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Lula e Alckmin
Encontro de Lula e Alckmin, em 20 de dezembro de 2021.| Foto: Ricardo Stuckert/PR

Dada como praticamente fechada dentro da cúpula do PT, a aliança entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (sem partido) é tida por líderes como uma forma moderar o discurso e de aproximar o partido do centro. Já para os aliados de Alckmin, a aliança representa a recuperação do capital político que o ex-tucano acabou perdendo nas últimas eleições.

Por isso, petistas e o entorno de Alckmin já trabalham na construção de um cronograma de funções para o ex-governador dentro da campanha presidencial e para um eventual governo a partir de 2023. Para o PT, além de uma proximidade com o centro, a aliança com Alckmin é uma forma de o partido recompor com setores como o do mercado financeiro e com o agronegócio, por exemplo.

“Eu creio que a maioria vê com muita tranquilidade e com muita simpatia. Geraldo Alckmin é um político experiente e é uma pessoa que tem uma história política de defesa da democracia. Ele é alguém que eu acredito que pode ampliar bastante o diálogo do presidente Lula com setores da sociedade. É um bom nome para fazer essa composição", defende o senador Humberto Costa (PT-PE).

Como forma de chancelar o acordo, o ex-presidente Lula tem feitos acenos para afirmar que Alckmin não será um "vice decorativo" e nem o tratará como um "coadjuvante" no governo. “O vice tem uma importância e o vice é um parceiro de primeira hora”, disse Lula em entrevista à rádio CBN Vale.

De acordo com o petista, a chapa com Alckmin é uma remontagem da composição que fez com o empresário José Alencar em 2002. "Se tem alguém que sabe como ser um bom vice, esse alguém é Alckmin. O vice está lá para contribuir, para participar. O José Alencar participava de todas as reuniões de governo que eu fazia", completou o petista.

Alckmin faz reaproximação de Lula com o mercado financeiro 

Para integrantes do PT, a chapa Lula-Alckmin também é uma forma de o ex-presidente petista se reaproximar do mercado financeiro. Apesar de Lula ainda não ter feito nenhum aceno ao mercado em relação ao seu programa econômico, líderes do partido acreditam que os comentários do ex-presidente influenciam o meio financeiro.

“Eu não estou procurando aliança ideológica. Não estou procurando aliança apenas para ganhar as eleições. Eu estou procurando construir um conjunto de alianças com forças políticas para me ajudarem a fazer a transformação que precisamos fazer no Brasil, inclusive se a gente quiser aprovar uma reforma tributária”, disse Lula durante entrevista para sites e blogs de esquerda.

Nos bastidores, aliados de Alckmin admitem que o ex-governador tem conversado com diversos setores do meio empresarial, no intuito de construir pontes para um futuro governo. Nas conversas, Alckmin tem sinalizado que Lula está aberto ao diálogo, mas que fará uma gestão de recuperação da renda dos pobres.

"Tenho consciência do que esse povo está passando. Então, eu não posso, eu não posso mentir, eu não posso ganhar aos 76 anos e falar: gente, olha, eu ganhei, mas não dá para fazer as coisas, desculpa, eu tenho que atender o mercado, eu preciso atender a Faria Lima, eu preciso ter responsabilidade fiscal, eu preciso manter teto de gasto. E o teto de comida? E o teto de emprego? E o teto de salário? E o teto de saúde, quem é que vai devolver para esse povo? Então, meu caro, é esse cidadão que acaba de ficar emocionado que quer ser presidente. E se for, é para mudar, não é para continuar a mesmice", reforçou o petista recentemente.

Alckmin pode ampliar governabilidade do PT com o Congresso 

Na busca de garantir sua governabilidade junto ao Congresso Nacional, o ex-presidente Lula aposta na federação com outros partidos como PSB, PV e PCdoB para ampliar a bancada de esquerda. Em outra frente, líderes petistas acreditam na articulação política de Alckmin para atrair outros partidos de centro.

Entre os partidos cortejados, o PSD, presidido pelo ex-ministro Gilberto Kassab, é tido como potencial aliado, caso Lula vença as eleições. Apesar dos planos de Kassab de ter candidatura própria ao Planalto, líderes petistas acreditam que a proximidade de Lula e de Alckmin com o ex-ministro terá força para levar o partido para a base a partir de 2023.

Em outra frente, Alckmin mantém proximidade com integrantes do PSDB, partido que o ex-governador deixou em dezembro do ano passado, depois de mais de 30 anos de filiação. Nos cálculos, os petistas acreditam que o ex-tucano terá força para atrair o apoio desses quadros no Congresso.

"É para fazer esse país que eu preciso construir uma relação política mais ampla do que o PT, e não mais à esquerda, mas a um centro e, se for o caso, até com setores, sabe, de centro-direita. "Só posso dizer que o vice não será um cara igual a mim. [O vice] será alguém que possa trazer outros setores da sociedade e que possa ajudar na construção do funcionamento de uma coalização com o Congresso Nacional", afirmou Lula recentemente.

Vice pode virar ministro da Agricultura 

Em outra frente, Lula tem trabalhado para diminuir as resistências de empresários do agronegócio a um eventual governo petista. Há duas semanas, o ex-presidente se reuniu com empresário do setor que pediram mais linhas de crédito e criticaram a política externa do governo Jair Bolsonaro e os ataques feitos pelo presidente e por pessoas de seu entorno à China, gerando crises e colocando em risco os negócios com o principal parceiro comercial do Brasil.

De acordo com integrantes do PT, Alckmin deve ser escalado para tratar dos problemas do setor com os empresários durante a campanha. Os petistas avaliam que a proximidade do ex-tucano com o setor do agronegócio teria um impacto mais positivo junto ao empresariado.

A possibilidade de o ex-governador assumir o Ministério da Agricultura também é ventilada na cúpula petista. No entanto, os líderes do partido argumentam que as indicações para ministérios ainda não estão chanceladas.

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