Se uma ideia legislativa (IL) pretende eliminar os cursos de ciências humanas das universidades públicas com o objetivo de enfatizar “cursos de linha”, como medicina, direito e engenharias”, outra iniciativa está em votação para defender a continuidade da oferta destes cursos nas instituições públicas.
A proposta de Acsa da Costa Silva argumenta que "optar por estudar em universidades públicas ou privadas deve ser uma escolha do cidadão". O texto aponta ainda que retirá-los das universidades públicas obrigaria uma parcela dos estudantes a migrar para instituições privadas e poderia prejudicar o acesso à educação.
"O país precisa de mais acesso igualitário à educação em todos os níveis de ensino", destaca.
A ideia já conseguiu mais de 35 mil assinaturas. Já a iniciativa que propõe a exclusão dos cursos conseguiu até aqui aproximadamente 6 mil assinaturas. São necessários no mínimo 20 mil apoios para que uma ideia legislativa seja levada para discussão no Senado.
Discussão
“São cursos baratos que facilmente poderão ser realizados em universidades privadas”, diz a proposta que defende a retirada dos cursos. “Os cursos de humanas poderão ser realizados presencialmente e à distância em qualquer outra instituição paga”, completa.
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A ideia legislativa foi apresentada por Thiago Turetti e pretende retirar das universidades públicas brasileiras cursos como Filosofia, História, Geografia, Sociologia, Artes e Artes Cênicas.
“Não é adequado usar dinheiro público e espaço direcionado a esses cursos, o país precisa de mais médicos e cientistas. Cursos de humanas poderão ser feitos nas instituições privadas”, diz.
Polêmica
A proposta gerou controvérsia por selecionar áreas específicas de conhecimento como prioritárias. Para o professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Geraldo Balduino Horn, a proposta pode ter apoio popular devido ao modo como a natureza dos cursos de humanas é compreendida fora dos espaços acadêmicos.
“Por natureza, esses cursos trabalham com objetos que tem a ver com a organização social e humana, e acabam por produzir uma perspectiva crítica da própria sociedade. E sem dúvida, esse é o papel dessas ciências: cursos de humanas são tão importantes quanto outros cursos”, destaca.
“Qualquer tentativa de querer obstruir a instituição superior de ofertar o curso é, por princípio, um absurdo constitucional. Uma ideia dessas afronta o princípio da liberdade de organização das instituições em relação ao conhecimento que ela oferta”, completa.
Histórico
Uma medida similar foi instituída pelo governo do Japão em 2015. Com o objetivo de eliminar custos e enfatizar o desenvolvimento tecnológico, o Ministro da Educação do Japão, Hakubun Shimomura, publicou uma nota oficial pelo fim dos cursos de ciências humanas nas universidades do país.
“Em vez de aprofundar pesquisas acadêmicas que são altamente teóricas, vamos conduzir uma educação mais prática e vocacional, que antecipa melhor as demandas da sociedade”, declarou primeiro-ministro na época.
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Em dois anos, mais de 20 universidades japonesas anunciaram cortes nos seus departamentos de ciências humanas e sociais. Em 2017, pelo menos 17 universidades aboliram os processos seletivos de alunos para os cursos de ciências humanas e sociais, de acordo com uma pesquisa realizada pelo jornal japonês The Yomiuri Shimbun.
Pilar
Por outro lado, as ciências humanas e sociais são parte fundamental das universidades. A universidade de Bolonha, a primeira a ser criada, foi fundada em 1088 por professores de gramática, retórica e lógica que pretendiam se dedicar ao estudo do Direito.
No século 18, nos Estados Unidos, a Universidade da Pensilvânia foi a primeira do país a se proclamar como tal. E, até hoje, a instituição fundada por Benjamin Franklin exibe em seu selo a herança das disciplinas clássicas: Teologia, Astronomia, Filosofia, Matemática, Lógica, Retórica e Gramática.
“A filosofia oferece conhecimentos não negligenciáveis, principalmente para as perguntas do sentido da vida, das razões últimas ou primeiras. Mas também para quem se preocupa pelos aspectos mais práticos da vida, ela não é desprezível, porque aumenta a cultura e desenvolve a argumentação”, disse Raúl Enrique Rojo, sociólogo e docente do programa de pós- graduação Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em entrevista recente à Gazeta do Povo.
Do mesmo modo, a formação humana não se limita a campos de conhecimento. Para Daniel Medeiros, doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor de História no Curso Positivo, o aspecto humano é parte da educação.
“Uma formação é sempre humana. É humana porque implica diálogo, confronto, consenso”, aponta.
“A violência nas escolas, a evasão, não são somente números. São apelos para uma escola mais humanizada, mais próxima, mais democrática, mais aberta. Quem propõe algo assim - parafraseando a letra do samba - só pode ser ‘ruim da cabeça ou cheio de má fé’”, conclui.
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