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Flávio Sebastião de Freitas teve de fazer alguns sacrifícios para não desistir da bolsa do ProUni e se formar em Jornalismo | Hugo Harada/Gazeta do Povo
Flávio Sebastião de Freitas teve de fazer alguns sacrifícios para não desistir da bolsa do ProUni e se formar em Jornalismo| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Seleção

Inscrições seguem até sexta-feira

Os candidatos a bolsas de estudos do ProUni pré-selecionados na primeira chamada da segunda etapa de inscrições têm até sexta-feira para apresentar os documentos e fazer a matrícula na instituição em que se inscreveram. Segundo o Ministério da Educação, se após essa nova seleção ainda restarem vagas, uma chamada adicional será feita em 13 de março. Ao fim das duas chamadas, os candidatos não pré-selecionados e os pré-selecionados para cursos em que não houve formação de turma constarão de lista de espera, que estará à disposição das instituições de ensino participantes do ProUni a partir de 21 de março. A classificação do candidato considerará a primeira opção de curso. A partir da classificação na lista de espera, as instituições de ensino convocarão os estudantes entre 21 e 25 de março para aferição das informações prestadas na inscrição e matrícula, conforme o cronograma. O resultado da segunda etapa pode ser consultado pelo site http://siteprouni.mec.gov.br

Força de vontade

"Cheguei a passar fome", diz ex-universitário

O jornalista Flávio Sebastião Freitas, 22 anos, está entre os 13.583 formandos do ProUni no Paraná. Mas ele só não ficou no meio do caminho porque teve muita força de vontade. Natural de Lindianópolis, no Centro-Norte do estado, Flávio conta que a família sempre trabalhou na roça e não tinha condições de ajudá-lo com as despesas. "Fui o primeiro da família a entrar numa faculdade e sabia que não podia desperdiçar essa chance."

Durante parte da faculdade, Flávio trabalhou em uma empresa, mas a carga de trabalho comprometia seu desempenho na universidade. "Eu morava no Sítio Cercado, trabalhava em São José dos Pinhais e estudava na [Universidade] Positivo, no Campo Comprido." Ele resolveu então priorizar os estudos e para se manter contava apenas com uma bolsa de estagiário – cerca de R$ 200.

Com esse dinheiro, tinha de pagar aluguel, luz, água, transporte e alimentação. "Cheguei a passar fome." Em 2010, Flávio se formou e hoje é educomunicador da rede Ciranda. "Vejo que todos os sacrifícios foram válidos. Trabalho no que gosto e tenho uma vida bem melhor do que se tivesse permanecido no interior."

Paraná é o 3.º em número de benefícios

O Paraná é o terceiro estado (em números absolutos) onde mais bolsas do ProUni foram concedidas – 67.683. O estado perde apenas para São Paulo e Minas Gerais. A taxa de desligamentos no estado também é alta: fica na casa de um quarto, o que corresponde a 16.841 estudantes desistentes. Entre as instituições que ofertam bolsas do programa, a taxa apontada é menor em pelo menos duas delas que apresentaram dados: Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).

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  • Veja como está a distribuição das bolsas do ProUni no Brasil

Um quarto dos estudantes beneficiados com bolsas do Programa Universidade para Todos deixou o ProUni antes da formatura. Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), em todo o país, 752 mil bolsas (parciais ou totais) foram concedidas desde que o programa foi criado em 2004. Dessas, 420.548 continuam ativas, ou seja, com estudantes matriculados nas faculdades, e 138.368 já se formaram. As demais 193.194 bolsas (25% do total) foram encerradas.Os motivos apontados pelo MEC para os desligamentos são diversos. A evasão aparece como a terceira causa mais comum, responsável pelo abandono de 28.063 estudantes do programa. Entretanto, o MEC não considera como evasão casos em que os bolsistas solicitam o desligamento do ProUni (62.964 estudantes), quando ocorre a inexistência da matrícula (19.981) ou há esgotamento do prazo de utilização da bolsa (9.909). Contudo, todas essas situações levam ao desperdício de dinheiro público.Baixa renda

A maior incidência de desligamentos do ProUni está concentrada na categoria de bolsas parciais, segundo o especialista Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp (sindicato que representa os estabelecimentos privados de ensino de São Paulo). "Ao menos essa foi a realidade verificada nas várias instituições com as quais mantivemos contato. Nessas faculdades na categoria integral, a evasão é baixa. O mesmo não ocorre na parcial, o que prova que esse tipo de subsídio não resolve a situação de alunos com renda muito baixa, como é o caso de quem se qualifica para o ProUni. Em função disso, há universidades que praticamente não oferecem bolsas parciais."

Esse é o caso da Unisul, instituição de ensino superior de Santa Catarina, que conta com 22 mil estudantes nos cursos presenciais, dos quais 2,7 mil são bolsistas do ProUni. O diretor financeiro da universidade, Adriano Dias Souza, informa que 100% dos beneficiados pelo programa na Unisul recebem bolsas integrais. "Isso, certamente, é fundamental para que a nossa taxa de abandono seja baixa. Mas como o estudante de ProUni tem renda bem baixa, há quem saia por não conseguir arcar com gastos de moradia, transporte e alimentação. Para essas pessoas, quando há alguma dificuldade, são atendidas primeiro as necessidades elementares e educação não está nesta lista."

Mesmo entre os alunos que trabalham, Capelato lembra que as dificuldades para complementar a mensalidade são grandes, pois eles têm de pagar uma série de outras despesas. "E os que conseguem um rendimento um pouco melhor acabam perdendo a bolsa, já que o ProUni é para jovens procedentes de famílias com renda per capita de até um salário e meio."

Modelo americanoCapelato defende que, para reduzir a taxa de desligamentos do ProUni, o MEC deveria rever a forma de custeio do ensino superior. O ideal, na visão do especialista, seria seguir o modelo americano, em que, além das bolsas serem integrais, considera-se todos os custos que o aluno terá para estudar, como moradia, transporte, alimentação e material didático. Isso possibilitaria, por exemplo, que estudantes de cidades com poucas opções de ensino superior pudessem buscar alternativas em outros municípios e até estados.

O professor Ocimar Munhoz Alavarse, da Faculdade de Educa­­ção da Universidade de São Paulo (USP), tem opinião semelhante. Ele sabe que o descredenciamento do ProUni está associado a inúmeros fatores, entre eles questões como a escolha errada do curso, ingresso em outra instituição superior e melhoria da condição financeira capaz de fazer com que o aluno saia da condição de bolsista. Na opinião dele, porém, o fator que mais pesa é a falta de condições financeiras para que o estudante se mantenha na faculdade, fator que, no caso específico dos bolsistas do ProUni, tem um peso maior.

"Podemos dizer que o estudante do ProUni é mais sensível às pressões sociais, o que também ocorre com parte dos acadêmicos das universidades públicas. Eles apresentam níveis econômicos mais baixos e por isso só deixar de pagar a mensalidade não é garantia de que ele poderá continuar os estudos. Muitos são arrimos de família ou precisam trabalhar para sobreviver", comenta. Para que a desistência caia, ele defende a adoção de uma política estudantil que contemple as outras necessidades dos estudantes. "E isso não só para bolsista do ProUni, mas também para quem está em universidade pública e enfrenta os mesmos problemas".

Taxa de formandos divide opiniões de especialistas

Embora tenha sido criado em 2004, o ProUni começou a oferecer bolsas no primeiro semestre de 2005. A oferta foi aumentando gradativamente até chegar ao número atual, de 123 mil bolsas. Ao todo, 138 mil estudantes conseguiram o diploma no ensino superior com a ajuda do programa. Em relação ao nú­­mero de formandos, o desempenho do ProUni divide opiniões. O professor Rodrigo Ca­­pelato considera que o total de formandos está dentro do esperado. "Temos que considerar que no começo o ProUni ofereceu poucas vagas."

Já o professor Ocimar Mu­­nhoz Alavarse considera baixa a taxa e defende que o Ministério da Educação faça um levantamento para apurar os motivos para a demora dos estudantes concluírem os cursos. A partir disso, ele diz que o ministério teria condições de definir ações que contribuam para um volume maior de colações de grau. "Estamos falando de dinheiro público e nesse caso toda precaução é válida." Ele acredita que dificuldades financeiras são a causa mais preponderante no atraso em concluir os cursos. "É bom lembrar que boa parte dos nossos universitários já passou da casa dos 25 anos, estando mais sujeito, portanto, às pressões so­­ciais."

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Como deveria ser o modelo de financiamento universitário no Brasil para que mais estudantes conseguissem concluir o ensino superior?

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