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Manuela D'Ávila e Edmilson Rodrigues, candidatos a prefeito em Porto Alegre e Belém
Manuela D’Ávila e Edmilson Rodrigues, candidatos à prefeitura em Porto Alegre e Belém, respectivamente, pelo PCdoB e pelo Psol.| Foto: Divulgação

As pesquisas Ibope e Datafolha divulgadas nessa semana mostram que candidatos da esquerda lideram a disputa para prefeito com folga em apenas duas capitais. E, em ambos os casos, o Partido dos Trabalhadores (PT) não é cabeça de chapa.

Em Porto Alegre, Manuela D’Ávila (PCdoB) desponta com 24% das intenções de voto no levantamento do Ibope, com 10 pontos percentuais de vantagem sobre o segundo colocado, José Fortunati (PTB). Em Belém, Edmilson Rodrigues (Psol) aparece com 39% da preferência dos eleitores em pesquisa do mesmo instituto, com ampla margem sobre Priante (MDB), que tem 10% (veja a metodologia de todas as pesquisas citadas no final desta reportagem).

Diferentemente de outras capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, nessas duas cidades o PT abriu mão de uma candidatura própria. Manuela tem como vice o ex-ministro e deputado federal petista Miguel Rossetto. Já Rodrigues, que foi filiado ao Partido dos Trabalhadores até 2005, montou uma dobradinha com o deputado estadual Edilson Moura (PT).

“O apoio de todas e todos é o que está nos levando à prefeitura”, comemorou Manuela em suas redes, após a divulgação da pesquisa. Tom semelhante é adotado por Rodrigues. “As pesquisas indicam que estamos no caminho certo”, escreveu o candidato no Twitter.

Professor e arquiteto, Rodrigues foi o deputado federal mais votado do Pará em 2018 com 184 mil votos. Ele já foi prefeito da capital paraense por dois mandatos, entre 1997 e 2004. Disputou as eleições municipais também em 2012 e 2016, mas foi derrotado em ambas no segundo turno pelo candidato do PSDB, Zenaldo Coutinho.

Além do PT, Rodrigues conta, também, com o apoio do PDT, assim como em 2016, e costurou um acordo com PCdoB, Rede e Unidade Popular (UP). A construção de uma alternativa ao bolsonarismo é o que motivou a formação de uma frente ampla de esquerda na capital do Pará.

PT quer "ser o dono da bola", diz especialista

Cidade historicamente progressista, Porto Alegre foi governada por 16 anos pelo PT. Pesquisas anteriores à campanha apontavam que nomes petistas teriam força para chegar ao segundo turno. Mas a pandemia embaralhou as cartas fortalecendo a candidatura de Manuela, o que levou as lideranças municipais do PCdoB e do PT a firmarem a aliança.

De acordo com Rodrigo Prando, cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, o principal fator do bom desempenho de Manuela nas pesquisas é o recall – a lembrança na cabeça do eleitor – que ela goza por ter sido candidata à vice-Presidência em 2018, na chapa de Fernando Haddad (PT).

A polarização com a direita desenhou um cenário que facilitaria a união da esquerda, mas não foi o que aconteceu na maioria das cidades. “Porto Alegre e Belém são casos fora da curva. O PT sempre quer ser o dono da bola, sempre quer uma posição hegemônica e é muito difícil o PT entrar numa coligação se não for cabeça de chapa”, avalia o especialista.

Apesar da coligação entre PCdoB e PT, outros candidatos fortes da esquerda disputam a prefeitura de Porto Alegre. O Psol foi convidado para apoiar Manuela, mas acabou lançando a deputada federal Fernanda Melchionna. O PDT também tem candidatura própria, a da deputada estadual Juliana Brizola, que montou uma chapa com o PSB.

“Nosso objetivo é ir mais longe. Vamos buscar aumentar o campo progressista no segundo turno, dialogando com essas candidaturas”, afirma Márcio Cabreira, coordenador da campanha de Manuela e integrante da executiva nacional do PCdoB.

Segundo ele, se bem sucedida, a aliança gaúcha pode ser replicada em escala nacional daqui a dois anos. “Para vencer as eleições em 2022, o campo progressista precisa se unificar em torno de uma candidatura. A eleição de 2020 é um laboratório fundamental para 2022”, avalia Cabreira.

No Recife, esquerda se divide em disputa acirrada

Na capital de Pernambuco, a divisão da esquerda pode ter favorecido o candidato do Democratas, Mendonça Filho. No início da semana, pesquisa do Ibope no Recife apontou Filho tecnicamente empatado com João Campos (PSB) na disputa pela prefeitura, com 19% e 23% das intenções de voto, respectivamente. Nesse levantamento, Marília Arraes (PT) aparece com 14% da preferência dos eleitores.

Já pesquisa do Datafolha, divulgada nesta quinta-feira (8), João Campos (PSB) aparece na frente, com 26%, seguido por Marília Arraes (PT) e Mendonça Filho (DEM), com 17% e 16%, respectivamente. Considerando a margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, porém, a vantagem do filho de Eduardo Campos não é confortável em relação aos demais candidatos.

Com candidaturas próprias, PT quer "recuperar prestígio", diz Lula

Em São Paulo, Guilherme Boulos (Psol) tem situação semelhante à de Manuela, já que disputou a Presidência em 2018. A pesquisa mais recente do Datafolha na capital paulista aponta o candidato do Psol em terceiro lugar, com 12% das intenções de voto, seguido por Márcio França (PSB), que tem 8%.

Mas, diferentemente de Manuela, Boulos não conseguiu o apoio do PT, que lançou candidato próprio, o ex-secretário municipal Jilmar Tatto. “Boulos tem chance de crescer, especialmente porque uma parte dos petistas não estão juntos com o candidato da legenda”, avalia o cientista político Rodrigo Prando.

Em entrevista ao El Pais, na última quarta-feira (7), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicou que o partido optou por lançar candidaturas próprias em todas as cidades com tevê e rádio para “recuperar o prestígio que PT tinha”.

Questionado sobre a fragmentação da esquerda em São Paulo, onde, além de Boulos e Tatto, são candidatos também Márcio França (PSB) e Orlando Silva (PCdoB), Lula afirmou: “quando chegar no final do primeiro turno, você vai ver quem teve a melhor performance, quem vai para o segundo turno, e todo mundo se junta em torno dele”.

Metodologia das pesquisas citadas

Porto Alegre

  • A pesquisa do Ibope, encomendada pelo grupo RBS, ouviu 805 eleitores em Porto Alegre entre os dias 3 e 5 de outubro. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação RS-07152/2020.

Belém

  • Sob encomenda da TV Liberal, o Ibope ouviu 504 eleitores em Belém entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 4 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número PA-02012/2020.

Recife

  • Sob encomenda da TV Globo e do Jornal do Commercio, o Ibope ouviu 805 eleitores no Recife entre os dias 30 de setembro e 2 de outubro. O nível de confiança do levantamento é de 95%, e a margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação PE-09685/2020.
  • O Datafolha ouviu 800 eleitores no Recife, entre os dias 5 e 7 de outubro de 2020. A pesquisa, que foi encomendada pela TV Globo e pelo jornal Folha de S. Paulo, tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. O levantamento está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação PE-08999/2020.

São Paulo

  • O Datafolha ouviu 1.092 pessoas em São Paulo, sob encomenda da TV Globo e da Folha de S. Paulo, entre os dias 5 e 7 de outubro de 2020. O levantamento tem nível de confiança de 95%, com margem de erro de 3 pontos percentuais, para mais ou para menos. A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob a identificação SP-08428/2020.
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