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O ex-ministro Abraham Weintraub, em filiação ao Brasil 35, com a bandeira imperial ao fundo
O ex-ministro Abraham Weintraub, na solenidade de filiação ao Brasil 35, com a bandeira imperial ao fundo.| Foto: Divulgação

O ex-ministro Abraham Weintraub (Educação) se filiou recentemente ao Brasil 35, partido pelo qual quer se candidatar ao governo de São Paulo. A agremiação é o antigo Partido da Mulher Brasileira (PMB), sigla oficializada em 2015 e que inicialmente se alinhava com a ideologia progressista. A legenda anunciou a mudança de nome no início do ano passado; e agora quer se tornar uma referência do conservadorismo.

Weintraub e seus aliados adotaram o mote "nem esquerda, nem centrão: conservador" para falar sobre o Brasil 35. O ex-ministro tem, em entrevistas e nas redes sociais, se posicionado à direita de grande parte dos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro.

Além de defender as bandeiras conservadoras caras ao presidente da República, Weintraub tem dedicado grande parte de sua militância para contestar figuras que hoje estão ao lado do presidente, como os ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Fábio Faria (Comunicações), ambos parlamentares licenciados e filiados a partidos do chamado Centrão. Weintraub também ataca com frequência o PL, partido de Bolsonaro, e seu presidente, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado por seu envolvimento no esquema do mensalão.

A cerimônia de filiação de Weintraub foi um indicativo de como o Brasil 35 deve se portar no período eleitoral. A bandeira que estava em destaque no evento não era a atual do Brasil, e sim a do Império, utilizada no país antes da proclamação da República – parte dos conservadores brasileiros deseja a restauração da monarquia e considera a instalação do regime republicano um "golpe militar".

O ex-ministro, seu irmão Arthur e grande parte dos presentes não utilizavam máscaras de proteção contra a Covid-19, outro gesto que, atualmente, tem sido relacionado ao conservadorismo nacional.

Que partido é o Brasil 35

A chegada de Weintraub ao partido representa um ato bem-sucedido do Brasil 35 de se recuperar do "prejuízo" que teve ao não conseguir trazer filiar o presidente Bolsonaro. Quando o projeto de Bolsonaro de criar seu próprio partido, o Aliança Pelo Brasil, começou a naufragar, o presidente e sua base começaram a procurar uma agremiação já existente. O então PMB foi visto como alternativa. À época, o partido era um dos menores do Brasil, sem representação no Congresso, nem governadores ou prefeitos de capitais.

O esforço para trazer Bolsonaro incluiu atos como a mudança de nome. O "partido da mulher" se tornou Brasil 35 em abril do ano passado. A presidente da legenda, Suêd Haidar, negou na ocasião que a mudança havia sido feita para agradar Bolsonaro, mas confirmou negociações entre presidente e o partido.

O Brasil 35 repetiu, de certo modo, a trajetória do Patriota – partido que também tinha outro nome, Partido Ecológico Nacional (PEN), e se rebatizou na tentativa de atrair o presidente e seu núcleo mais próximo. Mas Bolsonaro acabou se filiando ao PL.

Partido da Mulher tinha bancada quase só masculina e apoiou Haddad

A tentativa de trazer Bolsonaro não se consolidou, mas acabou contribuindo para posicionar o antigo PMB no campo da direita nacional. Até então, o partido tinha pouca relevância no debate político e ostentava alguma conexão com pautas progressistas.

Em 2018, o PMB não lançou candidato próprio à Presidência e nem endossou formalmente nenhum nome na primeira parte da disputa. Mas, no segundo turno, apoiou Fernando Haddad (PT), que foi derrotado por Bolsonaro.

O voto em Haddad foi justificado como um ato de "luta pela democracia". "O Partido da Mulher Brasileira se posiciona como sempre se posicionou, em favor das mulheres, dos negros, da população indígena", dizia trecho da nota do partido de confirmação do apoio a Haddad. O texto ainda destaca que o voto em Haddad era uma manifestação "contra o retrocesso e o ódio" e que o discurso de Bolsonaro era "totalmente contrário ao que o Partido da Mulher Brasileira busca".

As manifestações pró-Haddad têm sido destacadas, atualmente, por militantes de direita que discordam de Weintraub. Se o ex-ministro realmente se candidatar ao governo, deve ter como um dos adversários o atual ministro dos Transportes, Tarcísio de Freitas, que foi apontado pelo presidente Bolsonaro como seu nome "oficial" para a disputa.

A aparente contradição em torno da tentativa de atrair Bolsonaro e de, agora, virar uma sigla conservadora não foram as primeira do ex-PMB. O partido ganhou notoriedade pouco após sua fundação ao formar uma bancada de 20 deputados federais. Desses, 18 eram homens. Apesar do nome do partido, havia apenas duas exceções: Brunny e Dâmina Pereira, ambas de Minas Gerais.

A bancada de porte médio do PMB não durou muito. O partido foi usado como "barriga de aluguel" de parlamentares que abandonaram as agremiações pelas quais se elegeram, se filiaram ao PMB e depois buscaram um terceiro partido.

A manobra foi feita para burlar as regras da fidelidade partidária, que veda a troca de legendas dentro de uma mesma legislatura, mas abre a exceção no caso de um novo partido. Em 2017, o deputado Weliton Prado (MG), que havia sido eleito pelo PT e migrado para o PMB, se desligou do partido e, assim, a agremiação ficou sem representantes no Congresso, quadro que se mantém até os dias atuais.

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