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Eduardo Paes (DEM), Marcelo Crivella (Republicanos) e Martha Rocha (PDT) concorrem à prefeitura do Rio de Janeiro
Eduardo Paes (DEM), Marcelo Crivella (Republicanos) e Martha Rocha (PDT) concorrem à prefeitura do Rio de Janeiro| Foto: Reprodução/Facebook e Agência Brasil

Dois nomes bem conhecidos pela população da cidade do Rio de Janeiro largaram na frente na disputa pela prefeitura. O atual mandatário Marcelo Crivella (Republicanos) tenta a reeleição e tem como principal adversário o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), que comandou a cidade entre 2009 e 2017.

Ambos lideram a corrida eleitoral, de acordo com as pesquisas divulgadas até agora. No entanto, uma terceira força pode estar surgindo para embaralhar o cenário eleitoral na capital fluminense: a atual deputada estadual Delegada Martha Rocha (PDT).

Segundo pesquisa divulgada no dia 8 de outubro pelo Datafolha, Paes lidera a disputa com 30% das intenções de voto. Na sequência aparecem Crivella (14%), Martha Rocha (10%) e Benedita da Silva (PT, 8%), os três empatados tecnicamente – a margem de erro da pesquisa é de 3 pontos percentuais.

Já de acordo com o levantamento Exame/Ideia, divulgado em 30 de setembro, a única adversária capaz de desbancar o ex-prefeito em um eventual segundo turno seria a candidata do PDT. No cenário em que os dois se enfrentam, ele soma 39% e ela, 34%, o que caracteriza um empate técnico dentro da margem de erro de 3 pontos percentuais.

Tradição do PDT no Rio pode beneficiar Martha Rocha

“Ela não é uma candidata nova, já é uma parlamentar e uma figura conhecida. Ela representa a candidatura de um partido muito importante e forte no Rio de Janeiro”, avalia o professor da FGV Direito Rio, Michael Mohallem.

Apesar de não colecionar vitórias importantes nos últimos anos, o PDT ainda carrega a lembrança de seu fundador Leonel Brizola, que foi governador do Rio nas décadas de 1980 e 1990. “[A candidatura dela] Nasce com uma viabilidade. Ela não é uma candidata para marcar posição, para pensar em outros cargos depois, esse não é o caso dela. É uma candidatura para essa eleição”, ressalta.

Martha Rocha é deputada estadual em segundo mandato – em 2014 somou 52.698 votos; quatro anos depois, amealhou outros 48.949 – e foi chefe da Polícia Civil no Rio entre 2011 e 2014, no governo de Sérgio Cabral. No primeiro mandato era filiada ao PSB, mas trocou de partido para a disputa de 2018.

A favor dela está a baixa rejeição – exatamente o que a torna competitiva em cenário de segundo turno. De acordo com o levantamento do Datafolha, 6% dos entrevistados disseram que não votariam nela de jeito nenhum. O número é bem mais baixo que os de Crivella (59%) e Paes (30%), e mesmo de Benedita da Silva (20%), próxima dela na disputa – Clarissa Garotinho (Pros) é a terceira com maior rejeição (29%).

Delegada mira nos eleitores de Paes para ir ao segundo turno

O sucesso dela na eleição depende de como vai conseguir receber, já no primeiro turno, votos de outras candidaturas – especialmente a de Eduardo Paes, que tem na classe média carioca seu principal nicho. Como aponta o cientista político e professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), Geraldo Tadeu, esse público é bastante sensível ao tema corrupção. E o ex-prefeito tem enfrentado problemas na Justiça.

Paes se tornou réu em 8 de setembro por supostos crimes de corrupção, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. A denúncia oferecida pelo Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (Gaecc) em ação conjunta com o Ministério Público do Rio, e aceita pelo Tribunal de Justiça do Rio, aponta que o político teria recebido cerca de R$ 10,8 milhões em propinas de executivos da Odebrecht entre junho e setembro de 2012, para abastecer sua campanha de reeleição à prefeitura do Rio. Segundo o candidato, trata-se de uma "clara tentativa de interferência na eleição".

“Muitos eleitores estão votando no Eduardo Paes porque não querem votar no Crivella. É o eleitor católico e liberal, que não gosta da mistura entre religião e política. Esse eleitor é o eleitor da Martha. Ela tem um perfil de classe média muito nítido, nascida na Penha, moradora da Tijuca, católica, pessoa que fez toda a vida política naquela região da Zona Norte e ela não tem teto de vidro, não tem processo contra ela, então aparece como uma novidade”, analisa Tadeu.

“Em linhas gerais, a Martha Rocha teria que roubar votos do Eduardo Paes para crescer. E ela entendeu isso muito bem porque no debate ela confrontou o Eduardo Paes. É bem evidente que as chances dela consistem em desidratar o Eduardo Paes. Ela não disputa voto nem com o Crivella e nem com a Benedita”, argumenta o professor da Uerj.

No primeiro debate na televisão, realizado em 1º de outubro pela Band, a candidata escolheu o ex-prefeito como principal alvo. Em vários momentos, lembrou situações do governo de Paes para criticá-lo. “Quero te dizer, candidato, que o teu filme não vale a pena ver de novo. Você deixou essa cidade, com todo o investimento que recebeu, sem ser a referência na saúde e na educação no Brasil. Então, vou repetir, o teu filme não vale a pena ver de novo", chegou a disparar.

Esquerda pode ser segunda opção para Martha Rocha

Ao mesmo tempo em que há espaço para crescimento da campanha de Martha Rocha, o mesmo pode ser dito para o atual prefeito, Marcelo Crivella. Apesar de ter sido declarado inelegível pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE-RJ) por suposto crime de abuso de poder, ele segue na disputa e deverá ter o seu nome na urna em 15 de novembro, data do primeiro turno. O Datafolha fez um cenário no qual Crivella estaria fora da disputa e, nele, Paes teria 28% das intenções de voto, à frente de Martha Rocha (12%) e Benedita da Silva (10%).

Dependendo de como correr a campanha, Crivella poderá contar com o apoio mais incisivo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro e o vereador Carlos Bolsonaro, ambos filiados Republicanos – o mesmo partido do prefeito carioca. Nos materiais de campanha, a figura do presidente é estampada sem freio, mas o apoio efetivo ainda não se concretizou.

Para Michael Mohallem, Crivella também pode acabar recebendo votos de outros partidos cuja atuação religiosa é bastante semelhante, a depender justamente do grau de participação da família Bolsonaro na campanha. Esse seria o principal obstáculo para Martha Rocha chegar ao segundo turno.

E, diante desse cenário, além dos votos dos eleitores de Eduardo Paes, a delegada precisaria amealhar parte do eleitorado da esquerda, hoje concentrado principalmente na campanha da petista Benedita da Silva, como consequência da decisão de Marcelo Freixo (Psol) de não tentar a prefeitura fluminense pela terceira vez consecutiva.

A candidata do Psol, Renata Souza, não conseguiu até agora ficar com os votos dos eleitores de Freixo – na pesquisa Datafolha ela aparece com 3% das intenções de voto. E Benedita da Silva não demonstrou também que poderá ser competitiva.

“O PT nunca foi um partido realmente forte no Rio de Janeiro. E esse espaço era ocupado pelo Psol. Com a decisão do Freixo de não ser candidato, foi lançada a Renata Souza, que é uma candidata que chegou há pouco tempo na Assembleia Legislativa, tem pouca experiência e não ocupa o mesmo espaço do Freixo. E a Benedita, por mais que seja ex-governadora e uma pessoa muito conhecida, por ser do PT colhe o desgaste do partido dos últimos anos”, analisa Mohallem.

Os eleitores da esquerda poderiam migrar para a candidatura de Martha Rocha, como um voto útil para tirar Crivella do segundo turno. Isso, no entanto, vai depender de como vai caminhar a campanha no Rio nas próximas semanas.

“Na véspera do primeiro turno, eleitores do PT e da Rede, talvez uma parte deles, pode ver a possibilidade de migrar o voto para a candidata do centro-esquerda para levar a disputa para o segundo turno”, aponta Mohallem, que adverte: “Ela precisa estar próxima suficiente do segundo lugar para esse movimento fazer sentido e desidratar outras candidaturas.”

Uma possível migração de votos da esquerda não seria tanta surpresa, já que a atuação da delegada e deputada Martha Rocha demonstra afinidade com questões importantes para esse grupo de eleitores.

“Ela preserva alguns valores fundamentais da esquerda, mas não é uma candidata radical nem que tenha compromisso com movimentos identitários. É uma pessoa que defende os direitos das mulheres, tem uma história nisso, que são causas históricas da esquerda. Ela é dos direitos humanos. Ela tem uma frase que diz que ‘bandido bom é bandido preso’”, diz Tadeu. “Ela tem essa vantagem comparativa. Está num partido de centro-esquerda, que faz um caminho independente do PT, então a pecha de esquerdista não pode ser colocada nela”, completa.

No entanto, a candidata do PDT não espera um apoio direto do PT em um eventual segundo turno. Em entrevista ao jornal O Globo, Martha Rocha criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "Não me parece que o Lula fará qualquer gesto em direção ao PDT. Nem nós estamos fazendo este movimento. Pelo contrário. Nas eleições de 2018, o Lula fez tudo para desestabilizar a campanha do Ciro Gomes. Eu não faço política com o fígado, mas também não estou aqui buscando apoio dele", disse.

Metodologia das pesquisas citadas na reportagem

  • Sob encomenda do jornal Folha de S. Paulo e da TV Globo, o Datafolha ouviu 900 eleitores do Rio de Janeiro, entre os dias 5 e 7 de outubro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação RJ-09140/2020.
  • A pesquisa Exame/Ideia ouviu 800 eleitores no Rio de Janeiro entre os dias 25 e 29 de setembro. O levantamento está registrado no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número RJ-07280/2020. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.
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