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Quem são e o que pensam os economistas que assessoram Lula, Ciro, Moro e Doria
Guido Mantega, Nelson Marconi, Affonso Celso Pastore e Henrique Meirelles: os economistas de Lula, Ciro, Moro e Doria, respectivamente.| Foto: Reprodução

"Via do social-desenvolvimentismo", "plano nacional de desenvolvimento pactuado entre os setores público e privado", "Estado forte (não significa ser grande)", crescimento com "aperfeiçoamento das instituições". Economistas que assessoram os quatro pré-candidatos à Presidência – Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Ciro Gomes (PDT), Sergio Moro (Podemos) e João Doria (PSDB) – expuseram suas visões para o setor em artigos publicados recentemente na Folha de S.Paulo. Em comum entre os quatro textos, as críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), pré-candidato à reeleição em outubro.

A gestão do atual presidente da República é definida no texto do economista PT como representante de um "neoliberalismo anacrônico"; no do PDT, como continuidade de um "modelo econômico fracassado"; no do Podemos, como exemplo de "política de confronto"; e no do PSDB, como incapaz de reverter a estagnação do país.

Já as divergências entre os textos dos economistas endossam o que se espera de pré-candidaturas que são ideologicamente colocadas na esquerda ou na centro-esquerda, ou na direita e centro-direita. As ideias para o país dos "gurus" da economia de Lula e Ciro preveem a ação estatal como ferramenta chave para dinamizar a economia. Na mão oposta, os textos dos economistas de Doria e Moro enfatizam o potencial do setor privado e enxergam o Estado como, acima de tudo, um ente que daria "segurança jurídica" aos agentes de mercado.

Confira, abaixo, um resumo dos principais pontos de cada um dos textos dos economistas ligados aos concorrentes de Bolsonaro nas eleições de 2022:

Economista de Lula quer "ambicioso plano de investimentos"

O artigo sobre economia de um representantes do PT foi redigido por Guido Mantega, que foi ministro da Fazenda, do Planejamento e presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nas gestões petistas.

O texto elogia as realizações do PT nos campos social e econômico. Mantega, entretanto, aborda números e compara os dados atuais com elementos da economia de um intervalo que se encerra em 2013 ou, no máximo, 2014. A era PT se prorrogou até 2016, quando a então presidente Dilma Rousseff teve seu mandato interrompido pelo impeachment. E o biênio 2015/2016 foi quando o país enfrentou uma recessão histórica, com retração no PIB de 3,5% em 2015 e 3,3% no ano seguinte.

Segundo o ex-ministro, as políticas do governo Bolsonaro são uma continuidade do que foi implantado durante a gestão de Michel Temer (MDB), entre 2016 e 2018. E essas ações teriam como base o que Mantega chama de "neoliberalismo anacrônico", diminuição do investimento público e retirada de direitos da população mais pobre, entre outros adjetivos de desqualificação.

Como alternativa a isso, Mantega sugere a adoção de um "programa de desenvolvimento econômico e social" que contenha medidas emergenciais de combate à fome, investimentos de longo prazo coordenados pelo poder público, uma reforma tributária que amplie a taxação sobre os mais ricos e políticas governamentais de fortalecimento industrial e investimento tecnológico.

O texto na Folha é finalizado com uma advertência: "este artigo não expressa o ponto de vista da candidatura Lula, que ainda não foi lançada, sendo o resultado das discussões de um grupo de economistas que assessoram o ex-presidente Lula".

Para guru de Ciro, meta é realizar "elevados gastos com infraestrutura"

O presidenciável Ciro Gomes chamou o texto de Mantega de "uma das peças mais hipócritas e ambíguas já vistas". "Se o Brasil depender destes senhores para sair do atoleiro, vamos afundar de vez. A questão central – mudança do modelo de econômico – vira uma pergunta minúscula e covarde", publicou Ciro em seu perfil no Twitter.

O texto que defende seu programa econômico, assinado por Nelson Marconi, professor da FGV, procura diferenciar as propostas de Ciro do legado deixado pelas gestões do PT.

O artigo fala em um "modelo econômico fracassado que impera há décadas" e um quadro de desindustrialização e de dificuldades para os empreendedores que existe no país desde muito antes da chegada de Bolsonaro no poder.

Grande parte das propostas descritas por Marconi, entretanto, são similares às apresentadas por Mantega. O papel do Estado como indutor do crescimento é essencial na linha de raciocínio do economista ligado ao pré-candidato do PDT. Marconi fala, por exemplo, de "elevados gastos com infraestrutura e desenvolvimento", que seriam vitais para o crescimento. Também aborda que a contribuição estatal para a educação precisa ser incrementada. Em síntese, o texto defende "um plano nacional de desenvolvimento pactuado entre os setores público e privado".

A agenda ambiental é mencionada por Marconi como necessária para a preservação mas também como uma oportunidade de investimentos. A melhoria no setor, segundo o professor, estimulará "a inovação e sofisticação tecnológica, incluindo a microeletrônica, softwares e inteligência artificial. E pensemos em todos os serviços que serão demandados por estas atividades".

Economista de Moro espera crescimento por meio de "fortalecimento das instituições"

O texto que fala sobre o programa de governo de Sergio Moro, elaborado por Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central, destaca uma das diretrizes do presidenciável do Podemos: o fortalecimento das instituições, que é parte do projeto de combate à corrupção do ex-juiz da Lava Jato.

Segundo Pastore, a consolidação das instituições ampliaria a segurança jurídica do país, o que melhoraria o ambiente de negócios e contribuiria para a retomada do desenvolvimento econômico.

Segundo ele, essa proposta é diferente do praticado pelo atual governo, que opta pela "política de confronto". Já as gestões do PT, na ótica de Pastore, fizeram "capitalismo de compadrio e modelo de cooptação de apoio político". O fortalecimento das instituições defendido por Pastore contempla medidas como "o fim da reeleição para cargos executivos, eliminação de privilégios e a reforma do Judiciário".

A redução dos privilégios, para Pastore, abriria caminho para que o poder público acumulasse mais recursos, que poderiam ser revertidos a "setores e atividades com maior retorno social, isto é, que gerem ganhos para a sociedade como um todo, e não direcionados para barganhas políticas".

O texto descarta a ideia de "Estado mínimo", ao indicar que tal concepção foi abandonada há décadas. E argumenta que nações obtiveram sucesso econômico e social com diferentes receitas, como a proteção social menor nos EUA e o tamanho grande do Estado em países europeus. Mas ele aponta que o desenvolvimento da infraestrutura se dará com participação significativa do setor privado, por meio de programas de concessão.

Em uma sinalização de distanciamento das políticas do governo Bolsonaro, Pastore fala de "meta de um desmatamento zero" e da capacidade de o agronegócio ampliar sua produtividade "sem a necessidade de incorporar novas terras".

Plano de guru de Doria destaca investimento e produtividade

Quem assina o texto da pré-candidatura de Doria é Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, e que atualmente é secretário de Fazenda e Planejamento do governo paulista.

Na avaliação de Meirelles, a receita para o crescimento econômico é o aumento da taxa de investimento e a obtenção de ganhos de produtividade. Com relação ao segundo item, o ex-ministro afirma que a participação do setor privado é primordial.

Meirelles menciona a meta de um "Estado forte (que não precisa ser grande)", que atuaria principalmente na construção de quatro pilares: restabelecimento de um quadro macroeconômico estável, redução da desigualdade social, investimento na formação de capital humano e promoção de um ambiente de negócios que facilite a produção e seja ambientalmente sustentável.

Tal qual o texto da campanha de Moro, no artigo da equipe de Doria são utilizadas expressões que rementem à agenda ambiental, como o fortalecimento dos combustíveis verdes e o "desmatamento zero". A preservação da Amazônia é descrita como "imperativa".

O texto de Meirelles é concluído com um raciocínio que pode ser interpretado como um autoelogio: "​apenas uma equipe experiente, com resultados comprovados, será capaz de garantir as transformações necessárias ao Brasil".

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