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Daniela Araújo Teixeira Leite, 25 anos, estudante de Medicina da Universidade Positivo | Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
Daniela Araújo Teixeira Leite, 25 anos, estudante de Medicina da Universidade Positivo| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo
  • Renata de Resende Gomes, 32 anos, estudante de Direito da Universidade Positivo
  • Bárbara Kosloski, 28 anos, aluna do curso de Comunicação Institucional da Universidade Tecnológica Federal do Paraná
  • Victor Mutim, 21 anos, estudante de Engenharia Elétrica da Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Que os problemas nas duas últimas edições do Enem abalaram a sua credibilidade é impossível negar. Mas também é difícil não admitir que o exame tem papel fundamental no Brasil, tanto para o ensino médio como para a educação superior. "É a oportunidade mais justa para entrar na universidade e melhorar de vida", resume o historiador Alessandro de Barros, 33 anos, que usou a nota do Enem para entrar na faculdade. Assim como ele, milhares de brasileiros tiveram suas vidas transformadas nos últimos anos a partir do exame, criado em 1998 para medir a qualidade do ensino médio. Isso ficou mais nítido a partir de 2005, quando ele assumiu nova função: a nota do exame passou a ser critério para a concessão de bolsas em instituições de ensino superior. Desde o ano passado, substitui, parcial ou integralmente, o vestibular em 84 universidades e institutos federais. Pode ainda ser usado como certificação para conclusão do ensino médio. Conheça as histórias de algumas pessoas que tiveram suas vidas mudadas com a ajuda do Enem:

Encaminhada na vida

Quando fiz o Enem, em 2005, não havia o Prouni. Fiz o teste para ajudar na nota do vestibular das universidades públicas, que levavam em conta no resultado final a pontuação do Enem. Nem imaginava que o Enem iria me ajudar tanto e quase nem fiz a prova, porque, quatro dias antes do teste, minha mãe passou mal e foi para a UTI. Minha família mora no Mato Grosso e eu fazia cursinho em Curitiba. Falei para minha irmã mais velha que precisava ir para casa. Ela disse que era para eu fazer o Enem antes de ir. Consegui me concentrar e fazer uma boa prova. Quando é para ser não tem jeito.

Aquele foi o ano de criação do Prouni, que usa a nota do Enem para distribuição das bolsas. Através do exame é que consegui a bolsa integral para o curso de Medicina da Universidade Positivo. Só errei duas das 63 questões do Enem e fui bem na redação. Acho que o Enem privilegia quem está vendo jornais, lendo revistas e não se mantém só na decoreba. Apesar de os enunciados serem grandes, você tem tempo adequado para ler. É cansativo, mas toda prova é.

Não fiz vestibular para nenhuma universidade privada porque não tinha condição de bancar a mensalidade. Meu curso custa quase R$ 3 mil por mês. Hoje estou no último ano do curso e fazendo prova de residência para Patologia. É isso que eu quero. Estou encaminhada.

O divisor de águas

O Enem foi para mim um divisor de águas. Fiz a prova em 2008, quando estava com 30 anos. Na minha época eram 63 questões e uma redação, tudo num dia só. Eu fiz, fui bem e, na primeira vez que tentei, consegui a bolsa integral do Prouni para cursar Direito na Universidade Positivo.

Jamais teria condições de pagar o curso. Eu trabalhava como operadora de caixa, sempre tive empregos assim, trabalhando de domingo a domingo, trabalhando muito e ganhando pouco. Meu último salário nessa profissão foi de R$ 540. Meu curso custa R$ 800 e pouquinho por mês. Então, se não fosse pelo Prouni, eu jamais teria condições de pagar.

Pela nota que consegui no Enem, de 7,7, conquistei vaga na minha primeira opção. No teste os enunciados são grandes, é uma prova cansativa. Nesse ano eu apliquei o Enem em Araucária e pude confirmar que a prova é exaustiva, mas também é bem elaborada e até acessível, porque é de interpretação, não é tanto de decoreba. Quando eu fiz, tinha parado de estudar há dez anos. Fui para ver o que dava e graças a Deus deu certo.

Agora trabalho na Delegacia de Araucária como secretária. Aprendo de tudo na delegacia, desde a elaboração de Boletim de Ocorrência até auxiliar os escrivães na montagem de inquérito, tudo na área de Direito Penal. É a área que quero seguir e no ano que vem presto concurso para a Polícia Federal.

Prova mais democrática

Não estaria na universidade se não fosse o Enem. Tentei o vestibular na Fuvest e na Universidade Federal do Paraná (UFPR), mas não passei. Teria de esperar mais um ano inteiro para prestar o vestibular novamente. Com o Enem não existe essa pressão, porque com sua nota você pode escolher onde quer cursar e tem mais chances de passar. Além disso, tenho 28 anos e já tinha comigo a exigência de passar no vestibular, o que não é fácil.

Acho que o Enem é mais justo porque avalia o aluno como um todo, sua formação estudantil completa, e não apenas o que se aprende em um cursinho. Algumas instituições têm um vestibular bastante específico, o que acaba desgastando muito os alunos. O estudante precisa estudar focado em diferentes aspectos, porque cada prova acaba cobrando uma coisa diferente. Para o Enem é preciso ter um conhecimento geral de tudo, por isso é uma boa opção de prova para a área de Humanas. Já para a área de Exatas não sei se é o teste ideal. Estar no curso tem sido importante para mim, pois me proporciona um desenvolvimento cultural e social profundo. Antes queria fazer Direito, até passei pelo Enem na Mackenzie (SP), mas desisti porque não queria sair de Curitiba.

De Salvador a Curitiba

Estou em Curitiba desde fevereiro deste ano e não teria vindo para cá se não fosse o Enem. Sai muito caro para um estudante tentar vestibular em lugares longe de casa, a não ser que a prova possa ser feita na cidade em que você mora, como é o caso do sistema que usa as notas do Enem.

Por isso digo que ele acaba beneficiando o intercâmbio estudantil entre os estados. Tenho colegas que são de Rondônia e do Rio de Janeiro. Essa troca cultural na sala de aula promove a interação de vários pontos de vista diferentes, cada um com sua particularidade, proporcionando a pluralidade de ideias. O Enem acabou também com muitos vestibulares tradicionalistas, que faziam uma prova de vestibular com questões regionais que só um aluno que nasceu no Paraná, por exemplo, conseguiria responder.

Passei em Engenharia aqui em Curitiba. Também entrei em uma vaga de Medicina, na terceira chamada, em uma universidade do Nordeste. Mas optei por aqui. Na verdade penso em cursar as duas graduações, porque tenho afinidade com as disciplinas de Exatas e Biológicas. A questão é que não sairia de tão longe para fazer uma prova de vestibular, mas quando soube que passei aqui, resolvi mudar e não me arrependi.

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