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Senado São Paulo
Com a saída de Datena do páreo, cresce a pressão para que Márcio França (PSB) desista da disputa ao governo paulista e concorra ao Senado| Foto: Sérgio Dutti/PSB

A desistência do apresentador José Luiz Datena (PSC) em concorrer à vaga única ao Senado por São Paulo não impacta apenas a disputa ao cargo, mas mexe em todo o xadrez eleitoral na corrida ao governo do estado. Com o jornalista fora do páreo, tanto a esquerda quanto a direita analisam o cenário e até reavaliam suas estratégias para o restante do pleito.

A saída de Datena não surpreendeu alguns caciques políticos e coordenadores de campanha dos principais pré-candidatos ao governo de São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad (PT); o ex-governador Márcio França (PSB); o ex-ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas (Republicanos); e o atual governador Rodrigo Garcia (PSDB). França, aliás, pode deixar a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes e ser candidato ao Senado em coligação com o PT.

Para as coordenações de campanha desses candidatos, Datena é politicamente instável e provou isso ao ter desistido de concorrer à prefeitura de São Paulo nas eleições de 2016 e ao Senado nas eleições de 2018. E desde o ano passado, deixou o MDB para migrar para o PSL e, depois, ao PSC. Um integrante da pré-campanha de Tarcísio sustenta, inclusive, que a desistência era precificada.

As pré-campanhas querem saber agora qual o impacto da saída de Datena nas próximas pesquisas eleitorais ao Senado no estado e as consequências disso na corrida para o governo estadual. Os entornos políticos de Haddad e Garcia acreditam, por exemplo, que os dois serão os principais beneficiados com a renúncia e que Tarcísio será o mais prejudicado.

Já a coordenação do ex-ministro da Infraestrutura acredita que a desistência de Datena não altera o quadro eleitoral. A análise é de que a disputa ainda está no início e sua pré-candidatura ainda pode ser impulsionada na esteira da polarização e alimentada pelos votos do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Como ficam as alianças e a campanha de Tarcísio após renúncia de Datena

Embora a coordenação de Tarcísio de Freitas afaste a hipótese de desidratação de sua candidatura, interlocutores alertam para a possibilidade de a desistência de Datena apressar a definição de uma pré-campanha de Mário França ao Senado. Por isso, o entorno do ex-ministro da Infraestrutura reconhece a prioridade em acelerar a montagem de alianças a fim de definir a chapa.

Além de ser o primeiro colocado nas pesquisas eleitorais mais recentes para o Senado, Datena dava sinais de que firmaria uma composição com Tarcísio. Sem o apresentador, surgem três opções para o cargo na chapa: a deputada federal Carla Zambelli (PL), a deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB) ou o empresário Paulo Skaf (Republicanos), ex-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. Outro nome sondado é o de Marcos Pontes (PL), ex-astronauta e ex-ministro da Ciência e Tecnologia, informa o site Metropoles.

Dos três nomes, Skaf agrada mais a coordenação eleitoral de Tarcísio e as cúpulas do Republicanos e do PSD, partido que compõe a coligação e não planeja desembarcar da aliança por conta da saída de Datena do pleito. Para os caciques políticos, o empresário é um nome menos ideológico e com maior potencial para puxar votos no centro político.

Janaína é vista pela coordenação eleitoral como um nome menos confiável e Carla tem o apoio da base bolsonarista e do próprio Tarcísio. Parte dos coordenadores da campanha insiste, porém, que as duas teriam menor poder de atrair votos de eleitores mais ao centro. O objetivo, asseguram interlocutores, é isolar Rodrigo Garcia e repetir a polarização das eleições presidenciais. Para isso, defendem que Skaf seria um nome mais adequado.

A base "raiz" de Bolsonaro pondera, porém, que Skaf não seria um puxador de votos e que o papel de buscar apoios junto ao centro poderia ser exercido pelo vice. Para essa "ala", Carla é o nome ideal para o Senado, embora ela própria evite se posicionar como postulante. Os mais próximos da parlamentar ponderam que ela consideraria a vaga se recebesse um pedido de Bolsonaro.

A dissonância na base de Tarcísio não é uma novidade e isso respinga, inclusive, na candidatura de Bolsonaro. Em São Paulo, ainda há muitos "ruídos" vindos da base ideológica, que se ressente e se sente desprestigiada pela campanha. Interlocutores do ex-ministro admitem que a coordenação carece de maior organização junto aos candidatos a deputado federal, mas também cobra maior fidelidade dos partidos aliados, como o próprio PL, que está dividido entre Tarcísio e Garcia.

"Muitos querem correr lá para o lado do Rodrigo porque tem dinheiro, mas não são fieis. Também tem o PP, que deveria nos apoiar, e está com o PSDB. Com o governador liberando dinheiro como ele está e os prefeitos do interior dependentes de receitas, todos fazem oba-oba", diz um membro da coordenação do ex-ministro da Infraestrutura. "Ainda assim, o Tarcísio vai ser puxado pelos votos do Bolsonaro e o Rodrigo está sem padrinho. Estaremos no segundo turno", acrescenta.

Com o PL dividido e o PP na base tucana, a coordenação eleitoral de Tarcísio acena em ceder a vice ao PSD. Inclusive, o próprio presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, foi sondado para ser o vice de Tarcísio, segundo afirmam duas fontes do partido. Porém, a ideia foi rejeitada a fim de não prejudicar a construção de palanques da legenda nos estados, a exemplo de Minas Gerais, onde selou apoio com o PT. O indicado do PSD para a vice é o ex-prefeito de São José dos Campos, Felício Ramuth, que pode ser confirmado no cargo.

A articulação com o PSD tem o aval de Bolsonaro e do núcleo político do Palácio do Planalto, que almeja o apoio do partido na maioria dos estados e, inclusive, na coligação presidencial. O presidente até atuou nos bastidores para convencer Datena a manter sua pré-candidatura. "Eu estou com o Datena lá. Está no outro partido e tem críticas, assim como tem gente que critica o Tarcísio, que critica a mim. Não dá para a gente pacificar o negócio", disse a apoiadores.

Como Haddad e Garcia saem beneficiados com a desistência de Datena

A confirmação do desembarque de Datena da disputa eleitoral é comemorada por petistas e tucanos em São Paulo. Para as pré-campanhas de Fernando Haddad e Rodrigo Garcia, o alinhamento entre o apresentador e Tarcísio de Freitas ajudou o ex-ministro de Bolsonaro a expandir votos entre eleitores de fora da base eleitoral e política menos ideológica.

A desistência de Datena aos olhos de Haddad e Garcia seria, portanto, um revés para Tarcísio. Sem a associação com o apresentador de TV, a análise entre eles é de que alguns votos podem ficar dispersos ao centro e beneficiar outros candidatos. Os tucanos e aliados da base em São Paulo são alguns dos mais entusiasmados com a perspectiva de crescimento do atual governador nas próximas pesquisas.

O vácuo deixado por Datena também beneficiaria a petistas e tucanos à medida em que abre a possibilidade para Márcio França desistir de sua pré-candidatura ao governo estadual e lançar seu nome ao Senado. Pesquisa do Datafolha mostra que, em um cenário sem o ex-governador paulista, Haddad atinge 34% das intenções de voto e Garcia chega a 13% dos votos, o mesmo índice atingido por Tarcísio.

Já a pesquisa Exame/Ideia realizada no início de junho mostrou que Datena liderava a disputa ao Senado com 19% das intenções de voto. França aparecia em segundo, com 14%. Os números deixam tucanos e petistas otimistas com a hipótese do ex-governador abdicar de sua pré-candidatura ao governo estadual e se lançar ao Senado, inclusive com a possibilidade de figurar na chapa de Haddad ou Garcia.

Aliado de Garcia, o deputado federal Fausto Pinato (PP-SP) é um dos que acredita em beneficiamento a Garcia e Haddad. "A saída do Datena 'mata' um cara só, o Tarcísio. E ajuda o Rodrigo e o Haddad porque fica mais fácil agora abrir negociação com o França para ir ao Senado", avalia.

O parlamentar acredita em um segundo turno entre os pré-candidatos do PT e do PSDB com vitória de Garcia. "O Rodrigo cresce do interior para a capital, e o interior de São Paulo tem tendência de, na hora 'h', votar anti-PT", justifica Pinato, que sai em defesa de Datena. Para ele, as pressões da base mais ideológica do ex-ministro foram determinantes para a decisão do apresentador. "Mesmo sendo um cara com envergadura para ser candidato a governador ou até presidente, foi muito desrespeitado pelos 'bolsonaristas'", diz.

Quais as chances de França desistir de pré-candidatura ao governo de SP

Por ora, não há indícios de que Márcio França desistirá de sua pré-candidatura ao governo de São Paulo. Tanto ele quanto o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, ainda mantêm a pré-campanha. "Faz um mês que todo dia falam que eu não sou mais candidato, que eu não vou ser candidato. Saiu Datafolha de novo, e nós ‘tamo’ no segundo turno. É difícil esse Márcio França, hein?", disse o ex-governador paulista em vídeo publicado na quinta-feira (30).

A citação do pessebista no vídeo é uma referência a um dos cenários estimulados pelo Instituto Datafolha com a participação dos quatro principais pré-candidatos. Nessa situação, Fernando Haddad teria 28% das intenções de voto, seguido por França, com 16%, Tarcísio de Freitas, com 12%, e Rodrigo Garcia, com 10%.

O cenário é o que estimula França a manter viva sua pré-candidatura, a despeito de críticas internas em seu partido. No PSB, algumas lideranças defendem uma composição com Haddad e a migração de sua pré-candidatura para o Senado na chapa com o ex-prefeito paulistano. Petistas e tucanos acreditam, porém, que o ex-governador vai manter sua pré-campanha ao governo estadual até o "último minuto" a fim de barganhar o melhor acordo para si e seu partido.

O cenário tido como mais provável nas pré-campanhas de Haddad, Garcia e inclusive de Tarcísio é que França ceda e dispute o Senado na chapa com o PT. Porém, tucanos e aliados não descartam França no palanque de Garcia, a depender do crescimento do governador nas pesquisas e do acordo entre pessebistas e petistas.

"Se o [ex-presidente] Lula não atender as exigências do PSB, o Márcio pode vir pro lado do Rodrigo. Existe a possibilidade de compor lá [com o PT] ou compor aqui, como vice ou senador também. Até porque a briga do Márcio é com o Doria [ex-governador do PSDB], não com o Rodrigo", analisa uma liderança política da pré-candidatura tucana.

Metodologia das pesquisas citadas

O Datafolha entrevistou 1.806 pessoas por entrevista, entre os dias 28 e 30 de junho. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com os números SP-02523/2022.

A pesquisa Exame/Ideia ouviu, por telefone, 1.200 pessoas do estado de São Paulo entre os dias 3 e 8 de junho. A margem de erro é de três pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. A pesquisa foi registrada no TSE com o número SP-08096/2022.

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