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Ministro do Turismo, Gilson Machado, foi condecorado com a Ordem do Rio Branco por Bolsonaro: aliado é cotado para ser o vice na chapa com o presidente da República| Foto: Alan Santos/PR

Os ministros do Turismo, Gilson Machado, e da Cidadania, João Roma, entraram no radar do presidente Jair Bolsonaro (PL) como nomes bem cotados para ser vice em sua chapa de reeleição. Além de quadros da confiança do presidente, eles também contam com o apoio do caciques do Centrão. Além disso, ambos são do Nordeste – região em que Bolsonaro tem menos popularidade.

Gilson Machado – o "ministro sanfoneiro", apelido que ganhou por tocar sanfona – conta com o apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, para eventualmente ser vice de Bolsonaro. Natural de Recife (PE), o ministro sempre se posicionou como um defensor das tradições e da cultura nordestina e manteve o hábito de tocar uma sanfona, mesmo em eventos oficiais do governo.

Já João Roma, que articulou o Auxílio Brasil e cuida da execução do programa, conta com o apoio tanto dos caciques do PP, como também do Republicanos, seu partido. Roma poderia vir a ser um pacificador na relação de Bolsonaro com o Republicanos. O presidente da legenda, deputado federal Marcos Pereira (SP), deu sinais públicos de insatisfação com Bolsonaro.

A avaliação feita por Lira e Nogueira é de que Machado e Roma são nomes que podem agregar mais eleitoralmente a Bolsonaro do que o ministro da Defesa, Braga Netto, que segue como o nome mais cotado pela vontade pessoal de Bolsonaro. O Centrão entende que os ministro do Turismo e da Cidadania podem ajudar a puxar votos à chapa no Nordeste.

Por mais que Bolsonaro tenha em Braga Netto seu nome ideal, ele se mantém aberto para ouvir sugestões e gostou da sugestão de Machado e Roma para ser seu vice. Como Machado agrada à cúpula do PP e Roma é bem cotado também no Republicanos, a informação que circula no Palácio do Planalto e entre parlamentares da base do presidente na Câmara é de que os ministros estão bem cotados e com chances de serem escolhidos.

Entretanto, Bolsonaro ainda não fechou a escolha pelo vice e nem tem pressa para bater o martelo agora. Ele e o núcleo político que o auxilia na coordenação eleitoral entendem que o momento é de sondar o terreno. Segundo o próprio presidente, ele busca um nome "forte" para sua chapa. "As articulações existem. Estamos conversando", disse em em live de 18 de fevereiro. Em dezembro, afirmou em entrevista para a emissora VTV, afiliada do SBT, que desejava um vice que "agregue" e tenha "conhecimento de Brasil".

Como a relação entre Lira e Gilson Machado fortalece o ministro do Turismo

Um dos motivos que fortalece o nome de Gilson Machado para o posto de vice é a relação dele com Arthur Lira. Quando foi indicado ao Ministério do Turismo e tomou posse, em dezembro de 2020, muitos apontaram que ele foi uma escolha pessoal de Bolsonaro. Mas interlocutores do Planalto e aliados da base mais ideológica na Câmara dizem que ele foi uma indicação negociada em comum acordo entre os presidentes da Câmara e da República.

"A chegada do Gilson foi uma exigência do PP, que pediu a retirada do [deputado e ex-ministro da pasta] Marcelo Álvaro [Antônio] para a chegada do 'sanfoneiro' quando o Jair se aproximou do Centrão. Foi um apadrinhamento do Ciro [Nogueira] e do Arthur [Lira]", diz um deputado aliado da base governista.

Ao fim de 2020, o então ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, atual ministro-chefe da Secretaria-Geral, atuava junto à base para articular a candidatura de Lira à presidência da Câmara. Em um grupo de WhatsApp de ministros, Álvaro Antônio disse que Ramos havia oferecido o seu cargo ao Centrão para influenciar na eleição da Câmara. A mensagem de Álvaro Antônio foi mal vista e sua demissão se tornou iminente – e ocorreu em dezembro daquele ano.

Mas o que nem todos previam era que Gilson Machado permaneceria no cargo até 2022. "O Marcelo era um cara da extrema confiança do Jair, não tinha por que sair. Quando entrou o Gilson ninguém entendeu nada. Achava-se que era só uma exigência do PP e que ele iria ficar como um ministro 'tampão' para o partido definir quem colocaria no Turismo", relata um outro deputado aliado de Bolsonaro.

O que os governistas constataram posteriormente é que Machado foi uma indicação de Lira desde que foi indicado para a presidência da Agência Brasileira de Promoção Internacional do Turismo (Embratur) – cargo que ele ocupou antes de assumir o Ministério do Turismo. "Ele e o Arthur têm uma relação de proximidade. Quando foi a Alagoas, o Gilson já ficou na fazenda do Arthur", afirma um parlamentar da base.

No Planalto, interlocutores confirmam a proximidade entre Lira e Machado. Mas sustentam que o ministro tem as qualidades para a indicação para o posto de vice. "Ele encaixou bem no Turismo, performou corretamente e demonstrou habilidade política. É alguém que tem uma boa aceitação no PP e está com grandes chances de ser o vice", diz um assessor.

Por que Roma pode deixar de ser candidato a governador e virar vice

João Roma (Republicanos-BA), ministro da Cidadania.
João Roma (Republicanos-BA), ministro da Cidadania.

Até o momento, o discurso de João Roma ao público é de que sua pré-candidatura ao governo da Bahia está mantida. A ideia é que ele forneça palanque a Bolsonaro no estado, onde a disputa está polarizada entre o PT – que ainda vai definir seu pré-candidato após desistência do senador Jaques Wagner (BA) – e o ex-prefeito de Salvador ACM Neto (União Brasil).

Contudo, interlocutores do governo asseguram à Gazeta do Povo a possibilidade de o ministro sair candidato a vice de Bolsonaro. "O João Roma começou a ser sondado. Ele tem que estar preparado para ser convocado caso o ACM resolva fazer um gesto ao presidente [Bolsonaro]", afirma um assessor. Ou seja, se ACM Neto garantir palanque ao presidente na Bahia.

O governo está confiante de que Bolsonaro vai ascender nas pesquisas eleitorais nos próximos meses e que isso tornará sua candidatura mais atraente sob o ponto de vista de outros candidatos, a ponto de ACM Neto cogitar ceder palanque ao presidente da República. "Muita gente que está arredio vai começar a vir, por isso o Roma entrou no radar", afirma um deputado da base.

Outra possibilidade cogitada para Roma é tentar uma vaga ao Senado. No caso de ele não ser escolhido como vice, a alternativa estudada no Planalto seria uma composição com ACM para alçá-lo senador em uma costura política para atrair o ex-prefeito de Salvador para uma aliança com Bolsonaro. "O que se fala é que o vice será de um partido que não é do presidente, para agregar força política. Aí, temos que estudar um nome que pode, realmente, agregar força, e um quadro do Nordeste seria muito interessante", diz o deputado aliado.

Quais as entraves para que Gilson Machado ou João Roma sejam vice

Embora contem com o prestígio e apoio de Bolsonaro e do Centrão, Gilson Machado e João Roma ainda não são unanimidade entre os "cabeças" da coordenação eleitoral do presidente. E não se trata de uma situação específica em relação a eles. Outros nomes ainda são discutidos e testados junto à base do presidente da República.

Além de Machado e Roma, com quem Bolsonaro já sondou como alternativas para a vice, o presidente também já teve conversas com Braga Netto e outros três ministros: o das Comunicações, Fábio Faria; a da Agricultura, Tereza Cristina; e a da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves.

No Planalto, é dito que Bolsonaro conversou com cada candidato, mas não deu garantias a nenhum deles. "O que o presidente faz: joga para a plateia e quem fizer mais 'barulho' junto ao eleitor vence. Como percebeu que ninguém fez muito 'barulho', ele vai deixar essa decisão para depois", afirma um interlocutor de um dos ministros cotados.

A forma do Planalto e dos ministros "testarem" seus nomes como candidatos é pelo vazamento de informações à imprensa ou a blogs e sites de confiança. Após isso, as assessorias pessoais monitoram o engajamento pelas redes sociais e a reação de potenciais eleitores e dos próprios aliados das bases no Congresso e nos estados. Segundo um interlocutor palaciano, as avaliações colhidas sugerem que nenhum nome teve um engajamento muito superior ao outro.

Por esse motivo, embora esteja bem cotado por ter o apoio de caciques do Centrão e do próprio Bolsonaro, nem Machado, Roma e os outros ministros despontam como favoritos. Fora isso, é dito que o presidente da República e o núcleo político e eleitoral respeitarão as vontades e projetos pessoais de cada um.

Tereza Cristina, por exemplo, tem como desejo pessoal sair candidata ao Senado por Mato Grosso do Sul, embora também não descarte uma candidatura ao governo estadual, segundo aliados. Já Damares Alves tem dado indícios de que pode sair candidata ao Senado. Bolsonaro sugeriu que ela saísse candidata por São Paulo, mas ela ainda estuda outros estados, como o Amapá.

O deputado federal Sanderson (PSL-RS), vice-líder do governo na Câmara, confirma que Gilson Machado e outros quatro ministros são cotados para ser vice de Bolsonaro, mas sustenta que não há nada definido. "Ainda estão construindo o nome. Dizer que bateu o martelo e que vai ser um ou outro é apostar alto, porque a vice em 2018 foi definida nos últimos três dias", diz à Gazeta do Povo. "Eles vão testando se o cenário é bom, se cai bem entre o eleitorado 'bolsonarista' e do eleitorado em geral", complementa.

Que outros candidatos despontam como nomes para a vice-presidência

Outro motivo pelo qual Gilson Machado e João Roma podem não ser os indicados para a vice de Bolsonaro é a indefinição política de Fábio Faria. O próprio ministro das Comunicações anunciou no último dia 22 que não será candidato ao Senado. O arranjo costurado no Rio Grande do Norte, sua base eleitoral, é de que ele vai apoiar para a Câmara dos Deputados seu pai, o ex-governador Robinson Faria, e o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, para o Senado.

Uma alternativa que chegou a ser sondada pelo ministro foi sair como candidato ao governo do Rio Grande do Norte em uma chapa com Marinho ao Senado, o que permitiria apoiar o pai à Câmara. Contudo, o arranjo discutido atualmente é que ele apoie o deputado estadual Ezequiel Ferreira (PSDB), presidente da Assembleia Legislativa do estado, ao governo.

Sem um cargo para disputar, ele, que é deputado federal licenciado pelo PSD, pode despontar como um nome para a vice de Bolsonaro. No PP, é dada como certa a filiação de Fábio Faria ao partido. Ciro Nogueira, presidente licenciado da sigla, gosta muito do ministro e vai discutir com ele a melhor alternativa, o que inclui a vice ou a permanência de Faria como ministro e como auxiliar na nova estratégia de comunicação institucional liderada pela Casa Civil.

"A possibilidade de ele [Faria] não ser candidato a nenhum cargo e atuar na campanha do presidente é bem significativa", sustenta um interlocutor do Planalto. Segundo o deputado Sanderson, os ministros Faria, Machado, Roma, Braga Netto, Tereza Cristina e Damares são nomes ainda sendo sondados, mas ele não descarta que surja um outro nome de fora. "E isso, nem o presidente Bolsonaro sabe", pondera.

Um deputado da base insiste, contudo, que Faria já está descartado quanto à possibilidade de ser candidato a vice. "O Fábio tá fora do radar já. Ele vai se dedicar às coisas pessoais da família", diz, citando que o ministro das Comunicações estaria mais propenso a adotar uma espécie de quarentena política.

Um dos nomes cotado nos bastidores é o do ex-senador Magno Malta (PL-ES), que chegou a ser procurado por Bolsonaro em 2018 para ser seu vice. Em seu partido, a informação não é confirmada, uma vez que o discurso é de que ele será o pré-candidato ao Senado. Mas outros parlamentares da base e interlocutores do governo dizem que ele é um nome que desponta com força.

"O Magno está ganhando força porque refez a imagem dele. E, quando não está com o presidente, está com os ministros. É o único cara que tem rodado o país inteiro com o governo", diz um interlocutor do governo. "Quando era deputado, por diversas vezes Bolsonaro ficava na sala de espera do Magno para ser atendido e pedir conselho. Magno sempre foi respeitado pelo presidente. Muito do movimento pró-vida e o combate à pedofilia se deve a ele, porque ele sabe fazer barulho", complementa.

No Planalto, o nome de Malta não tem muita força. A informação de bastidor é de que ele não tem o perfil de discrição almejado por Bolsonaro – alfo que torna o ministro da Defesa seu nome favorito. "O Braga Netto é a pessoa da absoluta confiança dele [de Bolsonaro]. Se o presidente puder e o Centrão deixar ele escolher, ele ficaria com o Braga Netto", diz um interlocutor. "Mas a vice é a última coisa que ele vai escolher, vai bater o martelo no último segundo."

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