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Julia Ferreira, 14 anos,  foi diagnosticada com déficit de atenção. Com atendimentos psicológicos semanais, ela está indo bem na escola e já desenvolveu o hábito da leitura. | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Julia Ferreira, 14 anos, foi diagnosticada com déficit de atenção. Com atendimentos psicológicos semanais, ela está indo bem na escola e já desenvolveu o hábito da leitura.| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Escrever bem é passar uma mensagem com eficiência a alguém. Por mais óbvio que isso pareça, não é assim que aprendemos a produzir textos. Nas fórmulas prontas – como o combo introdução, desenvolvimento e conclusão – o que deveria ser um movimento natural acaba se perdendo. A culpa, dizem os especialistas, é da escola.

Primeiro porque os estudantes no Brasil demoram muito para começar a escrever seus primeiros textos – e o fazem com pouca frequência. Depois, os resultados são ruins porque muitos professores não estão preparados para ensinar.

“A escola não encontrou ainda como ensinar a escrever simplesmente porque muitas vezes o professor que ensina não é leitor nem escritor”, afirma Sandra Bozza professora da pós-graduação de Alfabetização e Letramento da Universidade Positivo. “As produções de texto são feitas sem um interlocutor, não escrevemos para sermos lidos, mas pela avaliação”, lamenta.

Essa dificuldade em escrever tem início já na alfabetização e vai sendo carregada ao longo dos anos até chegar ao ensino médio, quando vem ao desafio das redações do Enem e do vestibular.

O problema, segundo o ex-professor de cursinho Clayton Dick, fundador da plataforma Redação Nota 1000, é agravado se o estudante vem de uma família que não estimula as competências de leitura e escrita. “Não adianta um pai falar para o filho que ler é importante. É preciso ir além, discutir o que leu, comentar, ler também, e passar essa cultura. A família estimula a competência da escrita se tem esse exercício de refletir e de se comunicar textualmente”, diz.

Ler é fundamental

O incentivo à leitura e à escrita deve ocorrer o quanto antes. “A criança interage e aprende pelas sensações e vínculos desde a tenra idade. É importante ter a hora do conto, visitas a bibliotecas, museus e livrarias, assistir peças de teatro, noticiários e compartilhar ideias e opiniões. Assim se desenvolve um bom conteúdo, para se expressar em uma redação com coerência e estilo próprio”, afirma a psicopedagoga Susane Völker Agostinho, especialista em Neuropsicologia e Aprendizagem e em Educação Especial.

Quem que não tem o hábito da leitura terá dificuldades para formar e exprimir opiniões. “A falsa impressão de que é difícil escrever vem geralmente da ausência de um repertório de ideias, que só se conquista por meio da leitura e da reflexão”, diz Mara Solange Guedes Campos, assessora pedagógica de Língua Portuguesa e Oficina de Leitura e Redação do Colégio Positivo.

Nesse sentido, o professor e pesquisador Casemiro Campos, doutor em educação da UFCe, lembra que ler e escrever bem tem grande repercussão em todas as disciplinas do currículo escolar. “Em todas as matérias o aluno precisa ler e interpretar, não só nas áreas de humanas”, lembra. “Para facilitar esse exercício e avançar é necessário uma escola que tenha uma pedagogia voltada ao ler por prazer, não por obrigação”, ressalta.

Leia uma série de dicas para desenvolver o repertório e escrever boas redações

Apoio especial

Crianças e jovens com necessidades educacionais especiais podem, com algum apoio diferenciado, aprender a ter uma boa redação. É o caso de Julia Ferreira, 14 anos, que foi diagnosticada com déficit de atenção, e tem atendimentos semanais com a psicopedagoga Susane Völker Agostinho. A mãe de Júlia, Suellen Regina Ferreira, conta que a filha tinha muita dificuldade para sentar e se concentrar antes de escrever e até de fazer qualquer lição de casa e estudar. “Agora com os atendimentos e a medicação, ela está mais concentrada, teve diferença nas notas e na autoestima também”, conta. Segundo Susane, Julia também adquiriu o hábito da leitura, o que faz toda a diferença na hora da produção de texto e nas demais disciplinas também. Crianças diagnosticadas com dificuldade no processamento auditivo central, dislexia e autismo podem ter mais dificuldade na produção textual e interpretação de textos, nesses casos o apoio especializado pode ser fundamental para o bom desempenho escolar.

Uma boa ferramenta

Lançada há dois anos, a plataforma focada no desenvolvimento da escrita Redação Nota 1000 já atendeu mais de 40 mil alunos de 240 escolas brasileiras. Com um banco com mais de 40 temas, a ferramenta reúne professores de redação e avaliadores do Enem para a correção a distância de redações de estudantes a partir do 5º ano do ensino fundamental. Segundo o Clayton Dick, alunos que produzem ao menos dez textos pela plataforma já conseguem evoluir ao menos 250 pontos na escala do Enem (que vai até mil pontos). “Os que se engajam mais, fazem 15, 20 textos ao longo do ano, claramente se destacam no exame. É praticando que se ganha musculatura e os alunos então chegam confiantes na prova”, afirma.

Mesmo quem não está em uma escola que tem contratada a plataforma Redação Nota 1000 pode se desenvolver bem na redação, segundo Clayton. A dica é escrever bastante, e submeter os textos para avaliações de professores experientes, aproveitando as dicas para compreender e trabalhar os pontos que precisam ser desenvolvidos.

Dicas

Quem acha que tem muita dificuldade para produzir um bom texto, pode se acalmar. Levantamos diversas dicas para que sua mensagem chegue com qualidade, seja na redação do ensino fundamental, ou na produção para a prova de um concurso:

  • Pais podem auxiliar explicando o conteúdo de diferentes textos e notícias para os filhos, estimulando-os a fazer uma releitura dos fatos por meio do desenho ou da escrita, dependendo da idade e fase de aprendizagem da criança.
  • Ler para a criança em seus primeiros anos de vida é fundamental, pois antes de ela começar a decodificar as palavras, já pode ir estimulando a criatividade, juntando informações e elementos para a narrativa e isso fica “guardado” para o momento que terá de usar esses elementos na sua própria produção.
  • Ter a habilidade de fazer a leitura de imagens é fundamental. Segundo o psicopedagogo Luiz Paulo Moura Soares, interpretar e descrever símbolos, ícones e figuras ajudam no exercício de reflexão e compreensão do contexto. Depois, ao passar para a produção de textos, pode ser trabalhado o resumo, pequenos textos de opinião e a sequência de histórias pré-definidas.
  • A dica vale tanto para a produção de texto como para o momento de estudo e lição de casa. Buscar um local silencioso e livre de distrações maiores ajuda na concentração, o que vai acabar refletindo no resultado da produção de texto. Ler e reler também é importante, assim como refazer trechos que estejam confusos ou “perdidos” no meio do texto.
  • Na hora de passar uma mensagem coerente, entra em jogo a sequência lógica. Desde pequenas as crianças podem ser estimuladas com a leitura e produção de histórias em quadrinhos, como os da Turma da Mônica ou com o uso de softwares educativos.
  • Fatores que comprometem qualquer tipo de produção de texto, erros ortográficos e de pontuação precisam ser apontados para serem corrigidos. Uma forma de avançar é a leitura de livros, jornais e revistas.
  • Adolescentes precisam se sentir atraídos pelos temas para que possam ter prazer de ler e escrever. Por isso o uso da tecnologia pode ser um bom chamariz. Incentivar a escrita em blogs e redes sociais e até de um diário é válido, pois assim a escrita será ou para um público consumidor daquela informação, ou para um registro.
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