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Assim como Gustavo, muitos vestibas sonham em seguir  a carreira de professor | Dino Pezzole
Assim como Gustavo, muitos vestibas sonham em seguir a carreira de professor| Foto: Dino Pezzole

Para seguir a carreira, é necessário ter talento

Para o professor Luís Fernando Cordeiro, a docência foi um caminho natural, que começou no ensino médio. A história dele é parecida com a de Kaike, o estudante que aparece no primeiro parágrafo da reportagem. "No primeiro ano eu ensinava os colegas e a escola ficou sabendo. Quando eu estava no terceiro ano e faltavam professores nas turmas de sétima e oitava série, o colégio me pagava para dar aulas", conta.

Formada em Pedagogia em 1990, Aidyl Pessoa de Mello, 43 anos, também começou a dar aulas muito antes de pegar o diploma. Hoje ela trabalha como pedagoga em uma escola de ensino profissionalizante, mas não abre mão da sala de aula, embora o primeiro emprego pague melhor. Aidyl dá aulas para crianças de 4.ª série na Escola Municipal Presidente Pedrosa, em Curitiba.

"Como professora, é como se você ganhasse um jardim todo ano e ele tivesse de florescer. E fazer o jardim florescer é muito gratificante", afirma.

Por causa da falta de profissionais, há bacharéis trabalhando como professores na educação básica. Vale lembrar, porém, que a legislação exige a licenciatura.

  • Kaike se espelha no professor Luiz Carlos Ulaf e sonha em ser professor de Física
  • Aidyl é pedagoga, mas não abre mão de dar aulas para as crianças

Tudo começou no ano passado, com a tentativa de ajudar alguns colegas de escola que haviam ficado de recuperação. Então na 8.ª série, Kaike de Siqueira Rosa, 15 anos, se ofereceu para dar aulas de reforço para os amigos. Resultado: os estudantes passaram de ano e Kaike descobriu que queria ser professor de Física. Ele ainda está no primeiro ano do ensino médio, mas em novembro vai prestar vestibular para a Uni­­versidade Federal do Paraná (UFPR) como treineiro. "Estou decidido. Desde a quinta série tenho vontade de dar aulas", afirma.

Kaike diz que se espelhou no professor Luiz Carlos Ulaf, 50 anos, do Curso e Colégio Unificado. "Gosto bastante das aulas dele. Conversamos sempre sobre os professores da Federal e sobre as matérias da faculdade", conta o estudante, que se persistir no sonho entrará para uma lista que hoje é bastante restrita. "Temos falta de professores no Brasil, principalmente de Física, Matemática e Química. Por isso os sistemas de ensino acabam incorporando alunos ainda em formação", afirma Andréa Barbosa Gouveia, professora do Setor de Educação da UFPR.

A afirmação bate com o panorama do vestibular da Federal, o maior do Paraná. Das 92 opções ofertadas no processo seletivo do ano passado, a licenciatura em Física aparece na 86.ª posição no ranking de concorrência dos cursos. A licenciatura em Matemática ocupa o 68.º lugar e a de Química está na 58.ª colocação. Além da baixa procura, há muitas desistências durante a graduação. "Na minha turma do curso de Física, começaram 110 alunos e se formaram três. Quem faz Física ou Matemática jamais ficará desempregado", afirma o professor Ulaf.

Tá certo, há vagas de sobra. Mas e o salário, é mesmo tão baixo quanto dizem? Para Ulaf, há um mito de que todo professor ganha mal. Ele afirma que grandes escolas particulares pagam bem seus professores de ensino médio e cursinho. Por outro lado, o também professor de Física, Luís Fer­nando Cordeiro, do Curso Positivo, diz que há muitos casos de desvalorização salarial, o que afasta os jovens dos cursos de licenciatura. "Lembro que um dia fui parado por excesso de velocidade por um policial rodoviário. Ao pegar meus documentos, ele perguntou a minha profissão. Quando eu disse que era professor, ele se virou para o colega e falou: ‘Coitado, esse é sofredor.’ E me mandou ir embora", lembra. "Eu não me vejo fazendo outra coisa, mas quem não tem esse desejo lá de dentro, não se anima", avalia.

Os obstáculos não desestimulam o estudante Gustavo Fernan­des dos Santos, 17 anos, que vai prestar vestibular para o curso de licenciatura em História. Ele conta que a família não reagiu muito bem à sua escolha, justamente pela questão salarial. "Minha mãe é formada em Pedagogia e já deu aulas. Ela sabe que o professor tem salário inferior ao que merece", diz.

Quanto ganha um professor?

A realidade salarial dos professores varia muito de acordo com a região do país, a rede de ensino e o tamanho das escolas (no caso dos colégios particulares). Em geral, a remuneração aumenta junto com as etapas de ensino. Os menores salários estão na educação infantil e os maiores, no ensino superior.

Os salários também dependem do tamanho do município. Um concurso público aberto neste ano pela prefeitura de Curitiba para professores de educação infantil e das séries iniciais do ensino fundamental prevê salário inicial de pouco mais de R$ 1 mil, para 20 horas semanais de trabalho. Em Guarapuava, a remuneração é de R$ 950, para 40 horas por semana.

Segundo a professora Andréa Barbosa Gouveia, é comum os professores acumularem duas ou até três jornadas de trabalho. Quando dava aulas para crianças na rede municipal de Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba, Fabiana Palioto, 31 anos, cumpria dois contratos de 20 horas semanais. "Passei em dois concursos públicos para professora, um para o período da tarde e outro para o da manhã", conta ela, que fez magistério e licenciatura em Artes Visuais. Hoje, Fabiana tem um cargo administrativo na Secretaria de Educação do município.

Na rede particular de Curitiba, os grandes cursinhos pagam cerca de R$ 2,5 mil para 20 aulas semanais, de acordo com o professor Luiz Carlos Ulaf. Na rede pública, há bons salários nas escolas federais. Um concurso aberto neste ano pelo Instituto Federal do Paraná para professores de ensino básico, técnico e tecnológico prevê remuneração total de R$ 2.757,64 para 40 horas semanais de trabalho, valor que pode dobrar se o profissional tiver doutorado.

Saiba quais são os cursos que formam professores:

Pedagogia

Quem quer dar aulas para a educação infantil (creche e pré-escola) e para as quatro primeiras séries do ensino fundamental deve estudar Pedagogia. O curso forma professores generalistas, ou seja, professores que ensinam conteúdos básicos de várias disciplinas, como Português, Matemática e História.

O curso também permite que profissional trabalhe como orientador educacional ou supervisionando a atuação dos professores. Mas é preciso ficar atento, pois algumas graduações oferecem habilitações específicas.

O curso a distância ofertado pela UFPR, por exemplo, forma apenas professores.

Licenciaturas específicas

Os cursos de licenciatura permitem que o profissional dê aulas de uma disciplina específica para estudantes do ensino médio e de 5ª a 8ª série do ensino fundamental (ou 6º ao 9º ano do ensino fundamental de nove anos).

Curso normal de nível médio

Também conhecido como magistério, é um curso profissionalizante de ensino médio que forma professores da educação infantil à 4ª série do ensino fundamental. Segundo a professora Andréa Barbosa Gouveia, da UFPR, a legislação ainda permite a atuação de professores com magistério, embora nas capitais e nos grandes centros os concursos públicos admitam apenas profissionais com formação superior.

Curso normal superior

Também forma professores de educação infantil e de 1ª a 4ª série. Diferentemente do curso de Pedagogia, não prepara o profissional para trabalhar com administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação educacional. "Quando esse curso foi autorizado, a ideia era separar a formação do bacharel em Pedagogia, que pesquisaria sobre educação, daquele profissional que seria só professor. Hoje o curso normal superior está enfraquecido. Para entrar em concursos, é mais garantido fazer Pedagogia", afirma Andréa.

Ensino superior

Pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, os professores universitários devem ter pós-graduação, de preferência mestrado ou doutorado. Não é preciso ter feito licenciatura. Nas regiões Sul e Sudeste, as universidades públicas normalmente exigem professores doutores.

Você também sonha em ser professor? Tem preferência por alguma área ou nível de ensino? Comente!

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