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Na imagem, a fonoaudióloga Sueh Loren Vieira faz exercícios de estímulo da fala | Henry Milleo/Gazeta
Na imagem, a fonoaudióloga Sueh Loren Vieira faz exercícios de estímulo da fala| Foto: Henry Milleo/Gazeta

A postura tímida e os problemas de fala nas crianças podem esconder transtornos que comprometem o desenvolvimento. Como a linguagem tem influência direta na capacidade de reter conhecimento, na aprendizagem da escrita e na leitura, é preciso ficar atento. Confira como auxiliar seus filhos e saiba identificar qualquer sinal de que algo não anda bem:

Primeiro ano

Nessa fase, o choro é o principal meio de comunicação. Com o passar dos meses, vão surgindo sons guturais e movimentos corporais realizados de forma involuntária. Conforme a criança vai reconhecendo seu corpo, os processos neurais vão amadurecendo. Próximo dos seis meses, o bebê já está acostumado com o som das vozes das pessoas de maior convívio e começa a procurar a fonte dos sons ou a reagir com atenção a eles. Com maior controle motor e percepção corporal, os sons vão sendo reproduzidos ou para ouvir a própria voz ou para obter reações daqueles que estão a sua volta. Iniciam balbucios de sons como o “p”, “b”, “g” e “k” e posteriormente associando esses sons às vogais (“gugugaga”, “dadada”). Reações emocionais ou de interesse da criança se tornam cada vez mais adequadas ao contexto, o que pode ser notado com a presença de risos, gargalhadas, choro e gritinhos, conforme o que ouve ou vê a sua volta. Observa com atenção os objetos e acontecimentos do ambiente. Passa a falar as primeiras palavras e a usar mudanças de entonação vocal.

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Cada faixa etária é trabalhada de maneira diferente. Além de exercícios, as crianças aprendem a unir o raciocínio com a fala.

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O que fazer: Converse durante o banho, durante a alimentação, enquanto o veste. Fale o que está fazendo, onde está indo, o que fará quando chegar a algum lugar e quem e o que verão. Tire um tempo a cada dia para interagir exclusivamente com o bebê, sem a influência de distrações como rádio, televisões ou tablets. Brinquedos que emitam sons ou que brilhem são de grande interesse do bebê e devem ser utilizados para mediação do contato, com estímulos sensoriais como massagens, cócegas e beijos. Busque estar sempre no campo de visão do bebê durante essas interações; use e abuse de entonações vocais e emissão de sons de objetos e animais. Boa época para trabalhar vocabulários.

O que evitar: Sons muito altos e contínuos próximos do bebê e períodos prolongados sem estimulação e interação. Evite se antecipar: é comum ao menor gesto do bebê os pais já atenderem ao pedido rapidamente,“adivinhando”. Mas ele precisa começar a se esforçar para se fazer entender.

Atenção: Se o bebê não reage a sons, não sorri e não estabelece contato visual (especialmente durante as mamadas), relate esses sinais ao pediatra. Podem ser pedidos exames complementares.

1 a 2 anos

A criança começa a compreender palavras com sentido abstrato (algumas emoções, “obrigado”, “por favor”, “espera”) e reage adequadamente as situações chegando até a simular sentimentos para conseguir o que quer. Em alguns casos já compreendem o que as pessoas esperam dela pelo tom de voz e expressão corporal e facial daquele com quem está interagindo. No início, pode usar de 20 a 30 palavras e as repete, dando início à formação de frases simples. Compreende mais de 50 palavras e identifica objetos comuns e partes do corpo. O uso de onomatopeias e a imitação dos sons de objetos também se tornam mais recorrentes. Faz variação na entonação vocal, na postura corporal e expressão facial de acordo com o contexto do que esta falando. Já próximo do segundo ano, caminha para um vocabulário de cerca de 100 palavras, formando frases com duas ou três delas. A fala, na maior parte das vezes, é ininteligível, difícil de entender. Passa a usar a oralidade não somente para pedir ou nomear, mas também para compartilhar interesses. Tenta cantar ou cantarolar quando ouve uma música que goste, reage ao ver que esta passando seu desenho favorito em uma televisão próxima ou ao ver uma pessoa ou lugar que queira. Demonstra conhecer alguns conceitos de tamanho, distância, cores e formas. Compreende ordens com dois comandos, por exemplo: “Coloque o copo na caixa”.

O que fazer: Leia para seu filho descrevendo as imagens do livro e crie um jogo de achar objetos perdidos. Use o interesse pela música e desenhos para auxiliar a criança a perceber o outro, fazendo e respondendo a perguntas. Assistam a animações juntos, expresse emoções com os personagens, faça suposições sobre o que pode acontecer a seguir e compartilhe interesses por características do local em que os personagens estão e das roupas ou objetos que usam. Com a música cante junto, faça coreografias que usem figuras ou brinquedos que remetam a palavras que estão sendo cantadas. Use a contagem para regular a espera (um, dois, três e já). Dê repertório de palavras para a criança, nomeando objetos, ações e situações a sua volta. Use boa fala que seja clara e simples para seu filho utilizar como modelo.

O que evitar: Ambientes muito rígidos e sem espaço para a criança se expressar podem influenciar negativamente o desenvolvimento da fala. Além de cuidar com a falta de estimulação e interação, ainda deve-se evitar se antecipar quando a criança quer comunicar algo. Uso de chupeta e mamadeira podem trazer problemas, fique alerta para alterações na arcada dentária ou projeção da língua ao falar.

Atenção: Não reage a estímulos, não usa palavras isoladas, não está ganhando vocabulário. Neste momento, além de relatar ao pediatra, é importante buscar um fonoaudiólogo que possa avaliar a criança e orientar a família.

2 a 3 anos

Usa cerca de 500 palavras e frases simples, fazendo perguntas do tipo “sim” e “não”. Pode apresentar uma gagueira natural e suas frases vão aos poucos ficando maiores, agregando o uso de artigos, verbos, preposições, plurais e verbos auxiliares, inicialmente de forma assistemática e posteriormente sistemática. Apresenta um bom conhecimento de verbos, respondendo adequadamente quando é solicitado a realizar diversas ações (comer, andar, correr, pegar) em diferentes contextos. Tenta reproduzir em objetos ritmos de sons e músicas e conhece diversas cores.

O que fazer: Converse com a criança perguntando como foi seu dia e descreva situações do cotidiano. Repita o que o seu filho diz indicando que você entendeu. Mantenha uma conversa sobre um mesmo assunto por mais tempo do que o habitual, conte sobre seu dia e histórias para que a criança tenha cada vez mais contato com discursos longos e complexos. Durante as leituras, faça perguntas para criança sobre o que aconteceu anteriormente e suposições sobre o que poderá ocorrer nas próximas paginas; use entonação vocal diferente para cada personagem.

O que evitar: Em momentos de gagueira, evite completar frases, tirar sarro ou apressar a criança, mostrando impaciência.

Atenção: Assim como na fase anterior, se a criança não compreende instruções simples e tem vocabulário reduzido, ou se tiver apresentado alguma regressão convém uma avaliação fonoaudiológica ou até psicoterapêutica para acompanhamento. Crianças que sofrem traumas ou que têm autismo podem apresentar regressões.

3 a 4 anos

Nessa fase a criança já usa cerca de 800 palavras, mas pode articular os sons “s”, “z”, “j”, “ch” incorretamente. Demonstra conhecer conceitos como duro, mole, macio, azedo, doce, frio e calor. Começa então a ter diálogos e pensamentos que envolvam raciocínios de tempo e a fazer suposições e argumentações de acordo com a situação e o contexto em que se encontra, como: “E se eu mexer no fogo? Mas por que você deixou no outro dia?”. Já entende e tenta replicar ironias e piadas. Inicia discurso em todos os contextos, seja para solicitar algo, para mostrar ou contar algo que viu ou simplesmente para realizar trocas sociais.

O que fazer: A criança já inventa histórias, compreende regras e jogos simples. Aproveite para estimular essa interação e capriche nas brincadeiras de faz de conta. Continue estimulando a conversação, servindo de modelo.

O que evitar: Não deixar a criança muito tempo sem estímulo, em frente à televisão ou com tablets e celulares. Evite sempre que possível fazer outras atividades enquanto fala com a criança, encorajando que ela faça contato visual ao conversar. A presença de fala ‘infantilizada’, gagueira funcional e dificuldades em estruturar discursos ainda podem estar sendo trabalhadas pela criança e não devem ser reprimidas pelos pais, que precisam ter paciência.

Atenção: Se a criança utiliza discursos que ninguém compreende, usa mais gestos do que palavras e não adquiriu ainda todos os fonemas ou realiza trocas dos mesmos, é preciso buscar avaliação e atendimento fonoaudiológico.

Acima de 4 anos

Com vocabulário ampliado, a criança tem fala adequada e correta, sendo capaz de pronunciar melhor as palavras e relacioná-las bem. Apresenta também competências adequadas de escrita. Nesta fase, gosta de inventar histórias, é capaz de descrever melhor acontecimentos passados e usa a linguagem para o raciocínio. Compreende mais de 2,5 mil palavras, conhece opostos e já mantém mais a atenção.

O que fazer: Estimule jogos e brincadeiras com outras crianças. Mostre tempo e disponibilidade para ouvir a criança e deixá-la falar. Converse sobre conceitos abstratos (duro, mole) e jogue o jogo do ‘sim-não’, com perguntas como: “Você é um menino?, Você está com fome?” e outros que estimulam esse diálogo. Incentive a criança a interagir e a fazer perguntas e fornecer respostas. Incentive leitura e escrita e o uso de conceitos como sinonímia (palavras que apresentam significados iguais ou semelhantes, por exemplo: bondoso- caridoso) e antonímia (palavras que apresentam significados diferente, contrários, por exemplo: bondoso – maldoso).

O que evitar: Em momentos de gagueira não complete as frases e palavras para a criança; não apresse a fala ou tire sarro quando a criança falar, ler ou escrever errado. É importante continuar caprichando nos estímulos para que tenham discursos argumentativos, respeitando a opinião do outro e ajudando a entender versões diferentes. Se ela disser que não gosta de peixe, por exemplo, pergunte o motivo, se é pelo cheiro, pelo gosto, pela aparência ou por não gostar de experimentar novas coisas. Não fale no diminutivo, evitando também cochichar ou gritar.

Atenção: A criança precisa de atendimento especializado se não consegue descrever acontecimentos, troca sons, não articula corretamente ou não faz perguntas, não reconhece letras, as palavras ou usa frases sem coerência ou lógica e se tem algum tipo de gagueira.

Fonte: Redação com fonoaudiólogas Amanda Gans e Sueh Loren Vieira

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