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São Paulo tem demandado esforços e preocupações de Bolsonaro e Lula, que querem a vitória no estado para si e seus apadrinhados, Tarcísio de Freitas e Fernando Haddad| Foto:

Maior colégio eleitoral do país com cerca de 32,6 milhões de eleitores, o estado de São Paulo é crucial para as pré-candidaturas do presidente Jair Bolsonaro (PL) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As duas campanhas já traçam suas estratégias, que envolvem não apenas a disputa presidencial, mas também a eleição para o governo paulista. A avaliação é de que candidatos ao Palácio Bandeirantes fortalecidos ajudam os presidenciáveis, e vice-versa.

A fim de impulsionar suas pré-campanhas, Bolsonaro e Lula querem intensificar suas estratégias junto a seus respectivos pré-candidatos ao governo estadual de São Paulo, o ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o ex-prefeito paulistano Fernando Haddad (PT). O objetivo de Bolsonaro e de Lula é fortalecer seus apadrinhados para ampliar suas margens de voto e apoio.

A pré-campanha de Bolsonaro calcula que ele mantenha a dianteira em relação a Lula no estado, mas entende que Tarcísio está com dificuldades em diminuir a distância para Haddad. Já a coordenação de Lula reconhece que ele está atrás de Bolsonaro em São Paulo e, por isso, quer potencializar Haddad para ampliar sua margem de votos no estado e no país.

A preocupação dos dois lados é com uma possível "desconexão" entre seus votos e o de seus pré-candidatos ao governo. Levantamento feito pelo Instituto Paraná Pesquisas aponta Bolsonaro com 39,1% das intenções de voto em São Paulo e Lula com 35%. Mas, na eleição estadual, o mesmo instituto mostra um cenário mais favorável ao PT, com Haddad na liderança (28,6% das intenções de voto) e Tarcísio com 17,9%.

Ainda assim, o Paraná Pesquisas também mostrou maior equilíbrio na disputa estadual quando os candidatos ao governo paulista são associados aos presidenciáveis – o que indica o potencial de transferência de votos. Nesse caso, ao ser diretamente associado a Bolsonaro, Tarcísio atinge 31% das intenções de voto. E Haddad chega a 35,3% quando associado a Lula. Isso indica que a eleição em São Paulo tende a ser acirrada, tanto para o governo estadual quanto para a Presidência.

Qual é a estratégia do Planalto para Tarcísio e quais os desafios

A principal estratégia da campanha de Bolsonaro para impulsionar a pré-candidatura de Tarcísio é fortalecer a associação entre o presidente e o ex-ministro da Infraestrutura. Há um reconhecimento no Palácio do Planalto de que seu apadrinhado ainda não é tão conhecido entre a maioria dos eleitores em São Paulo e que, para isso, o presidente deve voltar mais vezes ao estado.

"Quem vai puxar o Tarcísio é o Bolsonaro. Aqui, vai se repetir a polarização e ele vai crescer junto com o presidente", diz um interlocutor do Planalto que pediu para não ser identificado. Existe uma cobrança da base política do governo no Congresso para o cumprimento de agendas do presidente no estado e, principalmente, o lançamento de novas ações do Executivo.

Há uma avaliação na base de que o governo federal carece de entregas e ações de impacto para fortalecer a candidatura de Tarcísio, à exceção da renovação da concessão da Rodovia Dutra (que desta vez abrange também a BR-101, a Rio-Santos) e os planos para a privatização do Porto de Santos. Parte dessas avaliações se deve a uma cobrança de parlamentares para que o Planalto autorize o empenho e a execução de emendas parlamentares para congressistas de São Paulo.

Porém, mesmo congressistas da base dizem que somente a liberação de emendas parlamentares pode ser insuficiente para fortalecer Tarcísio e Bolsonaro no estado. A ala mais ideológica de aliados do governo critica alguns congressistas que são beneficiados por emendas parlamentares que irrigam suas bases eleitorais, mas não associam os recursos ao governo federal.

Para congressistas da base do governo, falta melhorar a coordenação política para impulsionar Tarcísio e Bolsonaro no estado. "O governo tem tido pouca entrega para o paulista comemorar. E muito deputado que tem recebido emenda pega o dinheiro, entrega em sua cidade e fala que é dele, não vincula com Bolsonaro ou põe uma foto com o presidente ao lado", diz um deputado influente da bancada paulista. "Isso é uma falha da articulação do governo, que precisa melhorar", diz outra liderança do estado.

O Planalto tem ouvido as críticas e sugestões feitas por aliados de São Paulo e procura ser um mediador para ajustar as pontas soltas, num em diálogo que envolve Tarcísio e sua coordenação. O temor é que os atritos na base com o ex-ministro possam prejudicar Bolsonaro em São Paulo. Um desafio é afinar a agenda do ex-ministro com aliados políticos. Existe uma crítica de que a base não é previamente avisada sobre a divulgação de eventos com a presença do pré-candidato.

"Se ele [Tarcísio] crescer, vai crescer organicamente em função do Bolsonaro pisar aqui e carregar ele, porque hoje ainda ele não é tão conhecido e tem muito racha interno nos partidos. Uma parte grande da base ainda flerta com o Rodrigo [Garcia (PSDB), governador de São Paulo [candidato à reeleição]", prevê um aliado.

A coordenação de campanha de Tarcísio minimiza as críticas feitas por aliados. Interlocutores do ex-ministro entendem que alguns parlamentares estejam ressentidos e queiram ser mais prestigiados por ele, e sustentam que ele vai fazer campanha com os aliados, mas não exclusivamente com eles.

"Há uma enorme preocupação dos deputados em se reeleger. Cada um está cuidando da sua eleição, mas o Tarcísio não vai fazer campanha exclusiva para eles", afirma um interlocutor do núcleo eleitoral do ex-ministro. É reconhecido em seu entorno político, porém, que a costura com os partidos é um desafio a ser superado.

O ex-ministro da Infraestrutura sinalizou que seu vice seria alguém do PL. Um nome bem cotado é o da deputada federal Rosana Valle, mas ainda não é consensual até devido a divisão interna da sigla no estado. Uma parcela do partido de Bolsonaro se dispôs a apoiar Tarcísio, mas outra ala – composta por deputados estaduais – é favorável a apoiar Rodrigo Garcia.

O racha interno é reconhecido por deputados federais da legenda, que alertam, ainda, para a possibilidade de uma parcela considerável de prefeitos apoiarem o atual governador. O PL não é o único partido da base onde Tarcísio busca apoio. O PP, outro partido da base do governo, está propenso a apoiar Garcia.

Devido ao cenário político-partidário em São Paulo, Tarcísio e o Republicanos analisam a hipótese de ceder a vice ao PP e compor com o PL em outros cargos em um eventual governo paulista. Interlocutores do ex-ministro ponderam que ele está com um discurso bem alinhado e preparado para subir nas pesquisas, o que pode ajudá-lo a construir uma forte coalizão com legendas de centro.

"Tarcísio está fazendo contato com a sociedade civil e ele está com um bom discurso. Está empolgando a classe média paulista, que é complicada: era um reduto tucano e, hoje, está órfão, mas vê Tarcísio como uma possibilidade", analisa um assessor. "E ainda tem o 'bolsonarismo', que impulsiona a campanha dele e é forte em São Paulo. É um candidato para ir ao segundo turno", acrescenta.

Para ampliar sua base de apoio político e eleitoral, Tarcísio também vai apostar em algumas pautas estratégicas. Uma delas é explorar a marca de ter sido "tocador de obras" como ministro e de prometer concluir as obras paradas no estado, principalmente no transporte urbano, onde é especialista. Outro pilar dessa estratégia é prometer transformar o estado no maior "hub" de parcerias público-privadas (PPPs), a fim de manter a coerência com a política econômica do ministro da Economia, Paulo Guedes, e alavancar o desenvolvimento através do investimento privado em São Paulo.

Para a educação, Tarcísio se dispõe a corrigir o "apagão educacional" gerado pela pandemia de Covid para as classes mais pobres e reparar a evasão escolar no estado. Para a saúde, a promessa é reduzir as filas de atendimentos e cirurgias em hospitais.

Outro ponto central é a segurança pública. O ex-ministro tem se posicionado de forma crítica às câmeras instaladas nos policiais e fiscalizar os criminosos. "Ele mesmo disse que a câmera do policial custa três vezes mais do que uma tornozeleira do bandido. Queremos discutir quem, de fato, temos que monitorar, a fim de dar força à ação policial absolutamente defasada em relação em termos de salário e com um déficit de 15 mil pessoas", diz um interlocutor de Tarcísio.

Como Lula e Haddad pretendem crescer em São Paulo

O PT também tem seus próprios desafios políticos em São Paulo para alavancar Haddad e Lula. Muitos petistas acreditavam que Haddad cresceria independentemente da pré-candidatura do ex-governador paulista Márcio França (PSB). Mas a divisão de palanques para Lula entre os dois têm travado um avanço maior do petista no estado.

O Instituto Paraná Pesquisas mostrou que, em abril, Hadadd tinha 30,2% das intenções de voto. O índice desacelerou para 29,7% no primeiro levantamento feito em maio. E, no mais recente, ficou em 28,6%. França tinha 17,1% dos votos em abril e avançou para 18,6% no início de maio. Agora, aparece com 17,7%.

Em um cenário sem França, Haddad não absorveria todos os votos do ex-governador do PSB, mas chegaria a 34,5%, segundo o Paraná Pesquisas, o que o asseguraria no segundo turno contra Tarcísio, que iria a 21,7% dos votos.

Mas o PT aposta no potencial de crescimento de Haddad e trabalha para compor com França. O próprio Lula entrou no circuito e, em diálogo com seu pré-candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB), tenta demover o ex-governador de sua pré-candidatura.

A aproximação feita por Lula, porém, se mostrou ineficaz até o momento. França tem dado sinais de que vai seguir na disputa – a não ser que PSB e PT entrem em acordo. O presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, defende um critério político para a definição de uma candidatura única da esquerda, enquanto França sustenta que o impasse seja resolvido por pesquisa encomendada pelos partidos. Os petistas propõem a unificação de palanque com a oferta da vaga de vice de Haddad a França ou de o ex-governador ser o candidato ao Senado na chapa.

A solução da disputa eleitoral com o PSB em São Paulo é fundamental por outro motivo para as aspirações políticas do PT: a transferência do capital político de Alckmin, ex-governador do estado. O pré-candidato a vice de Lula tem viajado o estado e se posicionado como um cabo eleitoral de França, não de Haddad.

A expectativa entre petistas é que Alckmin possa ser um cabo eleitoral importante para alavancar Haddad e Lula no estado. Alckmin tem procurado atrair o eleitor do que a campanha petista chama de "direita moderada", incluindo com segmentos religiosos, do mercado financeiro e do agronegócio.

Metodologia das pesquisas citadas na reportagem

No levantamento da eleição presidencial em São Paulo, o Instituto Paraná Pesquisas entrevistou pessoalmente 1.880 eleitores em 76 municípios do estado de São Paulo entre os dias 22 e 26 de maio de 2022. A margem de erro é de 2,3 pontos percentuais e o nível de confiança atinge 95%. O levantamento foi feito sob encomenda da BGC Liquidez Distribuidora de Títulos Mobiliários Ltda, e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR-06924/2022.

No caso da pesquisa pra eleição para o governo de São Paulo, o Paraná Pesquisas entrevistou pessoalmente 1.880 eleitores entre os dias 22 e 26 de maio de 2022 em 76 municípios do estado. A margem de erro é de 2,3 pontos percentuais e o nível de confiança atinge 95%. O levantamento foi contratado pela corretora BGC Liquidez e está registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo SP-01735/2022.

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