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Aline Helena Tavares Peres conseguiu eliminar 50 kg em 10 meses


Obesidade: tratamento multidisciplinar para combater doença complexa

Buscar profissionais qualificados contribui não somente com a perda de peso, mas também com a redução dos riscos de doenças e melhora da qualidade de vida.

Roger Pereira


Apontada como a doença do século, a obesidade já atinge 16% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). São 20 milhões de pessoas no país que, por excesso de gordura no corpo estão muito mais sujeitas a outras complicações como diabetes melitus tipo 2, hipertensão arterial sistêmica, aumento do colesterol e triglicerídeos, problemas articulares (artrose, hérnias de disco) e alguns tipos de câncer, como próstata e vesícula, nos homens, e mama e útero, nas mulheres.

“A obesidade é uma doença complexa e multifatorial, determinada pela genética, mas que só se manifesta pela influência ambiental, pela presença de hábitos ruins”, explica o diretor da Sociedade Paranaense de Endocrinologia Dr. Rodrigo Doré Brzezinski. “Em 99% dos casos a obesidade é desencadeada pelo desequilíbrio entre ingestão alimentar elevada e gasto calórico reduzido. Dessa forma, o corpo armazena energia em excesso sob a forma de lipídio (gordura)”, acrescenta.

O ganho de peso também pode ser associado ao uso de medicamentos com antipsicóticos ou corticoides ou a raras doenças crônicas que levam à obesidade. Mas o crescimento da doença no Brasil é atribuído, quase que integralmente, à mudança de hábitos alimentares. “O estilo de vida moderno e acelerado predispõe ao consumo de alimentos com rápida absorção e de fácil aquisição como as frituras de imersão, os produtos de padaria (na maioria das vezes, farináceos não integrais) os alimentos processados e ultraprocessados e as bebidas açucaradas como os sucos de caixinha e os refrigerantes. Associado a uma alimentação não nutritiva, o estresse e o sedentarismo estão como as principais causas de obesidade de mundo atual”, comenta o médico do Programa de Emagrecimento da Paraná Clínicas Dr. Diogo Ferreira Dias.

“A indústria alimentícia se encarregou de contribuir para esse quadro ao investir na fabricação de alimentos industrializados com grande quantidade de gordura saturada, açúcar refinado e sódio. Isso fez com que alimentos de péssima qualidade nutricional ficassem relativamente baratos, ocasionando seu consumo elevado”, reforça Dr. Rodrigo Doré.

Ferreira Dias lembra que estar acima do peso, mas com os exames “normais” não é sinal de um “gordinho saudável”. Ele cita um estudo publicado neste no New England que acompanhou 90.000 enfermeiras que estavam acima do peso com exames normais, durante 30 anos (1980-2010) para medir os efeitos do sobrepeso ao longo do tempo. “O resultado, já esperado, foi que, em 20 anos, 84% apresentaram alguma alteração metabólica como diabetes ou dislipdemia e 39% tiveram aumentado o seu risco cardiovascular, que é a chance de ter um infarto ou AVC”, conta. “Esse estudo mostra que estar acima do peso com exames normais não significa saúde e que o processo inflamatório provocado pelo acumulo de gordura vai trazer malefícios a saúde em algum momento da vida”.


Emagrecendo com qualidade

Dietas radicais, atividades físicas sem acompanhamento e medicamentos milagrosos. A busca pelo “peso ideal” expõe as pessoas a diversas soluções oferecidas pelo mercado ou pelo conhecimento popular. O médico Dr. Diogo Ferreira Dias, coordenador do Programa de Emagrecimento da Paraná Clínicas alerta para as consequências do tratamento inadequado.

“As primeiras atitudes da maioria das pessoas que ganham peso são parar de comer e fazer caminhada para se livrarem o quanto antes daqueles quilos extras que incomodam. “Fechar a boca” e fazer atividade física sem orientação pode até resolver por um tempo mas tem grandes chances de trazer graves consequências para a saúde. Isso ocorre porque a obesidade é uma doença complexa, multifatorial, com caracte

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rísticas genéticas importantes”, diz. “Além disso, o tecido gorduroso gera um processo inflamatório no organismo que predispõe a diversas doenças metabólicas como diabetes, hipertensão e aumento do colesterol. Portanto, toda pessoa acima do peso deve buscar um tratamento com profissionais qualificados para não somente perder peso mas também reduzir o risco de doenças e melhorar a qualidade de vida”, aponta.

Assim, o Programa de Emagrecimento prevê uma abordagem individual ao paciente e um programa multidisciplinar, com médico, nutricionista, psicólogo e educador físico atuando na mudança de hábitos do obeso.



“A primeira consulta é sempre com o médico que iniciará o tratamento com uma abordagem individual. Nela, excluímos ou tratamos possíveis alterações hormonais como tireoide ou metabolismo lentos, identificamos medicações que podem estar levando ao ganho de peso, fatores emocionais envolvidos, qualidade de sono e hábitos intestinais”, diz.

Na sequência, o participante já passa por uma consulta com o nutricionista do programa para a identificação de erros alimentares e a adequação da dieta, de acordo com o objetivo do paciente, sua rotina, preferência, necessidades e limite financeiro. A compulsão ou a busca por comida como fuga para problemas familiares, profissionais ou financeiros são abordadas pelo psicólogo, com foco no comportamento alimentar.

A mais nova fase do programa conta com a presença do educador físico, capaz de indicar o melhor exercício para a perda efetiva de peso sem provocar dores lesões ou riscos devido às comorbidades do paciente. “Sair do sedentarismo potencializa o emagrecimento e reduz o risco de doenças cardiovasculares. Qualquer atividade física contribui nesse processo. Fazer o que é possível no ambiente que a pessoa vive e encontrar oportunidades em uma época que a falta de tempo impera é a chave do processo. Trocar elevadores por escada, se deslocar para buscar objetos ao invés de solicitar a entrega, movimentar-se nos intervalos do trabalho”, conta o médico.

“Mensalmente, o participante passará por um ou mais profissionais do programa. A adequação do plano alimentar, a intervenção em caso de estagnação do peso e a abordagem adaptativa com as possíveis mudanças de rotina do paciente garantem o sucesso no tratamento. Além disso, a equipe de enfermagem realiza ligações contínuas para saber opiniões e sugestões do paciente e ainda dão um carinhoso ‘puxão de orelha’ para aqueles que não compareceram a consulta e sugerem uma nova data de atendimento caso tenham interesse em continuar no programa”, conta o médico Dias.

Foi neste programa que, após tentar todas as dietas disponíveis na internet, que Aline Helena Tavares Peres conseguiu eliminar 50 kg em 10 meses. “Eu já fiz de tudo, já tomei tudo, e nunca consegui emagrecer desta forma. No programa, com toda a paciência dos profissionais, eu consegui me adaptar à dieta e à rotina de exercícios”. O acompanhamento mensal e a compreensão e explicação dos profissionais sobre as diferentes fases do processo de emagrecimento e os diferentes resultados de pessoa para pessoa foram fundamentais para que ela persistisse no programa e alcançasse o resultado.

“Procurei o programa depois de uma consulta na minha ginecologista que, após pedir exames, me mostrou que, aos 33 anos, eu estava com ‘doenças de velhos’, como diabetes e hipertensão. No começo, foi muito difícil e o resultado demorou a aparecer, mas eles sempre me motivaram, ofereceram, até, acompanhamento psicológico. Depois, virou hábito. Hoje não sinto falta de nada que eu comia antes e frequento a academia diariamente. Essa é minha rotina”, conta, dizendo que já normalizou seu nível de açúcar no sangue e sua pressão arterial. “O mais interessante é que a dieta foi adaptada ao meu poder aquisitivo. Mostrei quanto eu ganhava de vale alimentação e a nutricionista montou um cardápio com alimentos baratos, que geralmente já temos em casa. Faço pão de aveia, macarrão de abobrinha, substitui o açúcar e não sinto falta”, relata.