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Centro Integrado de Comando e Controle (CICN) do TSE: atraso na divulgação dos resultados da apuração das eleições 2020 causou desconforto no tribunal.
Centro Integrado de Comando e Controle (CICN) do TSE: atraso na divulgação dos resultados da apuração das eleições 2020 causou desconforto no tribunal.| Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

A apuração dos votos da eleição municipal em todo o país foi marcada pela falha em um supercomputador do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o que gerou um significativo atraso na divulgação dos dados, algo inédito desde a adoção da urna eletrônica, em 1996. O sistema que abriga as informações da Justiça Eleitoral também foi alvo de uma tentativa de ataque hacker, mas o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, assegurou que a investida foi totalmente neutralizada.

Na manhã desta segunda-feira (16) ainda havia algumas cidades onde não se sabia quem eram os prefeitos e os vereadores eleitos. Maceió e São Paulo, por exemplo, começaram o dia sem saber os nomes dos vereadores que ocuparão as Câmaras municipais a partir de 1.º de janeiro de 2021. Na capital alagoana, o resultado da eleição para prefeito só foi conhecido às 9 horas desta segunda.

Os problemas registrados serviram de munição a críticos da urna eletrônica e do sistema de votação digital, mas o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, garante que o ocorrido não afeta em nada a credibilidade das eleições no Brasil. "A ideia de que a demora [na apuração] possa trazer algum tipo de consequência não faz nenhum sentido, porque o resultado das eleições já saiu no momento em que a urna imprimiu o boletim", disse.

Veja tudo que sabe sobre os ataques hackers ao TSE e a lentidão na apuração dos votos, e o impacto que isso teve:

O que aconteceu no dia da eleição? 

Foram três episódios diferentes que chamaram a atenção neste domingo (15) de eleições municipais. Primeiro, foi identificado uma tentativa de ataque hacker ao sistema do TSE para derrubar o site às 10h41 da manhã, segundo Barroso. O ataque, explicou ele, não foi bem sucedido.

Também houve o vazamento de dados de servidores do TSE, por volta das 9h25 do domingo, que foi consequência de um ataque hacker que ocorreu em uma data ainda não identificada, mas anterior a 23 de outubro deste ano.

Por fim, houve uma demora significativa na totalização e divulgação dos resultados das eleições em todas as cidades brasileiras.

O que causou a lentidão na apuração dos votos?

A maneira de totalização dos votos mudou nesta eleição. Até 2018, cada um dos Tribunais Regionais Eleitorais computava os votos em seu estado e enviava o resultado ao TSE. Nesta eleição, o TSE centralizou a contagem.

"Preciso dizer que desde o primeiro momento eu não tive simpatia por essa opção, mas era a opção estabelecida e foi ela que eu segui. E muito possivelmente, por ser uma novidade, pode estar na origem da instabilidade que nós sofremos", disse Barroso em uma coletiva de imprensa na noite de domingo.

Mais tarde, em coletiva concedida durante a madrugada, o ministro afirmou que, apesar de não ter simpatia pela opção, ela foi sugerida pela PF. "A centralização foi uma recomendação da perícia da Polícia Federal em nome de se prover maior segurança à totalização. Então é até possível que a centralização tenha sido a causa dessa lentidão. Mas foi uma decisão técnica, decorrente de uma recomendação da Polícia Federal", argumentou.

Além disso, houve um problema de hardware. O ministro explicou que um dos núcleos de processadores do supercomputador que totaliza os votos falhou e precisou ser reparado. Por isso, o processo de somar os votos ficou mais lento.

Há relação entre o ataque hacker e a lentidão para divulgar os resultados?

O ministro Luiz Roberto Barroso, presidente da Justiça Eleitoral, garantiu neste domingo que a tentativa de derrubar o site do TSE não tem relação com a demora na divulgação dos resultados. A Polícia Federal, de todo modo, investiga os ataques hackers e pode chegar a novas conclusões.

O episódio abre brecha para fraude?

Em entrevista coletiva à imprensa, Barroso minimizou o atraso e garantiu a integridade do sistema eleitoral. "A demora não compromete minimamente a integridade do sistema", afirmou o ministro. Ele também disse que não tem "controle sobre o imaginário das pessoas".

O ministro também negou que a tentativa de ataque para derrubar o site coloque em dúvida a segurança do sistema de votação. Barroso reforçou que as urnas não funcionam em rede e que é possível comparar os resultados com o boletim impresso após o fim da votação.

Barroso também afirmou que a PF investiga o episódio de vazamento de dados de servidores do TSE, mas garantiu que foram vazadas apenas informações irrelevantes e que não afetam o sistema eleitoral. O ataque partiu de Portugal, segundo o ministro.

O ministro ainda afirmou que “sofrer ataques não é privilégio do TSE” e que “o significado é saber se o ataque produziu resultados. Nesse caso, o ataque foi inócuo”, disse.

Barroso também lembrou que, desde 1996, quando o Brasil adotou o uso de urnas eletrônicas, nunca houve comprovação de fraude.

Qual foi a reação do bolsonarismo?

Perfis bolsonaristas e de outros políticos passaram o dia todo neste domingo divulgando mensagens apontando para supostas fraudes eleitorais e falta de credibilidade do TSE. Também houve uma defesa do voto impresso por parte desses políticos.

“Agora mais do que nunca temos que voltar a falar em #VotoImpresso como forma de conferir a votação eletrônica. Ninguém me convence que o sistema trave dessa forma sem fraude envolvida. Posso estar errada, por isso quero poder conferir os votos da minha urna”, escreveu a deputada Carla Zambelli (PSL-SP).

“O que houve com os conservadores? Erramos, nos pulverizamos ou sofremos uma fraude monumental?”, escreveu também a deputada em outro post.

Filho do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) também falou em fraude. “Noticiam que TSE foi atacado por hackers. TSE nega. Então são expostos bancos de dados do TSE. Isso traz um clima de insegurança, que faz as pessoas desconfiarem que o atraso na divulgação possa ser um novo ataque hacker ou manipulação já que não há transparência”, escreveu.

“Preparem-se, o TSE vai jurar que seu sistema é seguro. Aham, a gente acredita. Apuração transparente com possibilidade de recontagem já! Exigimos voto impresso”, escreveu a deputada Bia Kicis (PSL-DF).

O próprio presidente Jair Bolsonaro também levantou dúvidas sobre a apuração. "Nós temos que ter um sistema de apuração que não deixe dúvidas. É só isso. Tem que ser confiável e rápido. Não deixar margem para suposições. Agora [temos] um sistema que desconheço no mundo onde ele seja utilizado. Só isso e mais nada", disse em frente ao Palácio Alvorada na manhã desta segunda-feira (16). 

"Muita gente fala sem ouvir o povo. No meu caso, estou sempre ouvindo a população e eles querem um sistema de apuração que possa demorar um pouco mais, não tem problema nenhum, mas que seja garantido que o voto que essa pessoa deu vá para aquela pessoa de fato", continuou.

Segundo a Folha de S. Paulo, uma investigação da SaferNet, que trabalha em parceria com o Ministério Público Federal no monitoramento de fraudes eleitorais, aponta que os ataques hackers sofridos pelo TSE foram uma “operação coordenada” para “desacreditar a Justiça Eleitoral”.

De acordo com Barroso, o atraso de “algumas horas” não prejudica a credibilidade da Justiça Eleitoral no país. O ministro ressaltou que nunca houve comprovação de fraude eleitoral desde a adoção das urnas eletrônicas, em 1996. “Fraude havia no sistema de cédulas”, disse o presidente do TSE.

Segundo o ministro, a eleição digital eliminou a possibilidade de fraudes e voltar ao voto em papel seria “um equívoco”.

Que melhorias no sistema são pensadas pelo TSE no futuro?

Ao ser questionado sobre a declaração de Bolsonaro, que citou a necessidade de um sistema eleitoral "aperfeiçoado" para 2022, o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, disse que "tudo nessa vida pode ser aperfeiçoado ao longo do tempo". "Portanto a resposta é sim", disse ao ser perguntado se avaliava essa necessidade.

Ao ser questionado sobre quais aperfeiçoamentos devem ser feitos, o presidente do TSE citou o projeto "Eleições do futuro", que testam novas formas de votação eletrônica, e a própria superação do problema técnico enfrentando na totalização dos votos.

"Hoje (domingo, 15), por exemplo, tivemos problema que produziu atraso, não é grave mas produziu problema e, portanto, acho que pode ser aperfeiçoado, e além disso temos Eleições do Futuro, que pode apresentar alternativa mais eficiente", disse.

Com informações de Estadão Conteúdo

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