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Bolsonaro Norte
Presidente Jair Bolsonaro durante entrega de títulos de propriedade rural em Paragominas (PA): Região Norte é o que mais aprova o presidente| Foto: Alan Santos/PR

Candidato preferido dos eleitores do Norte do país em 2018, Jair Bolsonaro se sagrou vencedor da corrida presidencial na região nos dois turnos. No primeiro, recebeu 42% dos votos mesmo tendo seu trabalho como deputado federal pouco conhecido. No segundo turno, ele ampliou a vantagem para 52% – foram 4,24 milhões de votos. Bolsonaro foi eleito presidente da República em outubro daquele ano com 55% dos votos válidos em todo o país.

Agora, quatro anos depois e pré-candidato à reeleição, ele pode ter consolidado e até ampliado sua base eleitoral na Região Norte. Pesquisas eleitorais recentes apontam que Bolsonaro tem os maiores índices de aprovação e intenção de voto no Norte em relação às demais regiões.

Segundo levantamento da FSB/BTG divulgado em abril, 41% dos eleitores das regiões Norte e Centro-Oeste consideram o governo ótimo ou bom. Outra pesquisa, do Poder Data e divulgada também em abril, mostra que Bolsonaro tem 48% das intenções de voto no Norte, enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 31%. Os sete estados da Região Norte somam quase 12 milhões de eleitores.

O cientista político Alex Fiúza de Mello, ex-reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA), entende que os números estão "próximos da realidade" e sugerem uma consolidação de votos em Bolsonaro em relação há quatro anos. "Em 2018, ele era um deputado desconhecido e foi eleito na região muito mais pelo antipetismo. Agora, existe o que se chama de bolsonarismo, que é uma realidade. Uma parcela ainda deve votar nele por ser anti-PT, mas a maioria deve votar por ele", avalia.

Para Mello, que é professor aposentado de ciência política, Bolsonaro terá uma penetração própria na região independentemente de quem esteja com ele nos palanques, o que joga a favor de seu projeto de reeleição. "Ele mobiliza espontaneamente o povo a partir dele mesmo, não perdeu a dimensão populista de discurso e consegue falar uma linguagem popular", elenca. Segundo o analista, Bolsonaro "passa um sentimento de sinceridade, não é uma representação artificial, e isso transmite uma mensagem de confiança ao eleitor".

Mas, além do carisma, o que explica essa aparente preferência por Bolsonaro? Fiúza de Mello, interlocutores do governo e parlamentares da base ouvidos pela Gazeta do Povo citam, entre algumas razões, a regularização de terras na região, os pagamentos do auxílio emergencial, do Auxílio Brasil e de outros benefícios sociais, e o apoio a obras de desenvolvimento que geram renda e emprego, e melhoram a infraestrutura do Norte brasileiro.

O impacto do Auxílio Brasil e dos demais programas sociais

É quase indiscutível que o alcance dos programas sociais se reflete nos bons índices alcançados por Bolsonaro na região. Em 83,5% das cidades do Norte do país, o número de beneficiários do Auxílio Brasil ultrapassa o total de trabalhadores com carteira assinada, segundo levantamento da Gazeta do Povo a partir de dados do Caged.

Outros programas sociais com capilaridade na região é o benefício de prestação continuada (BPC) e o seguro defeso, benefício de acesso ao seguro-desemprego do pescador artesanal, além do Tarifa Social, programa que oferece descontos na conta de luz. "Hoje, tem gente ganhando R$ 1 mil em benefícios sociais", diz um interlocutor do Palácio do Planalto.

Além dos programas sociais, também é destacado no governo o trabalho social desenvolvido pelo Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos com os povos quilombolas e indígenas, e a entrega de cestas básicas durante a pandemia. Outro exemplo citado é o programa Abrace o Marajó, que buscou melhorar o índice de desenvolvimento humano (IDH) dos municípios da região.

O Auxílio Brasil é apontado por Fiúza de Mello como o "carro-chefe" que impulsiona Bolsonaro na região, mas ele avalia que mesmo ações como o Abrace o Marajó são muito bem recebidas pelo eleitor. "A memória do Bolsa Família, que se transformou em Auxílio Brasil, está presente na grande massa. Isso tende a avançar o apoio, mas outras ações sociais têm um efeito simbólico de repercussão imenso", destaca.

Para o cientista político, mesmo a pandemia não foi desfavorável para Bolsonaro. A avaliação é que a maioria das pessoas usou as redes sociais para obter informações e foi muito influenciada pelo pagamento do auxílio emergencial, que ficou associado na região ao presidente. "A pandemia foi péssima para a imagem dos governadores e positiva para a do governo", sentencia.

Regularização fundiária é bem recebida na região

Outra ação que melhora a imagem de Bolsonaro no Norte é a regularização fundiária. Em todo o Brasil, o governo federal já fez a entrega de 344.409 títulos de propriedades rurais nos últimos três anos. O deputado federal Joaquim Passarinho (PL-PA), vice-líder do governo na Câmara, ressalta a importância da entrega de títulos definitivos em terras de assentamento.

"O governo deu 85 mil títulos [no Pará]. Antes, desde a criação do Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária], foram cerca de 43 mil. É uma revolução", avalia. Só em abril, o governo entregou no estado 30 mil títulos de propriedade rural para famílias de agricultores de assentamentos em solenidade que contou com a presença de Bolsonaro.

"Isso dá garantia na terra, acaba com conflitos agrários. O produtor rural precisa de título, sem isso, não tem garantia para nada, não consegue nem ter conta no banco", afirma Passarinho.

Embora a titulação de terras e regularização de loteamentos seja uma política pública desenvolvida em âmbito nacional, o Norte é uma das regiões onde ela tem peso maior, dizem interlocutores governistas.

A preocupação com a regularização fundiária é tão grande no governo que Bolsonaro reagiu assim quando foi informado da suspensão de atividades consideradas "não urgentes" no Incra por causa da falta de recursos. "Se não tiver recurso, corta de algum ministério", disse.

"Precisamos de mais recursos, porque custa dinheiro você mandar o pessoal para lá, trabalhar, emitir o respectivo título de propriedade. Isso não pode parar. Eu estou pronto para falar com o [ministro da Economia] Paulo Guedes", declarou o presidente.

Desenvolvimento econômico, obras públicas e agenda conservadora

A regularização fundiária possibilitou ao governo destravar o desenvolvimento econômico na região, de acordo com avaliação da base governista na região. O deputado Capitão Alberto Neto (PL-AM), vice-líder do governo na Câmara, aponta que, no sul amazonense, vários títulos de terra foram entregues, algo que não ocorria em governos anteriores.

O parlamentar afirma que as gestões anteriores demarcaram muitas terras no Norte para indígenas e áreas de proteção ambiental, o que teria deixado os moradores com poucas opções para se desenvolver. "A população estava sem condições de plantar e colher com o suor do seu rosto para poder prosperar, e isso foi causando uma revolta grande. Isolaram a região norte nos governos anteriores e não permitiram que tivesse viés econômico para prosperar e reduzir as desigualdades regionais", destaca.

Alberto Neto aponta que há uma defesa da população em destravar o desenvolvimento sustentável e que o governo atual torna isso possível. "Não queremos mais ser escravizados no isolamento geográfico. Queremos, sim, proteger a floresta amazônica, mas ter nossa regularização fundiária para plantar, colher e obter minério de forma responsável. No Amazonas, por exemplo, temos potássio, que é uma matriz econômica muito importante, especialmente no atual momento, onde o preço dos fertilizantes triplicaram", explica.

Até mesmo a defesa de Bolsonaro pela regularização da mineração em terras indígenas é apontado como um diferencial positivo ao governo, avalia o deputado federal Hiran Gonçalves (PP-RR). "Temos garimpagem aqui que podia ser regularizada e gerar bem-estar a todos. Só grandes financiadoras de garimpo, hoje, ganham dinheiro", afirma.

"Muitos adoram criticar o projeto, mas ninguém aguenta meio dia no garimpo, um negócio totalmente inóspito, perigoso, sem segurança social, nada. As pessoas não vão para lá porque é bacana, vão lá para sobreviver e são exploradas por outras pessoas que têm maquinário. São pessoas que têm família, que querem sustentar seus filhos e uma vida melhor, temos que regulamentar", diz Gonçalves.

O deputado lembra ainda o projeto de construção do Linhão de Tucuruí, que ligará Roraima ao Sistema Nacional de Energia, passando por dentro da Terra Indígena Waimiri-Atroari, como outro avanço. Bolsonaro assinou a autorização de compensação ambiental e financeira para as comunidades indígenas em reunião com o governador de Roraima, Antonio Denarium (PP), no início de maio.

"É um sonho de 40 anos que muitas pessoas esperam e tem um impacto muito grande na vida das pessoas. E todo mundo identifica que é uma possibilidade de passarmos por período de grande crescimento. Ele [Bolsonaro] reuniu o Conselho de Defesa Nacional, chegamos a um acordo com as comunidades indígenas e vamos, se Deus quiser, acertar a compensação", disse Gonçalves.

Outros obras em infraestrutura são enaltecidas, como a ponte do Abunã, na BR-364/RO, uma reivindicação histórica da população de Rondônia e do Acre, e a concessão da BR-163, considerada a principal rodovia da "rota da soja", que liga Mato Grosso ao Pará.

O deputado federal Alan Rick (União Brasil-AC) cita ainda a defesa de pautas da segurança pública e da agenda conservadora do governo como outros motivos que impulsionam Bolsonaro no Norte. "A pauta de costumes é muito cara ao Acre, por exemplo, pois somos um estado com mais de 45% de evangélicos. A população é extremamente aliada ao presidente nos costumes, no combate ao aborto, à ideologia de gênero e à descaracterização da família tradicional", afirmou.

Metodologia das pesquisas citadas

Sobre a pesquisa FSB/BTG, o Instituto FSB Pesquisa ouviu, por telefone, 2 mil eleitores entre os dias 22 a 24 de abril de 2022. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com intervalo de confiança de 95%. A pesquisa foi encomendada pelo banco BTG Pactual e está registrada no TSE com o protocolo BR-04676/2022.

A pesquisa PoderData, que contratou a própria pesquisa, foram ouvidos 3 mil eleitores entre os dias 24 e 26 de abril de 2022. O levantamento foi registrado no TSE sob o número BR-07167/2022. A margem de erro geral é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos. A margem de erro na região Norte é de 6,4 pontos percentuais.

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