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O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) em discurso em que chamou novamente o ministro Sergio Moro de “juiz ladrão”.
O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) em discurso em que chamou novamente o ministro Sergio Moro de “juiz ladrão”.| Foto: Reprodução / YouTube

Em meio a grande euforia, desorganização, camisetas vermelhas, gritos de “Lula Livre”, “Marielle Vive”, “Foi Golpe”, entre outros, o evento #MoroMente reuniu servidores públicos, lideranças intelectuais, parlamentares e poucos estudantes no salão nobre da Faculdade de Direito da Universidade Federal Fluminense (UFF), nesta segunda-feira (23), às 19 horas. Cerca de trezentas pessoas participaram do evento. Curiosamente, o número dos presentes acima de 25 anos era superior ao número de estudantes em idade de graduar-se (entre 18 e 24 anos). O clima era de militância.

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No salão decorado com duas grandes faixas em que Sérgio Moro, ministro da Justiça e Segurança Pública, aparece com um enorme nariz de Pinóquio, os oradores visavam desprestigiar a Operação Lava Jato – que teve, entre outras consequências, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – e derrubar o pacote anticrime apresentado pelo governo. A crítica à medida foi resumida na “carta de princípios” lida pela professora Gisele Cittadino, da entidade esquerdista Associação Brasileira de Juízes pela Democracia (ABJD).

Segundo o documento, o pacote elaborado por Sérgio Moro permite a “truculência da polícia” e o “uso de violência extrema contra a população civil”. Moro ainda foi acusado de “centralizar processos”, “costurar um conluio entre o sistema judiciário e o ministério público” e de “desestabilizar o país com a Lava Jato”.

Para a professora e outros oradores, o ministro da Justiça premeditou a prisão de Lula fazendo uso da Operação Lava Jato de forma autoritária e seletiva para que Bolsonaro vencesse as eleições. Outras acusações pesaram contra o ministro como: “enganar o povo através do uso pervertido do direito” e “sobrepor-se à lei em nome de interesses pessoais”.

Em geral, palavras fortes e acusações graves compunham a fala dos oradores. Momento alto do ato foi a participação do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), o mesmo que chamou Sérgio Moro de “juiz ladrão” em audiência no Congresso Nacional, em julho. Mesmo sofrendo processo no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara, o parlamentar repetiu o xingamento puxando um coro entre o público e afirmou que “quem fala a verdade não merece castigo”.

Mas, para os que acompanharam ao vivo o ato, era evidente que seu objetivo não era apenas esse.  A reunião continha uma miscelânea de pautas contrárias ao governo de Jair Bolsonaro e a sua base de apoio. Adesivos eram distribuídos com os motes: “Todos contra a Reforma da Previdência”, “Todas contra o Machismo”, “LGBTIfobia não”, “Em defesa das cotas raciais”, entre outros.

Panfletos assinados pelo sindicato dos Docentes da UFF (ADUFF-SSind) convocavam uma sessão plenária para a deliberação de uma greve nacional, em outubro, para repudiar o programa “Future-se” proposto pelo Ministério da Educação.

Segundo o sindicato, a “parceria com a iniciativa privada é maléfica à universidade” à medida que significa “a ruína do patrimônio público e o pacto com interesses privados e pró-Estados Unidos”.

O jornalista Glenn Greenwald também foi lembrado como ícone da liberdade de imprensa ao divulgar informações de hackers sobre a Lava Jato no site The Intercept.

Ágatha Felix

Não por acaso, o ato Anti-Moro, em Niterói, aconteceu quase que concomitantemente a outro ato político ocorrido na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), em protesto contra o assassinato da menina Ágatha Felix resultante do confronte entre policiais e traficantes. Na ocasião, a OAB-RJ denunciou o governador Wilson Witzel ao Ministério Público culpando-o indiretamente pela morte da menina. Talíria Petrone (PSOL) enfatizou a relação entre os dois eventos. Para a deputada, as ações de Moro chancelam ações policiais truculentas promovidas por Witzel.

Wilson Madeira Filho, diretor da faculdade também foi presença marcante no ato. No ano passado, ele havia autorizado a colocação da faixa “UFF Antifascista” na entrada do prédio do curso de Direito e, dessa vez, fez questão de salientar que atos políticos e partidários devem sim ocorrer no interior da universidade desde que sejam “democráticos”.

Como um dos autores do mandado de segurança que garantiu a realização do evento na universidade, criticou o reitor por ter acatado pedido de cancelamento emitido pelo Ministério da Educação. Vale lembrar que uma decisão judicial emitida às 14 horas de ontem, a pedido do próprio Wilson Madeira e da ABJD, garantiram a realização do ato “Moro Mente” dentro da universidade pública.

Estiveram no local, além dos nomes citados, os presidentes regionais do PDT, PSOL, PC do B, PT, a vereadora Verônica Lima (PT-Niterói), representantes da OAB-RJ, o presidente do DCE-UFF, além de líderes sindicais de diversas categorias profissionais.

A ABJD lançou a “Campanha Moro Mente” pela primeira vez em evento no dia 19 de agosto, na Faculdade de Direito da USP, e o repetiu no dia 17 de setembro, na UnB. A associação pretende continuar a replicar o evento em outras universidades do Brasil.

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