesso em diferentes regiões do país.

No caso do ensino superior, há mais ou menos quinze anos, as universidades de referência no Brasil aceleraram um movimento por empreendedorismo e inovação. Com ele, multiplicaram-se as empresas juniores, as agências de inovação e os ecossistemas em tecnologia.

“Em alguns cursos os alunos passam a ver matérias de empreendedorismo no sexto ou sétimo período e se queixam de não ter ouvido esses conceitos antes, mas isso é um processo normal de amadurecimento para quem não foi introduzido a esse tipo de pensamento antes”, avalia o professor Gilberto Branco, diretor da agência de inovação da UTFPR. “Aos poucos os estudantes começam a ter mais lógica, deixam de lamentar as oportunidades perdidas e partem para conquistar as oportunidades futuras”.

Jovens precisam de pais presentes e colégios inovadores

Jovens de todo o mundo aproveitam a escola para vender produtos e conseguir dinheiro. Até aí, nenhuma novidade. O diferencial de Luiza Helena Pichelli Nemetz, de 14 anos, que comercializa “alfajores” no seu colégio, o Sesi Internacional, é o modo profissional aplicado no empreendimento. “Aproveitei aulas de educação financeira que tivemos na escola e a ajuda dos meus pais para fazer as contas direito”, conta Luiza.

A diferença pode parecer pequena, mas é, nada mais nada menos, o que faz um negócio na vida adulta ser bem-sucedido ou não. Profissionalização, iniciativa, coragem, metas. E Luiza está tendo cedo a chance de agir dessa forma, com a experiência de acertos e erros, o que a distinguirá de outro profissional do futuro sem a mesma experiência.

No caso de Luiza, vários fatores afluem para que ela saia do sofá para ir atrás dos seus objetivos – no caso, conseguir dinheiro para o intercâmbio –, com uma postura de excelência. Primeiro, contar com pais entusiasmados que investem tempo na sua formação e até a ajudam na confecção dos doces. Depois, a sorte de estudar em um ambiente em que é estimulada a participar de inúmeros desafios de inovação, com oficinas tecnológicas, aulas de robótica, além das tradicionais aulas do currículo do ensino médio em tempo integral e bilíngue.

Enquanto em outros colégios o foco principal está em preparar os estudantes para passar no vestibular, no Sesi Internacional esse objetivo ocupa apenas 50% das aulas. “Queremos preparar os alunos para a vida, convencidos de que o estudante é o autor do próprio conhecimento”, afirma Pammella Kawase, orientadora pedagógica da instituição.

Fazer de estudantes de 14 e 15 anos pessoas capazes de transformar a sociedade é uma meta alta, difícil de alcançar, mas não impossível. É necessário criar um ambiente sem pacto com a mediocridade, que ao mesmo tempo seja atraente e faça dos grandes sonhos metas possíveis. Mas essa tarefa passa primeiro pela batalha na qualidade no ensino, que no Brasil deixa muito a desejar, também na rede privada. Dados da última edição do Pisa, exame internacional que avalia a qualidade de educação em dezenas de países, mostrou que 25% dos jovens de 15 anos da elite brasileira, com as melhores notas, têm as piores avaliações se comparados com os 25% mais pobres da média das outras nações.

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