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Ciro Gomes não decola
Polarização, mesma ideologia e falta de apoio entre outros fatores, explicam porque Ciro Gomes não decola na campanha deste ano.| Foto: Mariana Alves/divulgação PDT

Partindo para sua quarta tentativa de chegar ao Palácio do Planalto, o candidato do PDT à Presidência da República Ciro Gomes não deve ter uma trajetória fácil na campanha deste ano. Com o apoio de somente nove governadores e do próprio partido, e ainda tendo que dividir palanque em alguns estados, o caminho dele na busca pelos votos dos eleitores promete ser mais difícil do que o de outros adversários.

Nas últimas pesquisas nacionais realizadas pela Genial/Quaest, Paraná Pesquisas e Datafolha, Ciro aparece na terceira posição com intenções de voto que variam de 5% a 8%, bem atrás dos primeiros colocados Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

Além disso, aliados que disputam os governos dos três maiores colégios eleitorais do país – Elvis Cezar (PDT de São Paulo), Marcus Pestana (PSDB de Minas Gerais) e Rodrigo Neves (PDT do Rio de Janeiro) – tiveram um baixo desempenho nas pesquisas mais recentes (veja os números, as metodologias e os registros das pesquisas no fim da reportagem).

Aliás, no Rio de Janeiro, Rodrigo Neves deu sinais de apoio ao PT ao participar de um evento no começo de julho em prol da candidatura de Lula. Neves justificou, depois, afirmando que o PDT está com Ciro, mas que “é fundamental construir no Rio uma frente ampla que reúna os democratas”.

Assim como o apoio do mineiro Marcus Pestana à sua candidatura. No cenário nacional, os tucanos estão fechados com Simone Tebet (MDB) à Presidência da República, o que também gera dúvidas sobre o que vem pela frente para Ciro no estado.

Rodrigo Prando, cientista político e sociólogo do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas (CCSA) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM), vê uma situação difícil e longe de ser favorável para o pedetista. Para ele, esta é a eleição presidencial mais difícil que Ciro já concorreu, pois enfrenta dois candidatos com uma forte musculatura político-eleitoral e uma militância idem em um cenário de polarização nunca antes visto.

“De um lado temos o ex-presidente Lula, que concorre à Presidência desde 1989, o que o torna o nome mais conhecido na política brasileira. E, do outro, o atual presidente Bolsonaro, que tem a força da caneta para a liberação de recursos para pessoas em situação de vulnerabilidade, o que impacta eleitoralmente nas pesquisas. O que significa que Ciro e qualquer outro representante da chamada ‘terceira via’ acaba espremido frente a esses dois líderes carismáticos e com perfis messiânicos”, analisa.

Ciro não tem a preferência dos eleitores nem mesmo no Ceará, seu reduto eleitoral. Roberto Cláudio, candidato pedetista ao governo do estado, aparece em segundo nas intenções de voto, com 29,2%, atrás de Capitão Wagner (União Brasil), que tem 44,5% segundo levantamento do Paraná Pesquisas divulgado em julho (veja metodologia). A mesma pesquisa mostrou Ciro com 14,7% das intenções de voto no Ceará, atrás de Lula (42,1%) e Bolsonaro (28,6%). Além disso, Ciro enfrenta um racha no próprio partido – a atual governadora Izolda Cela se desfiliou do PDT após o partido ter escolhido Roberto Cláudio como candidato em vez dela.

Em outro estado governado por um pedetista, o Amapá, a costura do apoio do partido também não favorece Ciro. O atual governador Antônio Waldez Góes foi eleito em 2014 e reeleito em 2018, e não pode concorrer de novo. Ele apoia o ex-prefeito de Macapá, Clécio Luis (Solidariedade), que deve dar palanque a Lula.

Apoio em troca da vice-presidência não chegou

Ciro não decola
A escolha de Ana Paula Matos (PDT) para ser vice de Ciro Gomes ocorreu no último dia do prazo para os partidos realizarem as convenções internas.| Keiny Andrade/divulgação PDT

Outra dificuldade enfrentada por Ciro Gomes foi a atração de mais siglas para formar uma coligação nacional entorno da sua candidatura. Tanto que a escolha do nome para vice só veio na data-limite, a última sexta-feira (5), com o anúncio da vice-prefeita de Salvador, Ana Paula Matos, do próprio PDT, para formar a chapa "puro-sangue".

Ciro chegou a ter conversas com o PSD e o União Brasil, mas não conseguiu fechar com nenhum deles. O primeiro encerrou a fase de convenções se mantendo neutro na eleição deste ano, enquanto que o segundo optou em ir para a disputa presidencial com a senadora Soraya Thronicke.

“Os políticos se aproximam ou se repelem em determinado candidato pela possibilidade dele conquistar ou manter o poder. Quem vai fazer aliança leva em consideração quais são as chances concretas do presidente Bolsonaro continuar no poder, ou seja, a manutenção do poder, ou as chances reais e concretas do Lula de vencer e conquistar novamente o poder”, explica Rodrigo Prando.

Para o sociólogo, essa polarização influenciou diretamente na escolha do vice, que acabou tornando Ciro pouco atrativo frente ao peso político-eleitoral de seus dois concorrentes.

Fator Lula impede crescimento de Ciro

Outro fator apontado como impeditivo para o crescimento de Ciro nas pesquisas eleitorais é a própria posição ideológica dele, de centro-esquerda e esquerda, a mesma em que orbitam os eleitores de Lula – principalmente após a escolha de Geraldo Alckmin (PSB) como vice, que teve como objetivo aplacar receios de um esquerdismo extremo do petista.

Para Prando, até mesmo a escolha do marqueteiro João Santana, que tenta posicionar o pedetista como uma nova liderança desses espectros ideológicos, pode se mostrar frustrada. Santana foi o responsável pela comunicação petista em eleições passadas.

“São estratégias daqueles que estão tentando de todas as formas possíveis ampliar o seu eleitorado. Então, você vê que o Ciro tem um marqueteiro já bastante conhecido, que fez campanha dos candidatos do PT, alguém que tem uma longa trajetória no marketing político. O Ciro começou a remodelar a sua imagem tentando se aproximar da juventude, com jogos, com podcast e tudo mais. A grande questão é que o Ciro, de fato, atira nos dois candidatos. Mas, na situação que a gente tem, esses dois congregam o percentual maior de intenções de voto [segundo as pesquisas eleitorais já mencionadas]”, analisa.

A desistência de André Janones (Avante) à corrida presidencial para apoiar Lula é outro sinal de disputa pelo voto dos mais jovens, principalmente nas redes sociais – um dos principais canais de comunicação de Ciro.

Bastante ativo na internet, Janones já começou a campanha, na última semana, pedindo votos para o petista e tornando o próprio PT mais moderno nessa comunicação. O que pode influenciar também na mudança da preferência de seguidores do Ciro.

“Claro que os ciristas, os apoiadores do Ciro, se distanciam do lulopetismo e tudo mais. Mas, essa é a militância mais arraigada, mais potente na discussão inclusive nas redes sociais. Uma parcela daqueles que votam no Ciro por reconhecer nele qualidades intelectuais, capacidade de liderança política, de boa gestão... podem, inclusive, ainda nesse primeiro turno, fazer um voto útil, portanto abandonando Ciro e indo em direção à candidatura do ex-presidente Lula”, pondera Prando que acredita, ainda, num desejo dos eleitores de encerrarem a disputa o quanto antes.

Para Ciro, urna vale mais que pesquisa

O baixo desempenho nas pesquisas de opinião, apontado como uma dificuldade por analistas, já foi minimizado por Ciro em diversas ocasiões. Numa delas, durante a sabatina promovida pela GloboNews há duas semanas, o pedetista citou a virada de candidatos brasileiros que contrariaram os levantamentos.

"Quem era o [Wilson] Witzel dez dias antes da eleição? Ninguém. Vamos a Minas Gerais. Quem era o [Romeu] Zema a 10, 15 dias antes da eleição? Ninguém", disse, se referindo ao ex-governador do Rio de Janeiro e ao atual governador de Minas Gerais, respectivamente, que venceram as eleições em 2018.

Para Rodrigo Prando, a comparação da candidatura de Ciro com as de Witzel e Zema não faz sentido. Isso porque os candidatos eram relativamente uma novidade para os eleitores, diferentemente do pedetista, que já está em sua quarta tentativa de chegar à Presidência da República.

“No fundo, é óbvio que ele tem que manter acesa essa chama da esperança política. Tem muito de resiliência, da manutenção da militância animada, mas é uma argumentação mais difícil de se enquadrar”, conta.

A expectativa por uma "virada" é uma posição comum a outros presidenciáveis que aparecem atrás nos levantamentos. O mesmo argumento já foi levantado também por Simone Tebet, candidata do MDB, e Felipe d'Avila, do Novo.

“O Ciro está fazendo tudo o que é possível fazer, mas este possível, numa situação dessa polarizada entre Lula e Bolsonaro, acaba se mostrando pouco eficiente. De novo: isso pode mudar? Claro, a política é imponderável pelas ações humanas, pelos golpes do acaso, da sorte e tudo mais. A grande questão é que, até o momento, o cenário indica uma cristalização da decisão do eleitor em duas figuras”, conclui Prando.

Metodologia das pesquisas citadas

Genial/Quaest – presidente da República
A pesquisa divulgada pela CNN Brasil em 3 de agosto foi realizada pelo instituto Quaest e contratada pelo Banco Genial. Foram ouvidos 2.000 eleitores presencialmente entre os dias 28 de julho e 31 de julho de 2022 em todas as regiões do país. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, e o intervalo de confiança é de 95%. O levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral, sob o protocolo BR-02546/2022.

Paraná Pesquisas – presidente da República
O Paraná Pesquisas entrevistou pessoalmente 2.020 pessoas com 16 anos ou mais entre os dias 28 de julho e 1º de agosto de 2022 em 161 municípios brasileiros, em 26 estados e no Distrito Federal. A margem de erro é de 2,2 pontos percentuais e o nível de confiança atinge 95%. O levantamento foi contratado pela corretora BGC Liquidez e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-05251/2022.

Datafolha – presidente da República
O Datafolha entrevistou 2.556 eleitores entre os dias 27 e 28 de julho em 183 cidades. O levantamento foi contratado pelo jornal Folha de S. Paulo e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo BR-01192/2022. A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos, e o nível de confiança é de 95%.

Real Time Big Data - São Paulo
A pesquisa encomendada pela Record TV ao Instituto Real Time Big Data mostrou Elvis Cezar (PDT) com 1% das intenções de voto, colocando o candidato de Ciro em 5º lugar. Foram entrevistadas 2 mil pessoas, entre os dias 1º e 2 de agosto de 2022. A margem de erro do levantamento é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número SP-06273/2022.

Ipec - Rio de Janeiro
A pesquisa eleitoral do Ipec mostrou Rodrigo Neves (PDT), com 5% das intenções de voto. Encomendada pela Associação de Indústrias do Rio de Janeiro, o levantamento contou com 1,2 mil entrevistas feitas por telefone, entre os 16 e 19 de julho. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com o número RJ-08610/2022.

Datatempo - Minas Gerais
Pesquisa Datatempo, divulgada em 25 de julho, mostrou Marcus Pestana (PSDB), candidato a governador de MG que dará palanque para Ciro, com 1,2% das intenções de voto. A pesquisa eleitoral feita com recursos próprios do Datatempo entrevistou 2 mil pessoas presencialmente, entre os dias 15 e 20 de julho. A margem de erro do levantamento é de 2,19 pontos percentuais para mais ou para menos, com nível de confiança de 95%, sob o registro na Justiça Eleitoral com os números MG-08733/2022 e BR-08880/2022.

Paraná Pesquisas – governador e senador do Ceará
O Paraná Pesquisas entrevistou 1.540 eleitores do Ceará em 58 municípios no período que vai de 11 a 15 de julho. O levantamento, contratado pelo próprio instituto, tem margem de erro de 2,5 pontos percentuais e nível de confiança de 95%. Ele está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o protocolo CE-05080/2022 e BR-03182/2022.

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