São Paulo teve o primeiro turno mais acirrado entre as capitais brasileiras nas eleições de 2024, com diferença de pouco mais de um por cento dos votos entre o primeiro e o terceiro colocado. Com 100% das urnas apuradas, Ricardo Nunes (MDB), candidato à reeleição, fez 29,48% dos votos, Guilherme Boulos (Psol), 29,09%, e Pablo Marçal, 28,14%. Com isso, Nunes e Boulos disputam o segundo turno em 27 de outubro.
O cientista político e professor do Insper Leandro Cosentino explica que parte desse acirramento é explicado pela polarização e pulverização de candidaturas do mesmo campo ideológico. “Boa parte dos problemas estão associados à polarização que o país atravessa e, em menor medida, a pulverização de alguns campos, como a direita, no caso em mais de uma candidatura. Isso acaba acirrando as disputas e levando a esse voto bastante diluído, pulverizado que gera esse acirramento nas capitais”, explica.
Desde 2012, a maior cidade da América Latina não presenciava uma eleição tão acirrada. No pleito de 12 anos atrás, o primeiro turno também foi disputado, mas principalmente entre dois candidatos: José Serra (PSDB) fez 30,75% e Fernando Haddad (PT), 28,98%. Na segunda etapa da eleição, o petista foi eleito com 55,57% dos votos.
A entrada de Marçal na disputa alterou o rumo da eleição em São Paulo. O candidato do PRTB adotou tom agressivo durante a campanha e, na sexta-feira (4), ele divulgou um documento falso que citava internação de Boulos por uso de cocaína. O laudo foi assinado por um médico que morreu em 2022 e aparece como inativo no Conselho Federal de Medicina. Além disso, o número de RG de Boulos aparece com um dígito a mais, o nome da clínica está faltando uma letra e o documento possui erros de ortografia. Por causa disso, a Justiça suspendeu o perfil de Marçal no Instagram no sábado (5).
A estratégia adotada por Marçal e sua tentativa de associar todos os demais candidatos à esquerda atraíram apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro - que apoia o candidato Ricardo Nunes. Com isso, o eleitor de direita se dividiu entre Nunes e Marçal, pulverizando os votos, conforme explicou o especialista.
Disputa acirrada também em Curitiba e Campo Grande
Em Curitiba, o atual vice-prefeito Eduardo Pimentel (PSD) ficou com 33,51% e a jornalista Cristina Graeml (PMB), 31,17%. A candidata do PMB, que aparecia com 5% das intenções de voto na Quaest* de 27 de agosto, foi crescendo durante a campanha eleitoral, conquistando a vaga no segundo turno para disputar o pleito com Pimentel. Para o professor de Administração Pública e pesquisador da área de Cultura Política da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) Daniel Moraes Pinheiro, o crescimento de Graeml e o acirramento da disputa têm como pano de fundo o conservadorismo da cidade de Curitiba.
Desde o período da pré-campanha, o objetivo do PSD, liderado pelo governador Ratinho Junior, era juntar o maior número possível de partidos em uma coligação de direita para suceder Rafael Greca na capital, dando mais tempo de televisão — a chapa ficou com 4 minutos e 42 segundos, o maior neste pleito. No fim, a composição somou oito siglas, incluindo o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, que costurou com Ratinho a vaga de vice para Paulo Martins.
Bolsonaro, no entanto, pouco apareceu na campanha de Pimentel, exceto na reta final. A associação com o ex-presidente ficou com Graeml, que chegou a se encontrar com Bolsonaro em Brasília e conseguiu a autorização dele para usar a imagem juntos nas redes sociais.
Já em Campo Grande, apenas 2,1% separaram o primeiro do segundo colocado. Adriane Lopes (PP) fez 31,66% dos votos e Rose Modesto (União) fez 29,56%. Lopes era vice-prefeita, eleita em 2020, mas assumiu como chefe do Executivo em 2022, após renúncia do então prefeito Marquinhos Trad (PSD) para disputar o governo do estado.
Ela teve apoio da senadora Tereza Cristina (PP), ex-ministra do governo de Jair Bolsonaro (PL). A candidata, no entanto, não é a candidata oficial do ex-presidente na cidade: por lá, Bolsonaro preferiu apoiar o nome do PSDB, o deputado federal Beto Pereira.
Já Rose Modesto foi vereadora da cidade, vice-governadora e deputada federal do Mato Grosso do Sul. Ela havia disputado a prefeitura da capital do estado em 2016, mas não foi eleita.
*Metodologia: 900 entrevistados pela Quaest entre os dias 24 e 26 de agosto de 2024. A pesquisa foi contratada pela Sociedade Rádio Emissora Paranaense SA (RPC). Confiança: 95%. Margem de erro: 3 pontos percentuais. Registro no TSE nº PR-06447/2024.
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