A Embaixada da Guiana no Brasil pediu oficialmente um esclarecimento do governo brasileiro sobre as acusações que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, fez ao país. Na semana passada, Silveira disse que a Guiana estaria "chupando de canudinho" reservas de petróleo que pertencem ao Brasil.
“A Embaixada já pediu oficialmente um esclarecimento do Governo Brasileiro sobre as palavras lamentáveis do Ministro de Minas e Energia", disse, em nota enviada à Gazeta do Povo, o encarregado de negócios da Guiana no Brasil, Vernon Robinson. "Quero reinterar que, apesar disto, o Brasil é um parceiro importante para Guiana em todas as esferas internacionais", complementou o diplomata.
A Gazeta do Povo entrou em contato com Itamaraty e o Ministério de Minas e Energia (MME) para saber o posicionamento deles a respeito do pedido da Guiana. O Itamaraty apenas sugeriu ouvir o MME, que não comentou.
Nesta segunda-feira (3), questionado sobre o assunto, Silveira mudou o tom em declaração pública. Segundo ele, sua intenção era afirmar que o Brasil deve "se espelhar" na Guiana, considerando a rapidez com que ela começou a explorar o seu petróleo.
“O que eu quis dizer é que a Guiana avançou de maneira muito célere nesta região geológica, que divide com o Brasil. Isso demonstra de maneira inequívoca que a Guiana tem mérito em atrair tantos investimentos nestas áreas […] Precisamos até nos espelhar na velocidade que teve a Guiana de atrair tantos investimentos”, afirmou o ministro à CNN Brasil.
Ministro disse que Guiana "chupa" petróleo do Brasil na divisa, mas países não fazem fronteira na Margem Equatorial
Segundo Silveira afirmou na última segunda-feira (27), a Guiana estaria explorando petróleo na divisa com o Brasil. Na ocasião, ele manifestava preocupação com a demora do Brasil em explorar petróleo no subsolo marinho da Margem Equatorial, na costa norte do país. A Petrobras tem blocos na região, mas o Ibama negou licença ambiental para a exploração deles.
"Nossos irmãos da Guiana estão chupando de canudinho as riquezas do Brasil, estão explorando na divisa, em um bloco adquirido no governo Dilma [Rousseff, PT]. Não podemos desrespeitar contratos. É direito do povo brasileiro conhecer suas riquezas”, disse o ministro em reunião de trabalho do G20 em Belo Horizonte.
Reportagem da Gazeta do Povo mostrou que a fala do ministro não faz sentido. Nas águas da Margem Equatorial, quem faz fronteira com o Brasil é a Guiana Francesa, um departamento ultramarino da França que não produz petróleo. Mais a oeste fica o Suriname e só então a Guiana "petroleira". Esta só faz fronteira com o Brasil em terra, em parte de Roraima e do Pará, onde não há atividade petrolífera.
Guiana é o país que mais cresce no mundo, graças ao petróleo
O Ministério de Minas e Energia estima que a Margem Equatorial brasileira tenha jazidas de aproximadamente 10 bilhões de barris de petróleo "recuperáveis" – ou seja, viáveis do ponto de vista comercial –, que poderiam render algo da ordem de R$ 1 trilhão para os cofres públicos.
Esse otimismo tem relação justamente com as descobertas feitas nos mares da Guiana e também do Suriname, cujos subsolos marinhos têm características geológicas similares às do norte brasileiro.
Os dois países localizaram jazidas de petróleo estimadas em 13 bilhões de barris. A exploração dessas reservas faz da Guiana o país que mais cresce no mundo. O sucesso despertou a cobiça da Venezuela, que recentemente se declarou dona do território de Essequibo, oficialmente pertencente à Guiana.
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