O presidente Jair Bolsonaro (PL) ampliou a ofensiva junto aos líderes evangélicos no intuito de amarrar o apoio do eleitorado religioso para as eleições deste ano. O chefe do Palácio do Planalto mantém uma proximidade com as principais lideranças do segmento e recentemente ampliou os acenos para o grupo.
O movimento do presidente veio depois que líderes religiosos passaram a se queixar de um suposto distanciamento do Planalto em relação ao segmento evangélico. No episódio mais recente, a bancada evangélica reclamou da aprovação pela Câmara do projeto que legaliza os jogos de azar no Brasil. Apesar dos acenos contrários do presidente ao texto, o governo liberou a bancada na Câmara para votar como preferisse, facilitando a aprovação.
Para dirimir as resistências do grupo, Bolsonaro se reuniu na última semana com cerca de 20 pastores evangélicos no Palácio da Alvorada, dentre eles o presidente da Frente Parlamentar Evangélica, o deputado Sóstenes Cavalcante (União Brasil-RJ). Ao menos 80 deputados da bancada evangélica estiveram presentes no encontro.
No evento, o pastor Abner Ferreira, da Igreja Apostólica Fonte da Vida, disse que os pastores têm um "chamamento" a atender nas eleições de outubro. "Temos um chamamento em 2022. Não podemos perder isso de vista", declarou.
Em aceno ao grupo, o presidente disse que governa o país de acordo com o desejo dos evangélicos. "Eu dirijo a nação para o lado que os senhores assim o desejarem. É fácil? Não é. Mas nós sabemos e temos força para buscar fazer o melhor para a nossa pátria", declarou.
Nesta semana, Bolsonaro pretende se reunir com o missionário RR Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus, para ouvir as demandas do pastor. O líder religioso é pai dos deputados David Soares (União Brasil-SP) e Marcos Soares (União Brasil-RJ), aliados do governo nas principais votações do Congresso.
No ano passado, por exemplo, David Soares foi o principal articulador para que o Congresso derrubasse o veto de Bolsonaro ao projeto que perdoava mais de R$ 1 bilhão em dívidas das igrejas junto à Receita Federal. O próprio presidente defendeu que seu veto fosse derrubado pelos deputados e senadores.
Presidente lidera intenções de voto entre eleitores evangélicos
Até o momento, Bolsonaro tem liderado as intenções de voto entre os eleitores que se declaram evangélicos. De acordo com levantamento de março do PoderData, 48% dos eleitorados deste segmento afirmam votar em Bolsonaro, ante 27% do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No eleitorado em geral, Lula lidera com 40% contra 32% de Bolsonaro.
Em comparação ao levantamento anterior, o desempenho de Bolsonaro cresceu quatro pontos percentuais, enquanto Lula recuou cinco pontos. Em fevereiro, o atual presidente tinha 44% das intenções de voto dos evangélicos contra 32% do ex-presidente do PT.
De acordo com aliados do Planalto, os líderes religiosos são os principais influenciadores entre os fiéis, por isso os acenos para este grupo são primordiais para o projeto de reeleição de Bolsonaro. Além disso, o núcleo de campanha do presidente pretende fazer da primeira-dama Michelle Bolsonaro uma ponte entre o governo e os evangélicos.
Em outra frente, a ministra Damares Alves vai deixar o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos para concorrer ao Senado pelo Amapá. A estratégia dos governistas é atender uma demanda dos evangélicos no estado, que pretendem neutralizar a campanha de reeleição do senador Davi Alcolumbre (União Brasil).
A eleição de Damares seria uma resposta a entrave que parlamentar apresentou para a indicação do ministro André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal (STF) no ano passado. "Alcolumbre, tô chegando. beijo, tchau", disparou a ministra, que também é pastora, recentemente durante um evento no Palácio do Planalto.
PT aposta em pauta social para atrair votos evangélicos
Com aceno de apoio ao nome de Bolsonaro entre as principais lideranças religiosas do país, o ex-presidente Lula tem buscado denominações menores na busca de apoio entre os evangélicos. Recentemente, por exemplo, o PT criou núcleos evangélicos em pelo menos 21 diretórios estaduais da sigla.
De acordo com a deputada Benedita da Silva (PT-RJ), que é evangélica, a pauta social será a ponte entre Lula e o segmento religioso. “O maior fator de reaproximação da base evangélica e de muitos pastores com Lula é a realidade social que nossos irmãos e irmãs estão passando”, argumenta.
Lula vem sendo assessorado desde o final do ano passado pelo pastor Paulo Marcelo Schallenberger, da Assembleia de Deus, sobre como recompor alianças com o segmento evangélico. Em documento apresentado ao núcleo de campanha do PT, Schallenberger cita estratégias como "trazer para entrevistas pastores que foram beneficiados no governo do PT" e incentivar menções de "atos dos governos anteriores que beneficiaram a igreja evangélica".
Além disso, o líder religioso defende que o PT apoie a eleição de parlamentares comprometidos com a causa evangélica, apoie atividades sociais das igrejas e deixe claro que o compromisso da legenda com o respeito à diversidade não é “indução à mudança de costumes”. Em outra frente, um podcast criado pelo partido do ex-presidente tratará de temas como “expansão dos templos, benefício aos pastores e líderes em relação ao trânsito para suas atividades eclesiásticas”.
"Em um possível novo governo do PT, manteremos o mesmo respeito e vamos procurar ampliar ainda mais o nosso diálogo com as diferentes denominações religiosas", afirma Benedita.
Moro aproveita desgaste de Bolsonaro para flertar com a Universal
Além de Bolsonaro e Lula, outros presidenciáveis também têm buscado o apoio do segmento evangélico para a disputa deste ano. Recentemente, o ex-ministro Sergio Moro (Podemos) lançou uma carta de princípios para os cristãos, onde defende a “autonomia da instituição familiar", o respeito às “preferências afetivas e sexuais de cada indivíduo” e a “não ampliação da legislação em relação ao aborto”.
De acordo com o último levantamento PoderData, apenas 3% dos evangélicos declaram voto em Moro. O número representou um recuo de quatro pontos em relação ao levantamento de fevereiro, quando o ex-juiz registrou 7% das intenções de voto neste segmento do eleitorado.
Para estreitar os laços entre o ex-juiz e o segmento, Uziel Santana, ex-presidente da Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure), e a presidente nacional do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), têm promovido encontros de Moro com alguns líderes evangélicos. Em outra frente, Moro tem aproveitado o distanciamento do Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, do governo Bolsonaro para angariar apoio para sua candidatura.
O ex-juiz tem costurado uma série de encontros com pessoas próximas ao bispo Edir Macedo, líder da Universal. Entre eles, o ex-prefeito Marcelo Crivella, pré-candidato ao Senado pelo Rio de Janeiro. Apesar da proximidade de Bolsonaro com Crivella, o PL, partido do presidente, pretende apoiar o projeto de reeleição do senador Romário no estado, o que abriu caminho para que ex-prefeito se aproximasse de Moro.
Paralelamente, as campanhas do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), e da senadora Simone Tebet (MDB) ainda não sinalizaram quais estratégias estão sendo usadas para atrair o voto evangélico. Já o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato pelo PDT, sinalizou apenas que o "Estado é laico e que a Bíblia e a Constituição não entram em conflito”.
Metodologia de pesquisa citada na reportagem
O levantamento do instituto PoderData, que contratou a própria pesquisa, ouviu 3 mil eleitores entre os dias 27 de fevereiro e 1º de março de 2022. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-01570/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.
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