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UFG é premiada por realizar testes farmacêuticos sem a necessidade de cobaias
| Foto: Divulgação UFG

Um dos maiores desafios das indústrias farmacêutica e de cosméticos é o desenvolvimento de tecnologias que permitam a realização de testes de novos produtos sem o uso de animais. Novas regulações impostas pelos países - e também recomendadas pela Organização Mundial de Saúde - têm aumentado a necessidade de inovação nesse campo.

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Na Universidade Federal de Goiás, um laboratório se tornou referência no assunto. O Tox In, criado em 2004, permite a realização de testes com alto grau de confiabilidade sem a necessidade de cobaias.

O laboratório também serve como referência para pesquisas nacionais e internacionais que pretendam seguir os novos parâmetros estabelecidos pelos órgãos de regulação.

“Temos atendido a necessidade do Brasil e dos países da América do Sul nas mudanças das práticas de ensino, pesquisa e atividades regulatórias por meio da capacitação de recursos humanos”, explica a professora Marize Valadares, idealizadora do laboratório.

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No ano passado, trabalho desenvolvido no Tox In gerou reconhecimento internacional: o laboratório recebeu o prêmio Lush, concedido na Inglaterra a organizações que colaboram com a substituição de animais em testes científicos. Na premiação, o Tox In superou dois competidores da Holanda, um da China e um no Japão.

O prêmio reconheceu os esforços da equipe na “disseminação de métodos alternativos no Brasil e na América do Sul” para a “criação de uma rede multiprofissional para educação e treinamento”.

Hoje, as atividades estão a cargo de cinco alunos de graduação, quatro mestrandos e cinco doutorandos.

Um dos projetos desenvolvidos no laboratório foi o desenvolvimento de modelos “biomiméticos” (artificiais) de córneas, para avaliar a toxicidade de produtos farmacêuticos. Em vez de usar órgãos de animais - ou de cadáveres humanos - a pesquisa se valeu de substâncias que imitam a composição da córnea.

"Receita e prestígio"

Os benefícios desse método vão muito além do bem-estar animal: dali podem surgir técnicas inovadoras que gerem receitas econômicas para o país e prestígio acadêmico para a universidade. Mais do que isso: “As novas tecnologias garantem resultados confiáveis e de relevância para a saúde humana, uma vez que o homem não é um camundongo de 70 quilos”, afirma Marize.

Além do reconhecimento, o prêmio obtido na Inglaterra foi importante para a continuidade dos trabalhos do laboratório, já que o Tox In foi contemplado com 50 mil libras (cerca de 255 mil reais). Problema: até agora o laboratório não pôde usar um centavo sequer. A burocracia excessiva que vigora nas universidades federais ainda impede o uso dos recursos.

“Hoje este recurso compreende 100% da verba que o laboratório que coordeno dispõe para manter as atividades do grupo”, diz a professora. Ou seja: enquanto o dinheiro não for liberado, as atividades ficam seriamente prejudicadas.

Ao longo de sua existência, o laboratório já obteve financiamento de órgãos federais, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), estaduais e de empresas privadas, por meio de parcerias firmadas com empresas - a indústria farmacêutica é um dos setores mais importantes da economia de Goiás.

Além do prêmio Lush, o laboratório acumula 21 distinções nacionais e internacionais. A equipe já produziu cerca de 100 artigos científicos e atuou para a obtenção de dez patentes.

No Brasil, entretanto, a inovação tem um custo alto. As atividades do Tox In dependem de produtos importados, que chegam ao país com um preço elevado. A liberação desses itens na alfândega é um processo complexo, que pode levar meses. Pior: por causa do armazenamento inadequado, por vezes os itens são inutilizados antes mesmo de chegarem ao laboratório.

“Precisamos de uma renovação do arcabouço legal brasileiro que trata desses assuntos para que problemas do tipo não sejam empecilhos no processo de inovação tecnológica brasileiro”, pede a professora. Ela diz que, se nada mudar, as consequências serão desastrosas: “Tenho verificado uma perda dos jovens pesquisadores brasileiros para outras nações”.

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