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Boulos - PSOL
Guilherme Boulos sai das eleições com a projeção nacional que pode impulsionar o Psol na política| Foto: Reprodução/Facebook

O Psol conquistou a prefeitura de uma capital no segundo turno das eleições municipais: Belém (PA), com a vitória de Edmilson Rodrigues. E, embora tenha perdido em São Paulo, o desempenho de Guilherme Boulos colocou o Psol na vitrine política do país. O próprio Boulos se tornou um ator mais importante na esquerda brasileira. Ainda assim, não se pode dizer que ele é um "novo Lula" e que o Psol é o "novo PT" – ou seja, o personagem e a sigla em torno da qual a esquerda orbita.

Mas a derrota de Boulos para Bruno Covas (PSDB) estrategicamente pode ser boa para o Psol. Boulos não terá a obrigação de cuidar de São Paulo. "Livre" em 2022, ele poderá ser o cabo eleitoral que puxará votos para candidaturas do Psol de norte a sul do país. E não enfrentará o desgaste natural de administrar a maior cidade do país.

“A derrota de Boulos em São Paulo não é uma derrota, é uma vitória política. Ele era uma pessoa que ninguém dava nada”, diz o sociólogo e cientista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Baía destaca que a candidatura de Boulos em São Paulo ganhou projeção nacional. Ele obteve o apoio, por exemplo, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT); dos presidenciáveis do PDT e da Rede em 2018, Ciro Gomes e Marina Silva; e do governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB). “Em várias cidades, as pessoas declararam apoio ao Boulos. Isso tem um significado para o futuro, sobretudo em um partido como o Psol, que está em processo de afirmação há, pelo menos, 10 anos”, diz o professor da UFRJ.

Apesar disso, Baía alerta que a união de lideranças da esquerda em torno de Boulos em São Paulo não o alça ao posto de alguém que vai unir esse polo político em 2022. “Hoje, nós não temos elemento para dizer isso.” O cientista político aposta que as eleições de 2022 serão muito parecidas com as de 2018, com a pulverização partidária para a disputa de presidente da República. “Os partidos têm projetos [próprios]. Falar em união da esquerda é traçar uma ideia que não existe”, diz Baía.

Primeiro, o Psol tem de se manter vivo

O Psol, como qualquer partido, também tem seu projeto. Para o cientista político Paulo Baía, o grande objetivo do partido para 2022 deve ser eleger deputados federais para evitar sua "extinção" por causa de uma recente mudança na legislação eleitoral.

Em 2017, o Congresso aprovou e o ex-presidente Michel Temer sancionou a Emenda Constitucional (EC) n.º 97, que estabeleceu a chamada cláusula de barreira – instrumento criado para reduzir o número de partidos no país.

Legendas que não alcançarem nas eleições para deputados um determinado desempenho ficarão impossibilitados de receber recursos do Fundo Partidário e terão restrições no acesso ao tempo de rádio e TV.

Para 2022, a exigência é de 2% dos votos válidos para deputado federal ou a eleição de 11 deputados distribuídos em, pelo menos, nove estados. Com base nos resultados da votação para vereador nestas eleições municipais, o Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) calculou que, dos 33 partidos que lançaram candidaturas, 18 partidos atingiriam 2% dos votos válidos considerando os votos nominais e de legenda. O Psol figura entre os 15 que não alcançariam a meta.

Além da cláusula de desempenho, a EC n.º 97/17 também acabou com as coligações partidárias em eleições proporcionais, ou seja, para vereadores, deputados estaduais e federais. Análises das eleições de 2020 mostram que isso beneficiou os partidos grandes e reduziu o número de vereadores eleitos por siglas médias e pequenas.

“Minha lógica para analisar 2022 está em como os partidos vão se comportar para eleger os deputados federais dentro de um cenário com cláusula de barreira e sem a possibilidade de fazer coligações para deputado federal”, explica. E o Psol hoje é um partido com um grande risco de perder os recursos do Fundo Partidário e ter restrições na propaganda eleitoral de rádio e TV após 2022.

Psol ainda não tem musculatura política

Além da busca pela sobrevivência num projeto próprio, o Psol não tem musculatura partidária para liderar a esquerda no país – por mais que agora tenha em Guilherme Boulos um ator de peso.

No primeiro turno, o partido havia conquistado apenas quatro prefeituras nos mais de 5 mil municípios brasileiros. Foram 100 vereadores. O PT, só para comparar, fez 179 prefeitos no primeiro turno e 2,6 mil vereadores. Levantamento do cientista político Jairo Nicolau mostra que, nas cidades com mais de 500 mil habitantes, o PT foi o partido com o maior percentual de votos. O Psol, apenas o sétimo.

Isso mostra que os petistas dificilmente cederiam sua vaga numa disputa presidencial para o Psol.

E Boulos: é o "novo Lula"?

O cientista político Paulo Baía afirma que também é muito prematuro comparar Boulos com Lula. “Boulos não é o ‘novo Lula’. Ele ainda precisa de alguns testes eleitorais. O Lula, para ser o que ele é, precisou de quatro eleições presidenciais, de 1989 a 2002”, diz o cientista político. “ Mas Boulos está seguindo a trilha do Lula. (...) Boulos e o Psol começam a pavimentar uma trajetória de maior projeção nacional. Sobretudo após ele dizer que não se governa sozinho, que são necessárias alianças e acordos. O Boulos começa a dar uma inflexão do líder sem teto para um político que coloca seu nome para gerir uma cidade como São Paulo, um estado como São Paulo, ou o país.”

Por isso, Baía identifica que o objetivo do Psol e de Boulos deve ser mais voltado em como utilizá-lo como cabo eleitoral em 2022 da própria legenda. “Ele vai ser um símbolo do partido. (...) Boulos vai facilitar uma campanha do Marcelo Freixo, no Rio, vai facilitar a campanha de nomes em São Paulo e em outros estados. Em vários estados veremos nomes que surgirão como deputados que terão o ‘emblema Boulos’ para facilitar suas ações nas bases eleitorais”, aposta o especialista.

O lançamento de Boulos como candidato a presidente da República pode ser uma estratégia para puxar votos em diferentes estados e, assim, superar a cláusula de barreira. Mas, também, pode ser estratégico lançá-lo para o cargo de deputado federal ou governador em São Paulo, para garantir o coeficiente de votos válidos exigidos, diz o cientista político Geraldo Tadeu, coordenador do Centro Brasileiro de Estudos e Pesquisas sobre a Democracia (Cebrad), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Partido terá de acenar ao centro se quiser crescer

Independentemente da escolha, Tadeu acredita que o Psol não poderá abdicar de sua história política na busca de ampliar sua projeção pelo país. “O partido nasceu como um partido de intelectuais, de artistas, de funcionários públicos. É um perfil do grupo que fez nascer o PT, com exceção dos sindicalistas, formado por uma elite intelectual”, explica. Por isso, Tadeu entende que, para atingir suas ambições, a legenda precisará focar centros urbanos como Rio de Janeiro, São Paulo, Campinas (SP), Belo Horizonte, Belém, além das regiões metropolitanas de Porto Alegre e Curitiba.

A estratégia de crescimento e ascensão do Psol passará, inevitavelmente, por uma concentração em áreas onde as pessoas são mais sensíveis ao discurso da legenda e junto ao eleitorado de centro-esquerda. “Não dá para o partido achar que vai ganhar as eleições nos rincões do Brasil e só falando só para o pessoal dele [mais à esquerda]. Tem que falar para o pessoal que vai decidir a eleição [eleitores de centro]”, sustenta Tadeu.

Mas o partido terá de fazer acenas ao centro se quiser crescer mais. O professor cita um estudo do Instituto Datafolha de 2017 que aponta que 30% do eleitorado brasileiro está mais à centro-esquerda e 10% está na esquerda. O Psol, diz Tadeu, está mais à esquerda. E, se deseja desbancar o PT em projeção nacional, vai ter que crescer para o centro. “O próprio Boulos, agora, faz alguns acenos ao centro. Porque é a lógica do processo eleitoral”, explica. Para o seu público atual, entretanto, a estratégia do Psol se mostra bem sucedida.

Dentro do espectro da esquerda, o Psol está, paulatinamente, disputando a hegemonia, afirma Tadeu. Ele cita que, no Rio de Janeiro, nestas eleições a legenda conquistou 11% dos para vereador. A esquerda inteira fez 17% dos votos.

No acumulado deste pleito com as eleições de 2016 e 2012, o Psol passou de 7,5% para quase 11% dos votos para vereador. Enquanto isso, o PT caiu de 7% para 4,4%. O PDT recuou de 4% para 2,3%. “O Psol anda está longe de ser o novo PT, mas vem crescendo e ganhando corpo”, diz Tadeu.

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