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O ex-juiz Sérgio Moro discute a possibilidade de filiação ao futuro União Brasil, mas ainda não se sente plenamente convencido| Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A cúpula do PSL atua insistentemente nos bastidores políticos para filiar no União Brasil o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) e lançá-lo candidato à Presidência da República pelo novo partido, criado pela fusão do PSL com o DEM, e que ainda aguarda a oficialização da Justiça Eleitoral. Contudo, desafios internos no União Brasil, como arranjos eleitorais nos estados e a cobiça pelo cargo de vice-presidente da chapa, e até mesmo uma "aflição" de Moro travam um avanço mais rápido das negociações.

Um dos responsáveis por elevar as incertezas e frear as conversas é o próprio presidente do PSL, deputado federal Luciano Bivar (PE).

Ele se reuniu em 21 de janeiro com a presidente nacional do Podemos, deputada federal Renata Abreu (SP), e os dois conseguiram avançar nas conversas sobre uma possível filiação de Moro ao União Brasil. Contudo, as negociações esbarram no desejo pessoal de Bivar em ser vice de Moro.

Em eleições presidenciais, chapas "puro sangue" – em que presidente e vice são do mesmo partido – são incomuns para legendas da estatura que o União Brasil terá. A alternativa defendida por negociadores do PSL é entregar a vice para Renata Abreu caso Moro desembarque do Podemos para ingressar no União Brasil.

Outro desafio interno do União Brasil é o convencimento "ala do DEM" que integrará o partido quando a fusão estiver formalmente concluída, pela homologação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), prevista para este mês de fevereiro. Pela conjuntura eleitoral nos estados, a filiação de Moro não é tem apoio entre caciques "demistas".

O que o PSL têm feito para desatar os nós da filiação de Moro

O interesse de Bivar pela vice-presidência é analisado no PSL, Podemos e entre interlocutores de Moro como um nó mais fácil de desatar. Quem está a par das negociações diz que Renata Abreu já está mais flexível em relação à ideia de que seu presidenciável entre no União Brasil – o que, na avaliação dos envolvidos, ajudou a avançar as conversas.

Devido a essa postura de Renata Abreu, os envolvidos na articulação para Moro entrar no União Brasil entendem que Bivar teria de ter a grandeza de abdicar de sua vontade em assumir a vice para cedê-la à presidente do Podemos. O vice-presidente nacional do PSL, Júnior Bozzella (SP), é apontado como um dos que atua para convencer o presidente da legenda a deixar de lado as pretensões pessoais.

Entretanto, alguns no PSL defendem que o cargo de vice não fique nem com Renata nem com Bivar. A avaliação feita por alguns negociadores é de que o posto de vice de Moro seja negociado com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB). Acomodar o tucano na vice é visto dentro do PSL como uma alternativa mais ousada e estratégica, à medida em que poderia tirar um adversário direto do páreo e uni-lo ao projeto de uma terceira via única.

A aliança com o PSDB seria, inclusive, uma solução para reter algumas resistências do DEM sobre uma possível filiação de Moro ao União Brasil. Em São Paulo, por exemplo, o partido integra a base de apoio de Doria e dá sinais de quer manter o apoio ao candidato tucano ao governo estadual, o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB).

Em São Paulo, lideranças do DEM defendem e vão defender, mesmo após a homologação do União Brasil, a indicação de um vice para Garcia. O presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo, Milton Leite, e o deputado federal Alexandre Leite, seu filho, são alguns nomes do DEM cogitados.

Qual é a possibilidade do DEM apoiar a candidatura do ex-juiz

O presidente nacional do DEM, o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, é um dos que faz ressalvas à filiação de Moro ao União Brasil. Pré-candidato ao governo da Bahia e principal adversário no estado do pré-candidato do PT, o senador Jaques Wagner (BA), Neto tem propostas para dividir o palanque com Doria ou com o presidenciável do PDT, Ciro Gomes.

Em Goiás, o governador do estado, Ronaldo Caiado (DEM), outro cacique da legenda, também não está convencido com a ideia de dividir o palanque com Moro. Mesmo distante de Bolsonaro, ele divide parte de seu eleitorado com o presidente da República e entende que uma união com o ex-juiz traria mais ônus do que bônus.

No DEM, a avaliação é de que o melhor caminho é o União Brasil liberar suas bancadas nos estados para construir os palanques e apoios caso a caso, e não vincular as candidaturas majoritárias estaduais (ao Senado e aos governos estaduais) a Moro.

O presidente do diretório baiano do DEM, deputado federal Paulo Azi, nega que exista alguma rejeição a Moro e entende que houve uma antecipação dessa discussão por parte de algumas lideranças do PSL e de seu próprio partido – como os deputados federais Kim Kataguiri (DEM-SP) e Luis Miranda (DEM-DF).

"A gente tinha dentro do partido estabelecido um certo cronograma de começar a discutir essa questão nacional logo após a fusão oficializada. A princípio, não há nenhum veto [do DEM] quanto à aproximação e as negociações com o Moro. O que há é que ainda não houve, efetivamente, o momento para se fazer uma discussão mais séria", diz Azi.

O deputado entende que as articulações possam fluir melhor a partir deste mês de fevereiro, quando acredita que o União Brasil estará homologado. "As conversas vão começar a fluir. Moro tem tido algumas conversas com membros do PSL. Já esteve também com alguns companheiros do DEM. Tem gente tanto de um lado quanto do outro que tem relação próxima com ele e defende, inclusive, o nome dele [como candidato a presidente do União Brasil]", diz Azi. "Mas ainda está muito prematuro para que a gente possa traçar uma posição mais consolidada com relação ao ingresso ou apoio a ele."

O presidente do diretório baiano do DEM adverte, contudo, que os arranjos nos estados precisam ser analisados. "Aqui [na Bahia] existe um processo eleitoral que ainda está em aberto com relação a essa posição política do partido. Nosso adversário aqui é o PT, o nosso candidato aqui será o ACM Neto, e ele tem procurado formar um palanque amplo no campo das oposições ao PT no estado", afirma. "Existem vários partidos que, hoje, sinalizam apoiá-lo [ACM Neto], mas que tem candidaturas próprias à Presidência [da República], como o PDT e o PSDB. Então, a gente precisa ter muito cuidado nessa articulação [de filiar Moro ao União Brasil", complementa Azi.

O que Moro pensa sobre os conflitos internos do União Brasil

Diante das incertezas, Moro não está convencido em aceitar uma filiação ao União Brasil, caso o convite seja formalmente feito. Amigos próximos e interlocutores do núcleo pessoal de sua pré-campanha sentem que ele estaria aflito sobre a possibilidade de deixar o Podemos às vésperas das eleições.

Sem unidade no União Brasil, Moro tem dito aos mais próximos que não vai aceitar o convite. O temor é de que, sem amplo apoio na legenda, sua candidatura seja politicamente sabotada. Em uma campanha presidencial, ele precisaria de todos os apoiadores possíveis, não apenas recursos e estrutura, ativos oferecidos a ele pela cúpula do PSL.

Mesmo pessoas próximas que defendiam abertamente a filiação de Moro ao União Brasil, agora, estão mais comedidos. "Sentimos a aflição do Sergio. Ele sabe que, no Podemos, tem lealdade que vai ser cumprida com ele. No União Brasil, não basta ele ter lealdade apenas do Bozzella e do Bivar. Tem que ter uma cúpula que vai chegar e fazer um compromisso público com ele. E isso não tem no DEM", sustenta um interlocutor. "Ele sabe que é melhor ser um Davi que vai saber a história final do que ser um Golias", alerta a fonte.

A atual conjuntura política em São Paulo, por exemplo, não convence Moro. Desde que Doria anunciou o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia (sem partido-RJ) como seu coordenador de campanha, o sinal de alerta foi ligado junto ao núcleo pessoal do ex-juiz. O fato de o tucano ter escalado um desafeto de Moro é visto como uma forma de desidratar sua candidatura. E com a proximidade de DEM e PSDB, sua desconfiança permanece.

Por esses motivos, integrantes da coordenação de Moro sustentam que, pelo menos até o carnaval, Moro permanecerá com os dois pés no Podemos. "Até a homologação do União Brasil, as migrações na janela partidária e todo o reenquadramento e composição das comissões no Congresso, Moro está 99% no Podemos. Depois disso e com o avançar das negociações, ele reavaliará sua posição", sustenta um interlocutor do ex-juiz.

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