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soluções de outros países para a educação em tempos de isolamento
Criança estudando: países buscam alternativas não apenas para solucionar a educação de alunos, mas também para auxiliar os pais, os professores e as escolas.| Foto: Pixabay

A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) divulgou em 3 de março sua primeira estimativa a respeito do número de escolas fechadas no mundo em consequência da pandemia. Concluiu que 13 países haviam tomado alguma iniciativa nessa direção, com 290,5 milhões de estudantes impactados. Em 19 de março, já eram 102 países e 850 milhões de estudantes mantidos em casa.

Em meados de abril, mais de 1,7 bilhão de alunos, o equivalente a cerca de 90% do total de estudantes do mundo inteiro, estavam em casa. Ao todo, 156 países adotaram medidas de restrição total ao acesso às escolas.

“Essa mudança veio sem aviso, do dia para a noite”, afirma Rebeca Otero, coordenadora de educação da Unesco no Brasil. “As escolas foram pegas de surpresa.” Cada um desses locais começou a buscar, imediatamente, soluções para lidar com a questão: como garantir o acesso à educação (e, no caso das crianças menores, à alimentação) em tempos de pandemia?

“Essa situação apresenta oportunidades para aprender”, diz Claudia Costin, professora visitante na Faculdade de Educação de Harvard e diretora-geral do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro. “A humanidade aprendeu muito com as crises.”

Algumas nações encontraram formas criativas de amenizar o impacto da pandemia sobre a educação. Conheça agora seis dessas iniciativas.

1. Atender aos filhos dos trabalhadores essenciais

A Finlândia seguiu a tendência global de fechar escolas. Mas abriu uma exceção: manteve parte dos centros de educação infantil e ensino básico abertos para atender exclusivamente aos filhos dos profissionais de setores que não podem se manter em casa durante a quarentena, como os trabalhadores das áreas de saúde e do transporte público.

2. Distribuir comida para as famílias

Em todos os continentes, crianças de baixa renda dependem das instituições de ensino para receber alimentação balanceada – só nos Estados Unidos, são 30 milhões de jovens cuja dieta é construída basicamente dentro das cozinhas e cantinas escolares.

Para lidar com esse problema, a comunidade autônoma da Catalunha, na Espanha, emitiu para as famílias dos alunos um cartão de crédito aceito em qualquer estabelecimento que sirva comida. Já as escolas do Japão passaram a abrir apenas no horário de almoço, para atender às famílias mais pobres, enquanto que as instituições de ensino da Califórnia instituíram a entrega de comida por delivery.

Muitos estados brasileiros também se mobilizaram para garantir a alimentação das crianças: alguns, como Rio de Janeiro, Goiás e São Paulo, estão distribuindo vales para ajudar na compra de alimentos, enquanto que Sergipe e Paraná distribuem leite e alimentos não perecíveis e o Distrito Federal lança mão de um cartão de crédito.

“Muitas famílias dependem da alimentação escolar”, diz Rebeca Otero, da Unesco. “É muito importante as escolas encontrarem formas de garantir a distribuição de alimentos, são crianças que correm o risco de ficar desnutridas”.

3. Diversificar a educação a distância

Nem todos os estudantes têm acesso a computadores para estudar em casa – em muitas famílias, os pais precisam de equipamentos para continuar trabalhando, o que gera uma competição dentro de casa pelos aparelhos. Para garantir o acesso amplo ao conteúdo educativo, a China, assim como a Mongólia, a Bulgária e o Vietnã, priorizaram o desenvolvimento de conteúdos que pudessem ser acessados a partir de smartphones – e também passaram a disponibilizar aulas pela televisão.

No Líbano, na França e em Portugal, parte dos estudantes recebeu conteúdo impresso em casa. Em Nova York, onde 300 mil alunos não têm acesso domiciliar a internet e computadores, a prefeitura criou um programa para fornecer computadores portáveis e roteadores wi-fi.

“O uso de TV, rádio e conteúdos impressos vem sendo muito comum, mesmo em países desenvolvidos, porque o ensino a distância demanda equipamentos e internet estável”, diz Claudia Costin. “Em Serra Negra do Norte (RN), os professores estão dando aula através do rádio. É um instrumento poderoso, que já foi usado para educação em campos de refugiados e para alfabetizar meninas no Afeganistão.”

4. Treinar professores

Para nações em que o acesso à tecnologia é amplamente disseminado, a preocupação maior foi em auxiliar os professores não adaptados às ferramentas de ensino a distância – Singapura e Emirados Árabes Unidos, por exemplo, desenvolveram cursos rápidos voltados para esses docentes.

O Chile também desenvolveu webinars específicos para os professores. Por sua vez, editoras de livros didáticos da Austrália e da Nova Zelândia liberaram o acesso online gratuito a suas obras. Na Polônia, o centro de cultura digital Cyfrowe criou uma linha direta para tirar dúvidas de educadores menos habituados a acessar conteúdos pela internet.

5. Dar suporte às famílias

Do ponto de vista dos familiares que passaram a ter as crianças em casa o dia inteiro, esse período se aproxima de um homeschooling forçado.

Pensando assim, o governo da Guatemala passou a produzir conteúdo voltado para pais, avôs e cuidadores de crianças em geral, para que eles possam colaborar com a manutenção do ensino durante o período de quarentena.

O Canadá criou atendimentos para alunos que apresentem sinais de problemas emocionais e mentais – a prefeitura de São Paulo desenvolveu programa semelhante.

“No caso da educação básica, o ensino remoto deve ser utilizada com um objetivo mais de engajamento do que de substituição da educação formal presencial”, diz Rebeca Otero. “É importante que a escola não exija demais dos pais, que muitas vezes estão pressionados pela queda na renda ou por casos de Covid-19 na família. Os pais têm vivenciado um momento diferente em suas vidas e precisam conciliar outras atividades, no meio de uma quarentena.”

6. Preparar o retorno

Em muitos locais, as escolas estão voltando a funcionar. Claudia Costin explica que esse retorno tem se dado de forma gradual. “Em geral, as aulas não têm voltado ao mesmo tempo. Portugal e Alemanha, por exemplo, começaram pelos alunos mais velhos, porque é mais fácil eles aderirem a comportamentos seguros de distanciamento social, especialmente no recreio. E também para garantir a preparação para os exames de admissão para o ensino superior”.

Para garantir que os estudantes não fiquem próximos demais dentro de sala de aula, a Alemanha instituiu um sistema de rodízio, conciliando o ensino presencial e a distância e monitorando os sintomas dos estudantes.

As creches permanecem fechadas na maior parte dos países. “A proporção de adultos é muito elevada e o contato físico, entre as crianças e com os cuidadores, é muito próximo”, explica Claudia.

Ela lembra de outro ponto importante: a busca por alunos adolescentes que não retornarem aos estudos. “A análise de grandes catástrofes, como furacões e tsunamis, em que os alunos ficam muito tempo sem ir à escola e a família perde fonte de renda, indica que os alunos perdem vínculo com a escola e ainda por cima são pressionados a buscar trabalho para reforçar a renda familiar. Convencer esses alunos a voltar aos bancos escolares é um desafio”, destaca Claudia.

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