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Carlos Bolsonaro tem grande influência sobre a comunicação pessoal do presidente Jair Bolsonaro e manterá durante a campanha à reeleição.| Foto: Alan Santos

O presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda não oficializou um profissional de marketing político para sua campanha à reeleição, a despeito de integrantes da coordenação eleitoral defenderem a definição de um nome. A expectativa de aliados é de que ele possa refinar o discurso e melhorar sua comunicação pessoal com o auxílio de um marqueteiro. Mas o presidente insiste que não há urgência para isso e dá sinais de que vai manter uma linha mais personalista na comunicação – num indicativo que tende a manter seu filho Carlos Bolsonaro numa função de comando do discurso eleitoral.

O aconselhamento pela escolha de um marqueteiro continua na pauta das estratégias eleitorais de Bolsonaro. A insistência é movida por parte dos integrantes do núcleo de campanha do presidente, formado por seus filhos, por integrantes do Centrão, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e pelo presidente do PL, Valdemar Costa Neto.

Bolsonaro conversou com alguns profissionais de marketing político, a exemplo de Paulo Moura, com quem se reuniu no Palácio da Alvorada em janeiro. Outro profissional ouvido foi o estrategista Duda Lima, que trabalha há mais de uma década com Costa Neto em candidaturas do PL. Interlocutores do governo sustentam que nenhum dos dois está confirmado.

Existe a possibilidade de Lima atuar na campanha de Bolsonaro nos materiais voltados para o horário eleitoral gratuito em rádio e TV, mas o profissional teria dito que não acumularia funções da campanha presidencial e a do PL, com seus candidatos a governos estaduais e ao Senado, segundo informou o jornal Folha de S. Paulo.

Outra possibilidade cogitada no Planalto é de que Bolsonaro possa não contar com um marqueteiro. O presidente tem resistência à ideia de algum profissional de comunicação tentar controlar sua forma de se comunicar com o eleitor e fazê-lo adotar uma fala mais polida e formal para o eleitor.

Como Bolsonaro quer se comunicar com seu eleitor

A vontade de Bolsonaro é não abandonar sua forma tradicional de comunicação com o eleitorado, mais personalista e informal. Para essa tarefa, inclusive, ele entende ser melhor apostar em seu filho Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), vereador do município do Rio de Janeiro, para a tarefa de cuidar de sua campanha e comunicação pessoal.

Deputados da base mais ideológica de Bolsonaro na Câmara e interlocutores do governo admitem que a tendência é que Carlos tenha maior influência sobre a campanha do que um marqueteiro, caso um profissional da área venha a ser contratado, sobretudo no que se refere à comunicação utilizada nas redes sociais.

"O Carlos tem muita influência sobre o pai, principalmente na área da comunicação. O Jair sempre consulta o filho. Então, é até provável que quem vai tocar o marketing da campanha seja o filho ou alguém com o aval dele", diz um deputado aliado da base governista.

A influência de Carlos sobre a comunicação pessoal de Bolsonaro e de suas redes sociais é conhecida na Esplanada dos Ministérios, a ponto de outros assessores não terem dúvidas de que a tendência é que o filho mantenha sua influência sobre as mídias sociais e a forma do pai se comunicar com o eleitor.

"O bolsonarismo continua em alta. Eu, se fosse o presidente, não tirava o Carlos. Pintam ele igual um monstro, mas ele não é. E, para a finalidade de cuidar da comunicação pessoal do presidente e das redes sociais, eu acho ele muito bom", elogia um interlocutor do governo. "Qual é a finalidade? A gente não quer que as pessoas recebam a informação, a gente quer que elas compreendam. O Carlos cumpre o papel dele com precisão", complementa.

A avaliação feita pelo assessor é de que, mesmo sem o currículo de um marqueteiro profissional, Carlos conseguiu construir uma forma eficaz de aprimorar a forma de Bolsonaro de se comunicar com o eleitor. "O Carlos sacou a linguagem do povo. Aquela cena do presidente comendo frango e farofa, ele [Carlos] sabia que iria reverberar negativo. Mas também sabia que as classes C e D se identificariam, e se identificaram pelo monitoramento de redes que foi feito", diz o assessor. "E por que aquele vídeo da farofa foi divulgado? Aquilo foi calculado. É só lembrar que surgiu logo no período da questão dos gastos com o cartão corporativo [da Presidência] divulgados pela imprensa", acrescenta.

Quais os sinais da influência de Carlos sobre a campanha presidencial

Em janeiro, a Gazeta do Povo abordou sobre como Bolsonaro inseriu a economia em seu discurso e o peso que isso representava nos aconselhamentos feitos por aliados políticos. A demanda era para que ele evitasse falas polêmicas sobre a pandemia da Covid-19, sobretudo no que se refere à vacinação de crianças.

Interlocutores até afirmaram que o presidente continuaria com um discurso voltado para as grandes massas e não abandonaria a conexão construído com esse eleitorado. E mesmo a economia seria trabalhada com frases de efeito, mais informais e não moldadas em um discurso formal – já pensando nas eleições.

Passado mais de mês, interlocutores do governo asseguram que, sob o aconselhamento de Carlos Bolsonaro, o presidente adaptou seu discurso de modo a atender aos aliados do Centrão com comentários sobre economia e pandemia sem levantar polêmicas, mas também sem abandonar assuntos conservadores e sua fala informal e personalista.

Na live de 24 de fevereiro, por exemplo, Bolsonaro demonstrou na prática como tem adaptado seu discurso para atender a pedidos de aliados. Ao ler o título de uma reportagem sobre a inflação ter desacelerado para todas as faixas de renda em janeiro, ele disse que o foco do governo é "combater a inflação e, também, criar mais empregos no Brasil". Em outra notícia lida, ele informou que, em 2021, 4 milhões de novos negócios foram abertos.

De forma sucinta, Bolsonaro tocou no aspecto econômico sem se aprofundar e apelar para detalhes mais técnicos sobre como o governo espera "combater a inflação" e "criar mais empregos" no Brasil. Mas interlocutores do governo insistem que, para o público com quem o presidente se precisa se comunicar, não é necessário aprofundar os aspectos mais formais e técnicos.

Ainda em sua fala sobre economia na live, Bolsonaro destacou que a criação de novas empresas ocorreu mesmo diante de um ano "difícil", em decorrência da pandemia, momento em que ele disse ter combatido a doença e comprado vacinas. "[Carlos Alberto] França [ministro das Relações Exteriores], alguma vacina foi comprada por algum governador ou prefeito no Brasil?", questionou retoricamente a seu chanceler, que participava da transmissão e creditou a compra dos imunizantes ao governo.

Sem abandonar seu discurso de liberdade individual de se vacinar, Bolsonaro destacou ter comprado vacina "para quem quis". "Da nossa parte, não exigimos e não obrigamos ninguém a tomar a vacina. É a liberdade acima de tudo. E também somos contra o passaporte vacinal. Se eu fosse favorável, eu poderia exigir o passaporte vacinal no Brasil. Mas jamais faria isso; é a liberdade acima de tudo", comentou, sem fazer qualquer menção à sua contrariedade de que estados e municípios cobrem o passaporte vacinal para crianças.

Na mesma ocasião, ele também falou sobre a descriminalização do aborto na Colômbia até 24 semanas de gestação e lembrou que, no Brasil, o tema é defendido pelo Psol, que apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), a de n.º 492, para pedir a legalização do aborto. Nesse contexto, ele lembrou de sua indicação ao Supremo do ministro André Mendonça, que, segundo ele, poderia pedir vista na ação sobre o aborto. E aproveitou para enfatizar que, caso seja reeleito, poderá indicar mais dois ministros ao Supremo.

O próprio Bolsonaro admitiu na live a participação do filho em suas redes sociais ao comentar sobre uma notícia que informava sobre a participação dele em suas viagens internacionais. "Eu levei meu filho Carlos para a Rússia, ele me ajuda bastante nas mídias sociais, faz um trabalho muito bom, em conjunto. Eu não tenho como fazer esse trabalho. Tem que ter alguém fazendo esse trabalho comigo. E ele faz um trabalho excepcional. Por isso a perseguição em cima dele e por isso a invenção do 'gabinete do ódio'", criticou.

"Eu desafio quem quer que seja a mostrar uma matéria que veio do gabinete do ódio. Desafio. Não tem. Rotularam, criaram uma narrativa para tentar desacreditar nossas mídias sociais, que prestam um serviço excepcional, que muitas vezes a mídia tradicional não cobre. E ele [Carlos] faz esse trabalho e o tempo todo [falam de] gabinete do ódio, que gabinete do ódio? Me apresente uma matéria que, talvez, veio do gabinete do ódio", disse Bolsonaro.

E qual o papel um marqueteiro pode ter na campanha de Bolsonaro

A participação de Carlos Bolsonaro na campanha presidencial é dada como certa, mas não desagrada a todos os aliados. Uns ou outros na base governista ainda fazem ressalvas à influência dos filhos sobre o presidente da República, mas boa parte entende que o vereador tem desempenhado um bom papel, sobretudo no que se refere ao desempenho nas redes sociais.

Uma avaliação na base é de que Carlos conseguiu construir um engajamento sólido e orgânico nas redes sociais de Bolsonaro. E, embora o Centrão entenda que a rádio e a TV serão mais importantes do que as mídias digitais na campanha pela reeleição do que foram em 2018, seus líderes e caciques admitem que elas serão ferramentas importantes na campanha presidencial.

Por isso, interlocutores do governo e aliados da base ponderam que será importante que Bolsonaro tenha um marqueteiro para auxiliá-lo em sua fala a ser veiculada nas inserções em rádio e TV durante a campanha eleitoral, o que não afastaria a influência de Carlos nas redes sociais e no discurso pessoal do presidente no dia a dia.

Em janeiro, interlocutores já haviam alertado que Bolsonaro só "obedece" a cerca de 30% de orientações de comunicação mais técnicas dadas a ele. "Os outros 70% ele vai de improviso", afirmou à época um assessor. Até por esse motivo que o presidente admite a contratação de um marqueteiro, que atuaria como um conselheiro e sem poder decisório, como informou o site UOL.

A avaliação é de que o marqueteiro de Bolsonaro terá um papel preponderante para "polir" os "30%" de orientações à fala do presidente, mas será incapaz de moldar ou mudar o modo como ele posiciona. "A única coisa é que ele vai dar um polimento para sofisticar um pouco o discurso e o presidente vai carregar o que precisa ser informal em termos de programa de governo", disse o interlocutor em janeiro. A afirmação segue atual diante da influência de Carlos sobre a comunicação da campanha.

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