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Crise de abastecimento em Caracas, capital da Venezuela: professores não conseguem se deslocar para as universidades todos os dias. | LUIS CAMACHO
Crise de abastecimento em Caracas, capital da Venezuela: professores não conseguem se deslocar para as universidades todos os dias.| Foto: LUIS CAMACHO

A crise econômica e social na Venezuela afeta também as universidades do país: com altos índices de evasão de alunos e professores, instituições começam a mudar suas rotinas. E ameaçam fechar as portas. 

A Universidade de Zulia (LUZ) é um bom retrato do que está ocorrendo em outras instituições de ensino do país. Os dias letivos foram alterados para se adequar à dificuldade dos estudantes de irem para as aulas: a jornada acadêmica foi reduzida para apenas três dias semanais.

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“Trabalhamos todos os dias, mas nos organizamos para que cada professor, aluno e funcionário venha apenas três vezes por semana”, diz Judith Aular, reitora encarregada da LUZ. 

O impacto da crise é especialmente cruel para os professores: além de não terem dinheiro para se deslocar até a universidade todos os dias, foi necessário suspender o regime de exclusividade para que eles pudessem se dedicar a outras formas de trabalho. 

“Permitimos agora aos docentes buscar outra fonte de renda: com o que ganham atualmente eles não podem manter a família”, completa Judith. 

Agravantes 

São vários os motivos pelos quais as entidades de ensino superior estão parando. A escassez de alimentos é um deles. Com produtos limitados nos mercados estatais, professores e estudantes passam dias inteiros nas filas para conseguir suprimentos, sem conseguir fazer outra coisa. 

Além do baixo poder de compra dos venezuelanos, faltam alimentos básicos nas gondolas dos supermercados. Uma pesquisa feita pela Universidad Católica Andrés Bello mostra que 89,4% da população da Venezuela tem renda familiar insuficiente para comprar mantimentos. 

Outro motivo para o esvaziamento das universidades é a migração da população. A empresa de análises Consultoria 21 estima que mais de 4 milhões de habitantes deixaram a Venezuela, número maior do que a população de alguns dos principais estados do país. 

Na Universidade do Oriente, desde 2016, a evasão atingiu 40% dos alunos. Além disso, ao menos 25% dos professores abandonaram os postos de trabalho, aponta um relatório da empresa. 

A ameaça de paralisação, porém, não é novidade: no começo do ano letivo de 2016, as instituições de ensino chegaram a iniciar uma greve para cobrar liberação de verbas que estavam atrasadas. 

Na ocasião, a Associação Venezuelana de Reitores Universitários anunciou suspender suas atividades após quatro meses de problemas orçamentários; a greve que começou em setembro de 2015 e continuou até janeiro de 2016 protestava contra baixos salários, orçamento deficitário e, sobretudo, intervenção governamental nas universidades. 

Presente 

No começo de maio, 11 das principais universidades públicas venezuelanas paralisaram as atividades por 12 horas. A manifestação foi convocada pela Federação dos Professores Universitários pedindo pagamento de 50% do aumento salarial aprovado pelo legislativo no mês anterior. 

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“A greve foi aprovada pela maioria das associações de professores de 11 universidades do país, entre as quais se destacam a Universidade Central da Venezuela, a Universidade dos Andes, a Universidade Simón Bolívar e a Universidade do Oriente”, diz Victor Márquez, presidente da Associação de Professores da UCV (Universidade Central da Venezuela). 

“Não é uma atividade de massa, o objetivo é tentar conscientizar sobre as condições de vida do professor universitário, que se deterioraram”, completa Márquez. 

As manifestações também chegam aos discentes: desde o início de maio, estudantes da Universidade dos Andes (ULA) protestaram contra a falta de materiais nos laboratórios da instituição; os alunos do curso de Farmácia e Bioanálise criticavam a falta de matérias-primas e o uso de reatores vencidos nos laboratórios. 

Repercussão internacional 

A precariedade das universidades foi tema da conferência Scholars At Risk, na Universidade Livre de Berlim, no último mês de abril. No evento, mais de 400 acadêmicos criticaram a situação das instituições venezuelanas. 

“Na conferência, que tem como objetivo denunciar e tornar visíveis os ataques às universidades, pudemos divulgar a grave crise universitária que vivemos na Venezuela”, diz Mayda Hočevar, diretora do Observatório de Direitos Humanos da Universidade dos Andes, em comunicado. 

“Expusemos a desvalorização sofrida pelo salário do professor universitário venezuelano, que é o pior pago do mundo, porque seu salário não chega a 5 dólares (aproximadamente R$18). Um fato que faz com que na Universidade dos Andes, por exemplo, o índice de êxodo de professores chegue em 35%, enquanto o de alunos está na casa de 65%”, conclui.

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