A jornalista Cristina Graeml (PMB) disputa pela primeira vez uma eleição a um cargo público com um plano de governo conservador para atrair, principalmente, o eleitorado de direita em Curitiba. Em entrevista à Gazeta do Povo, ela esclareceu que a candidatura pelo PMB está homologada e não foi questionada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), apesar do imbróglio jurídico que teve início após a tentativa da presidente nacional da sigla, Suêd Haidar, de dissolução das executivas municipal e estadual no Paraná, às vésperas da convenção partidária que lançou Cristina Graeml à prefeitura de Curitiba.
A candidata também afirmou que pretende mudar o nome da Secretaria da Educação para Secretaria Municipal de Ensino, para esclarecer que a prefeitura ficará responsável apenas pela grade curricular. “A gente vai deixar a educação moral para os pais, não tem essa de professora ficar na cabeça de criança de três anos de que ele não é menino, nem menina, ele é o que ele quiser ser”, disse. Todos os candidatos à prefeitura de Curitiba foram convidados pela Gazeta do Povo para entrevista.
Questionada sobre a posição de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições curitibanas, Cristina Graeml respondeu que o ex-presidente não está na campanha de Eduardo Pimentel (PSD), que tem o apoio do diretório municipal do PL, presidido por Paulo Martins, vice na chapa do candidato do grupo político do governador Ratinho Junior (PSD). Na entrevista, ela enfatiza que convidou Martins para uma aliança, mas de acordo com Cristina Graeml, o ex-deputado federal afirmou que seria “vergonhoso” ser candidato a vice.
Confira a entrevista com a candidata Cristina Graeml
Por que a senhora decidiu entrar na política e se candidatar diretamente ao cargo de prefeita de Curitiba?
Tem muita gente que acha que a minha pretensão é uma carreira política, não é. Eu nunca tive pretensões políticas e pode vir a se tornar uma carreira, se assim desejar o eleitorado. Estou nesse esforço agora para conseguir votos para prefeita, mas foi uma candidatura absolutamente orgânica. Eu fui sondada ao longo desses últimos anos em que estava imersa no jornalismo de opinião e participando de muitos programas de análise política.
Primeiro, para ser candidata a deputada, senadora, nas eleições majoritárias de 2022, cheguei a receber uma provocação para me candidatar a governadora de pessoas proeminentes na sociedade, não eram partidos políticos me sondando, mas profissionais liberais e representantes de classe. Eu entendia a demanda. As pessoas estavam em um crescente desejo de nomes novos na política, uma mudança real, dessas velhas famílias que estão sempre se revezando, sai o avô, entra o filho, o neto, a esposa ou um sobrinho. É sempre o mesmo sobrenome daqueles grupos políticos que vão fazendo acordos, ficando mais fortes.
Daqui a pouco, tem uma pequena traição e forma um novo grupo político. As pessoas estão muito cansadas disso, da forma de se fazer campanha com esses marqueteiros, esses vídeos de candidatos ensaiados por media training, gestos ensaiados e palavras ensaiadas. Parece que até as propostas se repetem eleição após eleição.
No final do ano passado, a demanda foi muito forte. Eu estava em um processo muito intenso no jornalismo, horas e horas no ar, ao vivo, e nos pequenos intervalos era gente me ligando, fontes jornalísticas do Brasil inteiro, ligadas a Curitiba de alguma forma. “Tenho parentes aí e o pessoal precisa ter um nome diferente”; “você representa uma parcela significativa da população”, “você se identifica mais com as pautas conservadoras”. Enfim, eu fui conversando com as pessoas, entendendo as demandas e, principalmente, entendendo que eram as minhas demandas também como cidadã curitibana.
Achei legítimo que identificassem no meu nome alguém que pudesse furar essa bolha, com as várias conversas eu fui entendendo tudo isso, analisei minha vida, conversei com a família e vi que não era nenhum sacrifício dedicar quatro anos à minha cidade e, por isso, a escolha do cargo de prefeita. Não queria fazer uma carreira. Por isso, não comecei como uma vereadora. Sempre disse que se fosse para ser vereadora ou candidata a vice-prefeito em outra chapa, eu continuaria no jornalismo. Eu saí porque, realmente, a demanda foi muito grande e essas pessoas são os meus conterrâneos pedindo pelo meu nome. Então, eu atendi um apelo de parte do eleitorado e, quando começou a pré-campanha, eu entendi com mais força ainda pela crescente adesão das pessoas, espontaneamente, à candidatura que representa algo novo na política.
Eu entendia a demanda. As pessoas estavam em um crescente desejo de nomes novos na política, uma mudança real.
Cristina Graeml, candidata do PMB à prefeitura de Curitiba
O que a carreira como jornalista pode ajudar em um eventual mandato de prefeita?
A carreira que eu fiz no jornalismo me coloca, com bastante segurança, em condições de pleitear esse posto de prefeita. Eu estive no jornalismo por 34 anos, os primeiros 26 anos na reportagem de TV - a gente brinca no jornalismo que reportagem de TV é muito pé na lama. O repórter de TV é aquele que não consegue fazer a matéria por telefone, não consegue apurar as informações na internet, ele tem que ir realmente in loco, precisa filmar e entrevistar as pessoas. A gente sabe que o jornalismo é feito de problemas, de coisas que não funcionam e das denúncias.
Eu conheço muito bem Curitiba, que é a minha cidade, porque dos 26 anos de reportagem, 20 deles foram em Curitiba. Então, eu percorri os 75 bairros, literalmente, andando, caminhando e rodando. Chegava a fazer 200 quilômetros por dia dentro da cidade, indo e ouvindo as pessoas. Tenho uma conexão muito grande com a população de Curitiba, com os problemas de Curitiba e, obviamente, cobri inúmeros governos municipais muito de perto, alguns eu investiguei, conheço o funcionamento da máquina pública por ouvir dezenas de secretários municipais e estaduais. Da mesma forma, acompanhei incontáveis votações na Câmara Municipal, na Assembleia Legislativa e também em Brasília.
No jornalismo opinativo, nos últimos seis anos, tive um contato muito próximo com parlamentares, governantes, prefeitos de várias cidades do país. A gente vai criando fontes e tentando entender o porquê que as coisas são do jeito que são. Tenho um conhecimento que me gabarita para esse cargo e sou conhecida de muitos gestores pelas entrevistas, anteriormente, o que me dá um acesso privilegiado à solução de problemas. Já estou fazendo alguns convites para montar o meu secretariado.
O PMB é um partido pequeno e que não tem tempo de rádio e televisão. De que forma a senhora vem trabalhando para aumentar o alcance da campanha e se apresentar como candidata aos eleitores curitibanos?
Estou fazendo lives todas as noites porque estou em um partido pequeno, sem tempo de rádio e TV, mas tenho essa facilidade no meio digital, centenas de milhares de seguidores nas minhas redes. Estou fazendo lives todas as noites às 22h30, desde que começou do horário eleitoral, após a minha agenda do dia, junto com o candidato a vice [Jairo Filho] na minha chapa, expondo o plano de governo para quem quer assistir, fazendo recortes e jogando nas redes sociais ao longo do dia.
Anunciei o primeiro nome do secretariado. Se eleito, o governo Cristina Graeml terá como secretária da Saúde Raíssa Soares, uma mineira que mora há muitos anos em Porto Seguro (BA), que já foi secretária da Saúde na cidade baiana. É uma pessoa com trânsito na política e foi candidata a senadora pela Bahia nas eleições de 2022.
A sua candidatura esteve ameaçada devido a movimentos da Executiva Nacional do PMB. De que forma esse imbróglio judicial interferiu no início da campanha, inclusive com o desconvite para o debate na Band?
A minha candidatura está confirmadíssima. Na verdade, a minha candidatura nunca esteve sub judice, mas eu fui vítima de muita fake news, muita difamação, muita desinformação, muito jornalismo feito de qualquer jeito. Pessoas que escreviam sobre a minha candidatura sem ligar para o presidente do partido e sem me consultar como candidata. Um desleixo com a busca pela informação.
Infelizmente, é claro que atinge profundamente a minha candidatura, eu passei semanas lidando com fake news, desmentindo informações levianas colocadas pela mídia de aluguel, especialmente por blogs políticos que de independentes não têm nada, atrelados com partidos ou candidatos. Mas de fato o que aconteceu, os motivos eu não sei dizer, precisa ser questionado com a presidente nacional do partido. Eu até tenho as minhas desconfianças, mas não posso afirmar, não vou ser leviana.
O fato é que a presidente do Partido da Mulher Brasileira se vangloria - e eu por muitos meses elogiei essa atitude dela, aliás, continuo elogiando, a única mulher do Brasil que conseguiu sozinha levantar um partido político. A Suêd Haidar de fato conseguiu. Então, ela é uma vencedora nesse aspecto. Uma mulher negra, nordestina, maranhense, nascida e criada em quilombo. Tinha tudo para fazer o “mimimi” de sempre, ficar dependendo de cota, do vitimismo e não, ela arregaçou as mangas e levantou um partido.
Depois de ter ouvido não de todos os partidos que se diziam conservadores, eu tive contato com o Partido da Mulher Brasileira. Fui ver se não era um partido de esquerda, porque eu sou contra as ideologias de esquerda e não queria, obviamente, atrelar minha imagem e credibilidade a nada ligado à esquerda. No estatuto, o partido não se define em nenhum quadradinho ideológico, mas tem postura bastante conservadora e defende a entrada da mulher na política sem defender pautas feministas. No estatuto do partido está escrito: antifeminista. Defende a família, defende a vida desde a concepção - que é uma pauta bastante conservadora, nós somos contra o assassinato de bebês no ventre das mães. Saúde reprodutiva é outra coisa, nós somos contra a mentira com esses chavões ideológicos que vão aprisionando as pessoas dentro de uma militância errada.
No estatuto do partido está escrito: antifeminista.
Cristina Graeml, candidata à prefeitura de Curitiba, sobre o PMB
Em fevereiro, tive uma longa conversa de duas horas com a presidente nacional, o meu coordenador de campanha foi até o Rio de Janeiro, onde ela estava, e passou o dia inteiro em conversas para entender o partido e explicar o meu posicionamento ideológico. Nós estávamos perfeitamente alinhadas. Não havia nenhuma divergência entre Cristina Graeml e Suêd Haidar, absolutamente. Nenhuma divergência da minha candidatura pelo PMB Nacional, mas estranhamente, com o passar dos meses, por volta de maio, Suêd Haidar, que colocou no estatuto do partido como antifeminista, declarou o voto em [Guilherme] Boulos [candidato do Psol] em São Paulo e isso atingiu, diretamente, a minha candidatura.
Tive que gravar um vídeo lembrando que eu sempre me posicionei a favor do direito de propriedade e contra invasões de terra e de propriedades e, obviamente, sempre critiquei os líderes desses movimentos de invasores, sempre classifiquei como terroristas os integrantes desses movimentos que destroem propriedades, invadem terras, matam animais e destroem plantações. Jamais apoiaria invasor de propriedades como gestor público. Às vésperas da convenção, em agosto, ela tenta destituir a executiva municipal e estadual do Paraná. Não sei qual foi a motivação, mas imagino, assim como eu imagino o porquê do apoio a Boulos, em São Paulo, não sendo ela uma extremista de esquerda e Boulos é. Não lucrando em nada com isso e nem mesmo ele, porque o PMB é inexpressivo em São Paulo. Então eu tenho que interpretar que o motivador partiu do Paraná para atingir a minha candidatura, que é a única de uma mulher no PMB com chances reais de chegar à prefeitura de uma capital.
Ela destituiu os presidentes municipal e estadual, tentando invalidar a realização da convenção, obrigatória por lei. Só que o negócio foi feito tão à revelia do estatuto do partido que o presidente municipal e o estadual realizaram a convenção e a festa foi linda, com mil pessoas aplaudindo. A candidatura foi aceita e homologada. No dia seguinte, veio o comunicado via mídia de aluguel, blog de política, de que a executiva estava destituída e não podia ter realizado a convenção. Nem a executiva tinha sido informada oficialmente, para você ver o nível da aberração que aconteceu. Obviamente, os presidentes municipal e estadual correram atrás. A convenção foi reconhecida como legal com a validação do meu nome, o pedido de registro da minha candidatura, tudo legal, reconhecido pela Justiça Eleitoral. Então, a minha candidatura nunca foi questionada. Óbvio que isso afetou a minha campanha com um retardo de algumas semanas porque a gente estava às voltas com questões jurídicas com a mídia de aluguel curitibana me difamando e dizendo que eu não era candidata.
A senhora tem uma visão muito clara sobre temas que são caros para o conservadorismo. O seu plano de governo abre com alguns deles, inclusive. Como a sua visão de mundo será transportada para a prefeitura de Curitiba, caso eleita?
Cristina Graeml: Estou divulgando, diariamente, o plano de governo por temas nas minhas lives, que foi desenhado por mais de 200 voluntários, junto comigo e com o candidato a vice, que foi o coordenador do plano e por meritocracia, que é uma visão conservadora, foi alçado à condição de vice.
A minha visão é direita na política, conservadora nos costumes e liberal na economia. O que eu puder destravar de burocracia para que empreendedores, micro, pequenos e grandes empresários possam produzir mais e gerar mais empregos em Curitiba, será feito. Vamos reabrir a Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços, que foi extinta na atual gestão, justamente para criar um ponto de contato com o setor produtivo e fomentar, através desse diálogo, a desburocratização possível em nível municipal. Alvarás concedidos com mais rapidez, menos fiscalização burocrática e mais parcerias público-privadas (PPPs).
Já temos no plano de governo, que também é uma visão liberal, uma proposta de anistia das multas aplicadas na pandemia não só para as pessoas jurídicas que tentaram trabalhar e não estavam desrespeitando as regras sanitárias. É lojista que estava vendendo por WhatsApp e enviando os produtos via entregadores, exatamente como a prefeitura previa, mas teve fiscal na porta multando porque ele colocou um cartaz na vitrine dizendo que estava vendendo por WhatsApp. Essas pessoas mantiveram os empregos a duras penas, estão endividadas e na dívida ativa do município com multas grandes de R$ 40 mil, 50 mil, mas tem também as pessoas físicas. Eu recebi relatos de questões absurdas como adolescentes que estavam em síndrome de pânico. Depois de meses trancados dentro de casa, o pai e a mãe autorizaram a atravessar a rua para comprar um refrigerante para se sentir um pouco livre e foi multado por um fiscal da prefeitura. O adolescente que estava com 15 anos na pandemia, agora tem 18 anos e está na dívida ativa do município e não consegue emprego.
Para as camadas mais vulneráveis da população que a extrema-esquerda faz questão de dizer que só ela tem o monopólio da virtude de atender os pobres e carentes, nós estamos com um olhar muito grande para a assistência social, até porque existe uma uma demanda gigantesca em Curitiba para que o poder público tente, ao menos, solucionar a questão dos moradores de rua. Essa população vulnerável que está por aí como zumbis, mais ou menos 4 mil pessoas, segundo informações de ONGs. Nada é feito de diferente, dão abrigo, banho, uma roupa limpa, um cobertor, alimento, assistência médica e odontológica. O município não peca nesse sentido, tem uma população de rua muito maior do que as vagas.
O que mais pode ser feito, que não foi tentado para reduzir essa população de rua: a gente vai oferecer uma trilha do resgate com atendimento terapêutico e assistência religiosa, para quem quiser, para que eles possam voltar a se enxergar como seres humanos, dignos de receber assistência e com o mínimo de autoestima resgatada para voltar a ter os documentos, fazer um curso profissionalizante e aceitem o processo de desintoxicação de álcool e drogas. Isso tudo o município já fornece, mas ele não consegue convencer as pessoas a receberem essa assistência e a gente vai tentar convencer com muito carinho e com um olhar diferente.
O plano de governo da senhora menciona "incentivo à prática cívica e valores". Por que a senhora acredita que esses tópicos são importantes para a população, especialmente no ambiente escolar?
Cristina Graeml: Eu acho que os vários governos de esquerda ou com tendência de esquerda viciaram a sociedade misturando o ensino com a educação. Os pais foram perdendo a noção do que é responsabilidade da escola e do que é responsabilidade dos pais. As ideologias de esquerda que foram embutidas na cabeça de estudantes universitários, primeiro, que viraram professores de rede municipal e estadual e agora chegam aos nossos estudantes, inclusive da educação infantil. Essas ideologias de esquerda tiraram a autoridade dos pais, jogando toda a responsabilidade sobre o professor, confundindo as crianças e os adolescentes em relação a muitos assuntos.
A gente precisa “desmisturar” isso. Ensino é uma coisa, educação é outra. Depois de conversar com professores e pedagogos para entender sobre as demandas e sobre essa confusão criada na sala de aula, fica claro que eles também não querem, mesmo quem é de esquerda já entendeu que precisa separar. Já tenho a proposta para mudança de nome da Secretaria de Educação para Secretaria de Ensino, para que fique bem claro que o município, o gestor, cuida do ensino da base comum curricular, que já está no âmbito do legislativo e que a gente só precisa executar no cargo executivo.
Não se muda nada no que está previsto nas disciplinas da grade escolar desde da primeira infância, mas a gente vai deixar a educação moral para os pais, não tem essa de professora ficar na cabeça de criança de 3 anos de que ele não é menino, nem menina, ele é o que ele quiser ser. Quem diz isso para ele, se concorda ou não com essa ideia, que é anticiência, são os pais, se concordarem com a tal da ideologia de gênero. Eles que apliquem essa ideia na cabeça da criança em casa e depois ela vai bater cabeça ao longo da vida, infelizmente. A gente já sabe dos problemas psicológicos que advêm dessa ideologia colocada na cabeça de crianças muito precocemente.
Na escola, a professora não tem que estar preocupada se a menina é menina ou se o menino é menino. Se surgir qualquer dúvida, óbvio que com jeitinho e os professores são capacitados para isso, esclareça que a mamãe e o papai podem explicar isso melhor em casa. Deixa para o psicólogo da família, ou seja quem for, para resolver essa questão. Vamos brincar, a criança está na creche que tem um momento lúdico. Vamos aprender, conhecer as letrinhas e os números porque é isso que é importante.
Com nossa visão liberal também, vamos entrar com educação financeira nas creches com estímulo ao empreendedorismo já na primeira infância. As crianças precisam brincar de lojinha pra entender que no futuro, se quiserem, serão empreendedoras ou empresárias. Vamos entrar também com aulas de oratória porque capacita o futuro estagiário, na adolescência, o futuro profissional na fase adulta, na busca por melhores vagas de trabalho. Ele se posiciona no mercado de trabalho porque consegue externar seus pensamentos e como ele pode ser produtivo.
A segurança pública é apontada pelos curitibanos como o principal problema da cidade. Nesse sentido, fala-se muito sobre uma atuação mais policial da Guarda Municipal e o seu plano de governo fala sobre ampliar as atribuições da Guarda. De que forma isso funcionaria em Curitiba, inclusive no apoio ao policiamento ostensivo?
Cristina Graeml: A minha visão ideológica é menos pela estatização e mais por privatizações. Mesmo assim, não vejo neste momento no Brasil, nem em Curitiba, que é uma cidade com serviços públicos mais eficazes do que a média nacional, não vejo como tirar do poder público a responsabilidade sobre saúde, educação e segurança pública, especificamente nessas três áreas. Vamos viver muitos anos, talvez décadas, até ter a maturidade para jogar na mão da iniciativa privada embora, eu gosto da livre concorrência, gera serviços melhores para a população. Gosto do projeto que está em discussão no Congresso Nacional para dar a Guarda Municipal o status de polícia local, inclusive prevendo a possibilidade de armar e treinar esses guardas para serem vistos pela população como policiais até porque eles são.
Pela atribuição de hoje, eles cuidam de pequenos delitos, além da proteção de prédios públicos, parques, do imobiliário urbano e da natureza para garantir a ordem pública. Mas eles também são responsáveis por pequenos delitos. De minha parte, enquanto não for aprovado o PL que dá o status de polícia local, é tolerância zero com os pequenos crimes. A gente vai entrar pesado contra pichação, contra vandalismo, contra depredação de mobiliário urbano, porque quem depreda ônibus e patrimônio privado precisa responder na forma da lei. A previsão de punição para um vândalo flagrado por um guarda municipal não é prisão, são penas alternativas que o Poder Judiciário, normalmente, aplica como pagamento de cestas básicas para uma creche ou para um asilo. A gente sabe que as entidades assistenciais carecem, mas eu acho mais eficaz como aprendizado o infrator que cometeu uma pichação, por exemplo, que ele pinte e limpe o muro. Além do local que pichou, o serviço ainda pode ser prestado em mais 10 muros.
A gente consegue ensinar de uma forma educativa. Óbvio que como gestora, eu vou estimular a Guarda Municipal a ter um olhar de raio-x para os pequenos delitos, até porque a gente precisa ressuscitar o centro da cidade, que está degradado. Eu entro com a trilha do resgate para o morador de rua, mas também incentivo a população a morar no centro, talvez, como uma uma redução no IPTU, um incentivo ao empreendedor que abra o comércio no centro com redução de impostos. Investir mais em cultura, ter mais viradas culturais, mais atividades que atraiam o curitibano para o centro da cidade com menos criminalidade.
Nós vamos fazer o concurso público que foi prometido pela atual gestão e não foi cumprido. A Guarda está com mais ou menos um terço do efetivo em defasagem. E ainda vamos investir pesadamente em tecnologia e nas câmeras de reconhecimento facial em um número muito maior. A tal da Muralha Digital tem que ser eficaz, não pode ser só um blá blá blá para conseguir um título de cidade mais inteligente e, na prática, a gente não vê, os crimes nos atormentando todos os dias.
A pauta do conservadorismo é ligada naturalmente ao ex-presidente Jair Bolsonaro. A senhora esteve com ele no período de pré-campanha em Brasília, no entanto ele fechou com a candidatura do atual vice-prefeito. Como avalia essa composição?
O presidente Bolsonaro não está na coligação do vice-prefeito. A imagem dele está sendo usada pelo candidato que é o vice-prefeito, usando a máquina pública e a grande aliança que ele conseguiu fazer. Ele atraiu para a coligação o PL municipal, inclusive o presidente do PL municipal como vice na chapa. Eu sou muito cobrada porque eu não fui para o PL ou porque eu não quis o Paulo Martins como vice. Eu o convidei, oficialmente, e a resposta que ele me deu é que seria vergonhoso, humilhante, ser candidato a vice depois de ter sido deputado federal e candidato ao Senado. Eu entendi e acho legítima essa colocação. Eu não estou criticando.
Inclusive como jornalista, critiquei muito a pesquisa que saiu na antevéspera da eleição de 2022 que o prejudicou na corrida pelo Senado. Foi muito injusto. Nós, inclusive, éramos comentaristas do mesmo programa na Revista Oeste. Não tenho nenhuma divergência ideológica com Paulo Martins, respeito pela carreira política que ele construiu, mas infelizmente ele caiu no colo do PSD, que é centrão fisiológico, preside o Senado, está dentro do governo Lula com três ministérios, assim como outros partidos dessa aliança que se formou em torno da candidatura do atual vice-prefeito. A gente diverge nesse sentido, eu não acho que a Curitiba conservadora esteja representada pela chapa do centrão fisiológico.
Eu convidei o Paulo Martins, oficialmente, e a resposta que ele me deu é que seria vergonhoso, humilhante, ser candidato a vice depois de ter sido deputado federal e candidato ao Senado.
Cristina Graeml, candidata do PMB à prefeitura de Curitiba
E quando ainda não tinha sido confirmada a candidatura dele, como vice-prefeito e o PL estava em cima do muro, tal qual partidos fisiológicos de centrão, o presidente Bolsonaro me chamou a Brasília para declarar mais uma vez o profundo respeito pela minha trajetória no jornalismo e pela coragem de interromper uma carreira de 34 anos para me dedicar a política. Enfatizou que precisamos de mais nomes, como o meu na política, elogiou minha postura e declarou apoio a mim. Tiramos uma foto muito descontraída que eu publiquei nas minhas redes sociais com autorização dele.
Tentei conversar com Republicanos e Podemos quando eles ainda não tinham ido para a aliança com o PSD, porque tinham sido base da tentativa de reeleição do presidente Bolsonaro, mas eles me negaram legenda e queriam que eu fosse para ser vereadora. Eu expliquei que a minha proposta não é fazer carreira política, eu estou aqui atendendo uma demanda da população da minha cidade. Acho que eu presto um serviço melhor no jornalismo e eles me negaram, disseram que eu estava sendo arrogante. Eles queriam usar o meu nome, posteriormente, para uma chapa na Câmara Federal, me disseram isso com todas as letras. Não tenho planos de ser deputada federal. Não digo que não serei, que não concorrerei, posso vir a ser, pois meu nome está se consolidando no eleitorado conservador, mas no momento o meu desejo e a minha proposta é ser gestora em Curitiba, com muito orgulho pela possibilidade de ser a primeira prefeita mulher.
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