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Instituições de ensino superior não foram criadas para oferecer credenciais que podem aumentar o potencial de renda e o status do estudante. | UBC Learning Commons.
Instituições de ensino superior não foram criadas para oferecer credenciais que podem aumentar o potencial de renda e o status do estudante.| Foto: UBC Learning Commons.

A disciplina mais popular em Yale também está sendo descrita como a disciplina mais difícil na universidade. Ainda assim, sua professora é relaxada ao verificar que os trabalhos foram feitos e incentiva alunos a adotarem a avaliação baseada apenas em aprovação/reprovação, sem notas específicas. 

Bem vindo a Felicidade 101. 

Cerca de 1.200 estudantes de Yale, ou um quarto do corpo discente, estão matriculados na disciplina da professora Laurie Santos, na verdade chamada PSYC 157, ou “Psicologia e a Vida Boa”. Essa é não apenas a disciplina mais popular hoje, mas também a mais popular nos 316 anos de história de Yale. 

O objetivo de Santos é oferecer um antídoto ao que parece ser uma epidemia de transtornos psíquicos relacionados a estresse, e ela tem homólogos em outras faculdades. 

A disciplina é “um pedido de ajuda”, de acordo com um estudante de Yale. Por todos os lados, o frenesi da competição entre jovens de alto desempenho é mais intenso do que nunca: desde o ensino fundamental, ou até antes, os estudantes estão desesperados para superar seus colegas na próxima fase da corrida: primeiro é entrar em uma faculdade de elite, depois é ter pontuação perfeita nas provas e então conseguir estágios que levam a primeiros empregos incríveis, a uma admissão em uma pós-graduação ou formação profissional de renome. 

Os estudantes parecem estar mais estressados do que nunca: mais de metade dos graduandos em Yale buscaram aconselhamento relacionado a saúde mental, de acordo com uma pesquisa em 2013.

Um levantamento nacional feito quatro anos antes revelou que 84% se sentiram sobrecarregados de modo geral e um quarto dos estudantes estavam tão deprimidos que disseram ser difícil se manter funcionais. Isso ocorreu mesmo com as universidades buscando proteger os estudantes, por exemplo, atribuindo notas a eles com maior indulgência. 

“Em muitos departamentos agora são usadas apenas três notas: A, A- e B+”, apontou uma pesquisa de Yale em 2013; em outras épocas, apenas cerca de 10% dos estudantes recebiam notas A ou A-. 

O volume de tarefas também mudou drasticamente: os estudantes podem ler menos e assistir mais televisão (as disciplinas abertas neste semestre incluem “TV e Cinema Escandinavo”, “Trauma na TV e Cinema Americano” e “Hollywood na Era Digital”). 

Provavelmente, o objetivo final de passar por todos esses mecanismos de classificação é uma vida boa – felicidade. Mas pesquisadores como Santos descobriram que há pouca correlação entre a felicidade de uma pessoa e sua capacidade de ter sucesso em competições acirradas. É como se os estudantes de Yale estivessem seguindo obsessivamente todos os passos em uma caça ao tesouro incrivelmente complicada apenas para no final acabar encontrando um baú cheio de cartas de Pokémon e obras de Thomas Kinkade. 

Se os anos na faculdade deveriam ensinar alguma coisa aos jovens, é a verdade dura de que nós somos notoriamente ruins em prever o que nos fará felizes. 

Na última década, conforme Santos disse ao New York Times, o campo crescente da pesquisa em felicidade revelou que “as nossas intuições sobre o que nos fará felizes, como ganhar na loteria ou conseguir uma nota boa, estão totalmente erradas”. 

Se você estudou em Yale, ou uma instituição similar, você provavelmente conhece pessoas que se empurraram obsessivamente para cursos de Direito de elite, conseguiram empregos em escritórios de advocacia de elite – e então descobriram que não queriam ser advogados. 

Mas nesse ponto eles já estavam presos a dívidas altas que só poderiam ser pagas com um salário de advogado.  

É sério, eu trabalhei em um escritório de advocacia. Todos os advogados odiavam suas vidas. Não se torne um advogado. 

Estudantes obcecados por dados se interessarão em saber que há um acúmulo contínuo de evidências de que, por exemplo, se sentir profundamente conectado a outras pessoas por meio de amizades próximas e profundas é mais importante do que o salário quando falamos de bem estar. E que atos de caridade são melhores para você do que conseguir um estágio disputado. 

A compreensão de Santos do que é a universidade está deliciosamente desalinhada com a nossa época. Um estudante da faculdade residencial que ela dirige disse ao Yale Daily News: 

Às vezes, se um cachorro muito legal está no jardim, Diretora Santos nos manda um email sobre isso e todos podemos ir brincar com ele. Isso aconteceu uma vez e foi, sinceramente, o cachorro mais fofo que já toquei em toda a minha vida, e apesar de estar me sentindo bem antes, me senti um milhão de vezes melhor depois. 

A disciplina de Santos é um retorno a um ideal esquecido. Yale e instituições de ensino superior similares não foram criadas para oferecer credenciais que podem aumentar o potencial de renda e o status de estudantes. Elas enfatizavam a fé (Yale foi fundada por ministros congregacionais) e as humanidades com o objetivo de transformar seus estudantes em adultos atenciosos, educados, equilibrados e preocupados com a comunidade. 

Se o que antes era chamado de uma gratidão alegre pela sensação do sublime no homem agora é reformulado como o que Santos chama de Projeto se Hackeie”, que assim seja. 

*Kyle Smith é crítico no National Review.

©2018 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

Tradução: Andressa Muniz.

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