Um outro lado da inclusão em sala: aluno desmotivado e professor desamparado
- [27/10/2019] [22:16]

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Para 86% da população brasileira, as escolas regulares se tornam ambientes melhores ao incluírem em suas atividades crianças com deficiência. E quase 80% concordam que alunos com sérias limitações aprendem mais estudando com crianças chamadas "regulares". É o que assegura o instituto de pesquisa Datafolha, ao analisar "o que a população brasileira pensa" sobre este modelo de educação.
Sob outra perspectiva, 30% dos entrevistados entendem que a presença de crianças com deficiência em escolas regulares atrasa o aprendizado dos outros alunos; 67% concordam que os professores não têm formação necessária para ensinar crianças com essas limitações e 40% afirmam que é melhor para alunos com deficiência estudar em escolas que só tenham crianças do mesmo perfil. Além disso, o índice de pais que temem que seus filhos sofram preconceito na escola, pelas limitações, é próximo de 90%.
Embora os números revelem uma expectativa consideravelmente positiva da população sobre a educação inclusiva, ocultam aspectos que, na verdade, parecem permanentemente relegados. E querer falar sobre essas questões, muitas vezes, pode aparentar preconceito ou uma tentativa de suprimir a voz dos que levantam a bandeira da inclusão.
Mesmo assim, um artigo publicado em 2018, "Has inclusion gone too far? Weighing its effects on students with disabilities, their peers, and teachers", de Alisson Gilmour, professora na Temple University, na Filadélfia, arrisca tocar na ferida. Com base em pesquisas científicas realizadas em salas de aula nos Estados Unidos, Gilmour afirma corajosamente que a inclusão nem sempre é de todo proveitosa.
As evidências científicas apontam que, na verdade, muitas vezes a diversidade em sala tem efeitos colaterais indesejados: "deixar para trás" alunos com deficiência, atrasar seu progresso e desmotivá-los, aumentar o risco de exposição ao bullying e abandonar professores ao "desamparo" por não estarem preparados para lidar com alunos tão diferentes em uma mesma sala de aula. Alunos regulares que estudam em classes inclusivas, além disso, podem ter seu desempenho afetado – sem benefícios para o aluno incluído.
"Atraso"
Segundo Alisson, a inclusão se generalizou, em diversos países, sem dispor de uma sólida base de evidências que apoiem sua eficácia. E os escassos estudos que existem sobre o tema, afirma ela, ao mesmo tempo que contêm falhas metodológicas, admitem que professores não têm preparo para lidar com alunos regulares junto a outros que possuem limitações físicas, mentais, intelectuais ou sensoriais.
No levantamento, Alisson utiliza, por exemplo, dados de Lynn Fuchs, psicóloga educacional conhecida por pesquisas sobre práticas e avaliações instrucionais. Segundo o levantamento de Fuchs, muitos alunos com deficiência não têm capacidade de avançar com o "padrão" escolar, mesmo se tiverem professores preparados, acomodações e apoio.
Tendo em conta a realidade do "chão da escola" onde nem sempre o cenário é o ideal - professores, por exemplo, não têm formação na área de educação especial e há falta de monitores para ajudá-los - esse resultado pode ser ainda pior.
No estudo "Intensive Intervention for Students with Mathematics Disabilities: Seven Principles of Effective Practice", também citado por Alisson, Fuchs e outros autores revelam que o aprendizado em matemática de alunos com deficiência em classes regulares é menor se comparado ao aproveitamento desses mesmos estudantes em aulas especiais, organizadas só para eles.
Dessa forma, estudantes com limitações em salas de aula regulares acabam ficando "muito para trás". Nos Estados Unidos, dois pesquisadores, Doug Fuchs e Joe Wehby, estimaram que alunos com deficiência alcançam resultados 1,2 vez mais baixos em leitura do que seus colegas "regulares", o que significaria uma atraso de três anos.
Outro pesquisador, elencado por Alisson, Jason Fletcher, descobriu, por meio de pesquisas empíricas, que ter um colega de classe com deficiências, como transtorno comportamental, afeta o desempenho dos alunos chamados "regulares". "Há uma redução de 0,09 no desvio padrão nas pontuações de matemática e 0,13 desvio padrão nas pontuações de leitura dos alunos", diz Fletcher.
"Michael Gottfried e colegas relataram que os alunos sem deficiência que tinham um colega de classe com transtorno tinha 1,42 vez mais probabilidade de estarem cronicamente ausentes do que aqueles que não tinham tal colega de classe (...) Gottfried também descobriu que não apenas os alunos com transtorno, mas também os alunos sem deficiência eram classificados pelos professores como tendo mais problemas de comportamento, níveis mais baixos de autocontrole e menores habilidades interpessoais quando estavam em salas de aula com alunos com deficientes", continua o artigo de Alisson.
Professores
Nos Estados Unidos, analisando dados escolares da Carolina do Norte, Alisson descobriu que as chances de rotatividade (mudar de escola, sala ou deixar a profissão) de professores nesse estado norte-americano aumentava de acordo com o número de alunos com deficiência em salas regulares.
"Professores em classes nas quais 20% dos alunos tinham transtornos de comportamento eram 2,15% mais propensos a deixar a escola ou o ensino", afirma a pesquisadora. A inclusão, neste caso, parece ser uma "sobrecarga".
Há também outro fator importante citado por Alisson: professores que dão aulas para alunos "regulares" e com deficiência na mesma sala acabam gastando menos tempo ensinando conteúdo e mais tempo "gerenciando a sala". Foi o que descobriu North Cooc, pesquisador na Universidade de Harvard.
Comentários [ 13 ]
Nilson Bispo de Jesus
± 0 minutos
Não é segregação, mas a verdade! Um jovem de 16 anos, cego, está com o aprendizado atrasado, deprimido, chegando a tomar atitudes perigosas, quebrou a tela do laptop que usa com a cabeça, por stress. Alguns professores desdenham (não estudaram pra isso), outros tentam dar atenção e um chega às vias da tortura psicológica (o garoto chora). Minha filha era colega dele e viu. Mas como denunciar? Provavelmente, seria vista como segregadora! Penso que os professores não são capacitados, não ensinam bem e não conseguem ao menos comunicar-se direito com crianças cegas, surdas e etc. O que a cientista citada falou aconteceu.
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Carlos Sousa
± 2 horas
Custo acreditar que em pleno 2019 ainda existam pessoas em paises ocidentais que defendem esse tipo de segregação. Jamais alunos com deficiências físicas serão motivo para atraso dos outros alunos. Estudantes com alterações cognitivas podem prejudicar o transcorrer normal das aulas em função de seu possível comportamento agitado, porem, alunos que apresentam tão somente alguma limitação física podem perfeitamente conviver, e estudar, junto aos ditos normais. Sou cadeirante, em 1977 aos 7 anos de idade comecei a estudar em uma escola "normal" onde eu era o único diferente dentre mais de 40 alunos "normais". Nos anos seguintes a situação se repetiu e sempre tive bom aproveitamento escolar.
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Carlos Sousa
± 2 horas
Apenas completando já que o sistema permite apenas 700 caracteres. Além de eu sempre ter tido bons resultados em minha vida escolar, estudando junto aos "normais", meus relacionamentos com os demais estudantes sempre foi normal. Nunca fui menosprezado ou super estimado em função de minha condição física. E, tenho certeza, jamais fui fator de atraso para qualquer um de meus colegas de classe.
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Lucio Fabis
± 7 horas
As pesquisas utilizadas para este artigo são todas realizadas em lugares específicos dos Estados Unidos, o que por si só já deveria ser motivo para não se tirarem conclusões precipitadas. Existem muitos outros artigos dos próprios EUA que dizem o contrário ou consideram as duas situações (https://files.eric.ed.gov/fulltext/EJ1055208.pdf). Além disso, se pautam somente em um desempenho específico, quantitativo, localizado temporalmente e impessoal. Como essas crianças com escolarização exclusivamente especial viverão fora destas? Sem contato com as deficiências como as outras crianças aprenderão a lidar com elas? Por que então não se investe mais na escola pública e seus profissionais?
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CRISTIANO ARAUJO
± 8 dias
Eu fico imaginando que tem de ter uma pesquisa das "galáxias" para constatar algo que qualquer professor, com o mínimo de percepção, que trabalha em salas de aulas com crianças especiais sabe. Conseguem imaginar uma criança autista num ambiente que é totalmente "estranho" e "agressivo" aos sentidos delas? Muitos pais não encaram a realidade e também tem muitos que querem colocar o filho em qualquer lugar pois isso é como um período de descanso para eles. A maioria dos municípios não têm locais estruturados e próprios para atender todas as crianças especiais, mas todos têm escolas comuns por isso que é mais fácil lutar pela inclusão nelas.
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Wagner
± 8 dias
Com ou sem inclusão nossos professores hoje gastam mais tempo tentando gerenciar o ambiente de sala de aula do que apresentando de forma eficiente os conteúdos das disciplinas. Se sem a inclusão já é difícil com a falta de educação que os alunos já vem de casa, com a inclusão então não faço idéia, isso funcionaria se em cada sala de aula tivssemos dois profissionais: Um para ensinar e outro para cuidar. Coisas que podem até funcionar em países de primeiro mundo e que tentam importar para a nossa realidade sem nenhuma adaptação. Coitado dos professores...
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Jorge Dias
± 8 dias
Eh óbvio que alunos "com limitações" não soh não conseguem ser verdadeiramente "incluídos" no ritmo da turma, como também atrasam o desenvolvimento natural da turma, justamente para evitar está situação MALÉFICA para todos, eh que alunos com "limitações" deveriam estudar em escolas preparadas DE VERDADE para atender a eles com a atenção que merecem; MAS a pedabobogia atual inspirada em PAULINHO Freire, e o ESTADO querendo economizar nas escolas preparadas para alunos "com limitações" jogaram eles em salas comuns, dando um tratamento comum para quem merece mais atenção. Isso eh óbvio, eh o que a pesquisa mostra, mas tem gente "com muitas limitações" que não quer entender
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Carlos Sousa
± 2 horas
Vc, sr jorge é uma pessoa completamente limitada. Limitada cognitivamente, limitada emocionalmente, limitada espiritualmente. Qual condição empírica vc tem para fazer afirmações tão "contundentes"? Alunos autistas são um caso a parte, lógica que necessitam de tratamento diferenciado, mas querer segregar alunos com deficiência física é um absurdo, coisa medieval. Falando nisso evolua muito para chegar a idade medieval.
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John Winston Lennon
± 8 dias
A RPC , mesmo sendo o panfleto fascista que é , deveria ter VERGONHA de publicar um artigo desse nível ! é sórdido ! É Nojento ! É revoltante ! ******** ! Vcs não serão esquecidos !
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Mirtão
± 8 dias
Jorge Dias: KKK pensei a mesma coisa. Acho que saiu do coma depois da derrota dos peteba. KKKKKKKKKKKKKK
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Mirtão
± 8 dias
Pensei que este 3057a tava na Venezuela. Ou que tivesse cometido suicídio. KKKKKKKKKKKKKKKK
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Jorge Dias
± 8 dias
Opa. Nosso espantalho voltou.
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Adriano
± 8 dias
Você leu? É uma pesquisa
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