Faltando menos de sete meses para as eleições, apenas o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já sinalizam que estão com nomes definidos para a composição de vice para a corrida presidencial. Até o momento, o general Walter Souza Braga Netto (sem partido) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) são os mais cotados para paras vagas de cada chapa de Bolsonaro e Lula, respectivamente. Mas qual dos dois agrega mais à campanha do cabeça de chapa?
Apesar de ser um nome de confiança de Bolsonaro, integrantes do Centrão, que compõem a base do governo, avaliam que o Braga Netto não será um agregador de votos para a disputa.
Líderes partidários defendiam que o posto fosse ocupado por um político experiente e nomes como da ministra Tereza Cristina (Agricultura) e do ministro Fábio Farias (Comunicações), que são deputados licenciados, chegaram a ser cogitados pelo Planalto.
Tereza Cristina, por exemplo, poderia conquistar votos de mulheres – segmento em que o presidente tem menos popularidade. Fábio Farias é do Nordeste, região em que Bolsonaro também é menos popular.
Outros nomes com esses perfis estiveram à mesa do presidente. Para Bolsonaro, no entanto, a cadeira de vice deve ser ocupada por alguém sem aspirações políticas. "Devemos ter um vice que demonstre à população que é um vice que não é para ajudar a ganhar a eleição, é para ajudar a governar o Brasil. Eu tenho que ter um vice que não tenha ambições de assumir a minha cadeira ao longo de um mandato", disse Bolsonaro. "O Braga Netto eu conheço há algum tempo, me dou muito bem com ele. É um homem cotado para qualquer coisa."
Ou seja, o presidente quer um vice que não "facilite" um eventual impeachment. Isso poderia ocorrer com um político. Mas há uma avaliação do Planalto de que o Congresso não ia tirar Bolsonaro para colocar na Presidência um general. Por isso o presidente optou por um nome que tende a não agregar votos.
Convencidos de que Braga Netto será o nome escolhido por Bolsonaro para a vaga de vice, líderes do Centrão admitem, reservadamente, que a melhor estratégia de campanha para agregar votos será apostar nas políticas públicas do governo. Para isso, o núcleo de campanha já investe na divulgação de programas como o Auxílio Brasil e no pacote de R$ 150 bilhões para reaquecer a economia.
O que aliados de Bolsonaro pensam de Braga Netto como vice
"Um nome político [para vice] poderia aglutinar forças e amarrar apoio de partidos e de palanques nos estados. Um nome do Nordeste poderia ampliar a capilaridade do presidente na região. Uma mulher poderia ter o apelo do voto feminino. Mas o Braga Netto é um bom nome, mesmo sem apelo político", amenizou um líder do Centrão.
Na mesma linha, outro aliado do Planalto sinaliza que, mesmo sem um vice político, o governo vai ter "muita coisa para mostrar". "O Braga Netto vai abraçar a campanha e ajudar a gente a mostrar tudo que o governo fez nestes últimos anos. Ele acompanhou o governo de perto", afirma.
Apesar disso, o pastor Silas Malafaia, aliado do governo entre os evangélicos, reprovou a escolha. Para ele, a melhor opção como vice seria um político experiente. "O rio não passa duas vezes no mesmo lugar. O presidente já precisou de um general para dar segurança à sua candidatura. O momento agora é outro", disse Malafaia em entrevista à revista Veja.
Ainda de acordo com o pastor, o nome ideal de vice "seria do Sudeste ou do Nordeste", destacando que a sugestão é apenas uma "opinião pessoal". "Eu respeito muito o Braga Netto. Ele se mostrou um bom ministro e uma pessoa leal, mas o Bolsonaro precisa ter agora ao seu lado alguém que agregue capital político", completou.
Alckmin pode atrair para Lula segmentos que tinham rompido com o PT
Assim como Braga Netto para Bolsonaro, Geraldo Alckmin não deve ampliar significativamente o número de eleitores do ex-presidente Lula, segundo avaliam integrantes do PT. No entanto, aliados do ex-presidente acreditam que a composição vai ampliar o grupo político do partido e dar mais estabilidade para um eventual governo petista.
"Se eu fizer aliança [com Alckmin], será uma aliança muito forte, para ganhar, para mudar o Brasil. Minha junção com Alckmin e com outros companheiros é na perspectiva de recuperar o Brasil", disse Lula na quinta-feira (24), durante entrevista para a rádio Super, de Minas Gerais.
Pré-candidato ao governo de São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) admite que a entrada de Alckmin na chapa petista vai ser importante para atrair segmentos que romperam com Lula nos últimos anos. Além dos partidos de centro, o PT espera que Alckmin faça uma interlocução com setores do mercado e do agronegócio, por exemplo. "Alckmin tem uma interlocução interessante com setores que podem se reaproximar do Lula. Ele [Alckmin] dobra os esforços de interlocução. O perfil do Alckmin é complementar ao do Lula", afirmou Haddad.
Questionado sobre seu papel na campanha de Lula e como pretende desempenhar a função de vice, Alckmin afirmou que sabe das funções e que chega para somar esforços. "Eu já fui vice-governador e governador. Então a minha disposição é para ajudar. Sei os limites da competência e da tarefa. O presidente Lula tem pé no chão e ele tem colocado que é preciso ter uma aliança para ganhar a eleição e uma aliança para governar. É disso que vamos atrás", afirmou o ex-governador durante o evento de filiação ao PT.
No PSB, Alckmin sinaliza que vai atrás do seu eleitorado do PSDB
Apesar da filiação ao PSB, Geraldo Alckmin afirmou que pretende usar a campanha para "convencer" seu antigo eleitorado tucano a votar no PT. Lula e Alckmin foram adversários nas urnas em 2006 e o PT sempre fez oposição ao ex-governador em São Paulo.
"É evidente que estamos diante de um momento excepcional da democracia brasileira e é preciso olhar pra frente. Política é convencimento. É natural que muitos veem [mudança de partido] com entusiasmo; outros nós vamos conquistando. É uma tarefa", afirmou Alckmin.
Agora, a expectativa do ex-governador é viajar o país e rodar o interior de São Paulo, onde parte do eleitorado é mais resistente ao voto no PT. "Eu fiquei esse tempo todo sem falar, aguardando o momento adequado. Agora que vamos viajar, explicar, convencer, mostrando a realidade que estamos vivendo. Não tem outro caminho para melhorar a vida do povo se não pela via democrática. Esse é o caminho", completou o tucano.
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