• Carregando...
A Fiesp é uma das entidades empresariais que estão apresentando suas propostas aos candidatos à Presidência. Federação também os convida a assinar manifesto em defesa da democracia.
A Fiesp é uma das entidades empresariais que estão apresentando suas propostas aos candidatos à Presidência. Federação também os convida a assinar manifesto em defesa da democracia.| Foto: Julia Moraes/Fiesp

Às vésperas das eleições presidenciais, entidades e grupos de empresários estão fazendo esforços para passar seus "recados" aos presidenciáveis: marcando reuniões, fazendo manifestos e distribuindo documentos. É uma prática que já foi adotada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Confederação Nacional do Comércio (CNC) e Confederação Nacional do Transporte (CNT).

O modelo também vem sendo adotado por novos grupos formados por donos de empresa, ou que incluem empresários. É o caso do Esfera Brasil, que chegou a marcar um jantar para o dia 11, com o presidente Jair Bolsonaro (PL), e o Derrubando Muros, que no início do mês lançou uma agenda para o país. Ciro Gomes (PDT), Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Simone Tebet (MDB) já manifestaram interesse em se reunir com o grupo.

Os empresários são um grupo que vem sendo cortejado por Bolsonaro desde o lançamento da sua pré-campanha, em 27 de março. Levantamento feito pelo site Poder360 mostra que o presidente se encontrou com eles pelo menos 37 vezes no período. Pouco mais de 40% dos encontros foram com representantes do agronegócio. Uma das principais figuras na agenda presidencial, desde o início do mandato, é o empresário Luciano Hang, dono da Havan.

CNI apresenta reivindicações aos candidatos

A indústria é possivelmente o setor que mais detalhou suas reivindicações aos candidatos. A CNI apresentou aos candidatos 21 estudos temáticos em áreas tão diversas quanto tributária, transporte, energia, e ambiente macroeconômico. E realizou um encontro ao qual compareceram três dos quatro primeiros colocados da mais recente pesquisa PoderData de intenção de votos – Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB). A exceção foi Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder em intenção de votos desse mesmo levantamento (confira a metodologia ao fim desta reportagem).

“A estabilidade macroeconômica é essencial, porque cria o ambiente de estabilidade. Sem ela, é impossível traçar o caminho que leva ao crescimento econômico”, explicou em nota o presidente da CNI, Robson de Braga Andrade.

No encontro, Ciro Gomes afirmou que é necessária uma indústria poderosa, que lidere o centro de estratégia de desenvolvimento do país. Ele prometeu aumentar o nível de investimento na economia, recriar o Ministério da Indústria e Comércio a assinar um pacto de cooperação entre governo e setor privado para hierarquizar o que precisa ser feito em uma época de escassez de dinheiro público.

Assim como o pedetista, Bolsonaro também se comprometeu a recriar o Ministério da Indústria e Comércio, que ele próprio extinguiu no início de sua gestão, na fusão de pastas que deu origem ao Ministério da Economia. Bolsonaro disse esperar que os Estados Unidos invistam mais no Brasil como forma de frear o crescimento do aporte de empresas da China no país.

Simone Tebet defendeu a pacificação política do país como caminho para colocá-lo na rota do crescimento econômico: “O Brasil precisa crescer, precisa de paz, precisa acabar com a polarização para ter estabilidade”.

Fiesp quer políticas industriais modernas

Outra federação tradicional no setor fabril que encaminhou propostas foi a Fiesp, cujo presidente é Josué Gomes da Silva, filho de José Alencar, vice-presidente nos governos Lula (2003-10).

A entidade reivindica a adoção de políticas industriais modernas. “Um novo consenso, baseado nas experiências internacionais e levando em conta as mudanças tecnológicas e a sustentabilidade, recoloca o setor industrial como o motor da retomada econômica. Para isso são necessárias soluções estruturais e não conjunturais”, cita o texto, também encaminhado pelo Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp).

Além disso, a Fiesp elaborou um manifesto em defesa da democracia, que já foi assinado por mais de cem entidades, entre elas a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomércioSP), a Câmara Americana de Comércio (Amcham) e a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).

A CNI decidiu não assinar o documento, com a justificativa de que ele pode acirrar tensões e de que mantém diálogo com todos os políticos.

A federação paulista também está promovendo encontros com os candidatos. Um dos que já participou da rodada de conversas com os empresários foi Ciro Gomes, que afirmou que pretende desonerar a compra de bens de capital e reformar o sistema tributário e a Previdência como forma de alavancar a capacidade produtiva da indústria.

Bolsonaro cancelou a participação no evento da Fiesp prevista para o dia 11. Na mesma data, a entidade pretende lançar seu manifesto pela democracia. Outro documento, similar, será apresentado no mesmo dia pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP). Logo nos primeiros dias, esse manifesto foi assinado por banqueiros, economistas e ex-ministros do Supremo Tribunal Federal.

Segundo o G1, o presidente não descartou ir à Fiesp em outra data para debater diretrizes e prioridades com os empresários. Bolsonaro, que já havia criticado a carta da USP, afirmou que não vai assinar o manifesto da Fiesp. "Eu comprovo que sou democrata pelo que fiz", disse.

Lula deverá se reunir no dia 9 com os industriais paulistas. Ele e seu vice Geraldo Alckmin (PSB) já tiveram um encontro prévio com empresários na sede da entidade em 5 de junho. Além de Josué Gomes, participaram representantes do Bradesco, Ambev, Magazine Luiza, Iochpe, Google e Itaú. Segundo a CNN, foram discutidos temas relacionados à economia, educação, meio ambiente, comércio exterior e agronegócio.

Quem também já esteve na Fiesp foi Simone Tebet. Ela defendeu a estabilidade, a segurança jurídica e a sensibilidade social, sem perder de vista a responsabilidade fiscal, para poder zerar gradativamente a miséria, com transferência de renda. “Queremos um governo parceiro da iniciativa privada. O Estado é aquele que garante políticas públicas, mas deve deixar a iniciativa privada produzir e gerar emprego e renda”, disse a emedebista.

CNC apresenta pontos fundamentais para o crescimento

Quem também encaminhou propostas aos presidenciáveis foi a Confederação Nacional do Comércio. O documento apresenta pontos fundamentais “para a promoção do desenvolvimento econômico, a redução das desigualdades e a construção de uma paz social duradoura.”

As reivindicações do comércio e serviços estão relacionadas à legislação tributária, empresarial, trabalhista, ambiental e sindical; estabilidade macroeconômica; estímulos ao comércio exterior; racionalização do setor público; modernização da infraestrutura e atenção à educação e ao bem-estar social.

A CNC já se encontrou com Bolsonaro, Lula e Tebet, aos quais apresentou sua agenda institucional. O atual presidente afirmou que pretende recriar o Ministério da Indústria e Comércio, com representante indicado pelo setor. Promessa similar foi feita à CNI e durante reunião com empresários na Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).

Lula abriu espaço para negociações com a entidade. “Se tudo for acordado previamente, teremos menos problemas e poderemos construir o país que sonhamos, em que as pessoas possam consumir e os empresários terem seus ganhos.”

Tebet, por sua vez, disse à confederação do comércio que é preciso "investir em empreendedorismo e entender que o mercado e a iniciativa privada são nossos parceiros".

CNT promove rodadas de diálogo com candidatos

A Confederação Nacional do Transporte está realizando uma série de rodadas de diálogo com os presidenciáveis e está também está apresentando uma série de propostas que visam fomentar a geração de emprego, o crescimento econômico e a sustentabilidade ambiental e energética. “Quanto mais uma nação produz, maior é a sua interface com o transporte e a logística”, diz o presidente da entidade, Vander Costa.

Lula foi o primeiro dos candidatos a se encontrar com representantes da entidade. Ele afirmou pretende trabalhar em uma tramitação “fatiada” de alterações no modelo tributário brasileiro. A CNT aguarda confirmações de outros candidatos para poder entregar o documento com as reivindicações do setor de transporte e logística.

Febraban se reúne com canidatos

Outra entidade que vai se reunir com os candidatos é a Federação Brasileira dos Bancos (Febraban). O objetivo é apresentar a visão da indústria financeira e permitir que eles falem sobre a economia brasileira. O primeiro a ser ouvido será Jair Bolsonaro (PL), que criticou a entidade por aderir ao manifesto pró-democracia da Fiesp. O encontro está marcado para segunda-feira (8). Outros candidatos também devem ser ouvidos.

Quem é o Esfera Brasil

Grupos de empresários também estão se articulando para encaminhar propostas aos candidatos ao Planalto. Um deles é o Esfera Brasil, que chegou a marcar um jantar com o presidente Jair Bolsonaro no dia 11. O evento foi desmarcado para evitar, segundo o G1, uma “saia justa” para esse grupo.

Os empresários temiam ser rotulados como apoiadores de Bolsonaro em suas críticas ao sistema eleitoral e aos manifestos pró-democracia encampados pela Fiesp e pela Faculdade de Direito da USP, que serão apresentados no mesmo dia em que ocorreria o jantar de Bolsonaro com o Esfera Brasil.

O Esfera Brasil se define como uma organização criada para fomentar o pensamento e o diálogo sobre o Brasil, um think tank que reúne empresários, empreendedores e a classe produtiva. “Somos independentes e apartidários e temos a missão de engajar líderes em prol do Brasil, gerando discussões que vão permitir a construção de um país melhor”, destaca o grupo em seu site.

O Esfera Brasil diz que a sua missão é ser um polo aglutinador do empreendedorismo brasileiro, promovendo diálogos entre empresas, governos e instituições e estimulando debates produtivos, de forma republicana.

A organização afirma que busca trazer o equilíbrio para um país que sofre, dividido. E que defende a transparência, a ética, a pluralidade. “Apoiamos o capitalismo de stakeholder, o ESG, a diversidade, a equidade e a inclusão.”

O idealizador e presidente do grupo é João Carlos Camargo, um dos sócios da 89 Investimentos, uma gestora de recursos independente com atuação nas áreas de logística, incorporação e comunicação. É sócio das rádios Alpha FM, Band News FM, Nativa e 89 FM.

Outra figura importante no grupo é Eduardo Vieira, co-fundador e sócio do Esfera Brasil. Ele, também, é sócio líder de marketing e comunicações do Soft Bank para a América Latina.

Quem é o Derrubando Muros

Quem também pretende se encontrar com os presidenciáveis é o grupo Derrubando Muros, que reúne 102 pessoas, entre ativistas, cientistas, comunicadores, acadêmicos, empresários e políticos, e vem há meses discutindo soluções para o futuro do Brasil.

Segundo o “Estadão”, Lula, Simone Tebet e Ciro Gomes (PDT) já deram sinais de que pretendem participar das reuniões. A intenção é de que elas ocorram ainda em agosto. Ao jornal paulista, o coordenador do Derrubando Muros, Yacoff Sarkovas, disse que "serão convidados apenas candidatos do campo democrático" e que Bolsonaro "não habita este território".

“Queremos demonstrar que o Brasil tem jeito e que a sociedade civil há muito assumiu o protagonismo na elaboração dos melhores diagnósticos setoriais e proposições de políticas públicas para nossos problemas crônicos”, diz Sarkovas, em nota.

O grupo avalia que há uma degradação das condições gerais do país e que o país vem remando de lado, com uma economia tradicional, pouco resiliente, basicamente produtora de commodities e serviços com pouquíssimo impacto na economia mundial.

O Derrubando Muros reúne especialistas como Ana Toni, diretora executiva do Instituto Clima e Sociedade; Fersen Lambranho, presidente do conselho da GP Investimentos; Horácio Lafer Piva, empresário ligado à Klabin; Joana Monteiro, coordenadora do Centro de Ciência Aplicada à Segurança da FGV; Pedro Hallal, epidemiologista e ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas (Ufpel); Ricardo Henriques, economista especializado em educação, desigualdade e distribuição de renda; e Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (Ibre/FGV).

Metodologia da pesquisa citada

O levantamento do PoderData, que contratou a própria pesquisa, ouviu 3,5 mil eleitores em 322 municípios das 27 unidades da federação entre os dias 31 de julho e 2 de agosto de 2022. As entrevistas foram feitas por telefone, para fixos e celulares. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos e o nível de confiança é de 95%. Foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o número BR-08398/2022.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]