Faltas por acidente de trabalho custaram  R$ 224 milhões  às indústrias paranaenses em 2014 | Brunno Covello/Gazeta do Povo
Faltas por acidente de trabalho custaram R$ 224 milhões às indústrias paranaenses em 2014| Foto: Brunno Covello/Gazeta do Povo

Não é preciso ser nenhum grande especialista para perceber que as faltas são um grande problema para a produtividade de uma empresa, principalmente em tempos de crise. Mas qual o real impacto dessas ausências para a indústria? Segundo dados da Associação Brasileira de Recursos Humanos do Paraná (ABRH-PR), em 2014, as companhias paranaenses perderam cerca de 2,2% do tempo dos seus empregados com faltas, afastamentos e atrasos.

Parece pouco, mas é como se uma empresa fechasse durante oito dias porque ninguém apareceu para trabalhar. É por essa razão que cuidar do índice de absenteísmo se torna algo tão importante. Como explica a coordenadora de segurança e saúde do Sesi no Paraná, Juliana Cipriani, a falta de gerenciamento dessas ausências pode gerar custos desnecessários e afetar até mesmo o consumidor final. De acordo com ela, é um problema socioeconômico que atinge toda a cadeia produtiva.

Absenteísmo e os impactos na indústria

Faltas e afastamentos têm reflexos diretos na produtividade, na qualidade do serviço e afetam até mesmo o consumidor final. Só em 2014, as indústrias paranaenses gastaram mais de R$ 224 milhões com ausências causadas por acidentes de trabalho.

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“As faltas diminuem a produtividade, reduzem a qualidade do serviço e o rendimento do trabalhador, além de aumentarem o custo de produção com substituições e treinamentos, o que reflete no preço final para o consumidor”, aponta. “Todo mundo sai perdendo”. Somente em 2014, as indústrias paranaenses gastaram mais de R$ 224 milhões com afastamentos causados por acidentes de trabalho, conforme revela a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho.

As causas dessas ausências são bastante variadas, indo desde problemas pessoais a questões médicas, passando por acidentes à simples falta não justificada do funcionário. Só que não se trata de impedir que esse trabalhador se ausente, mas de ter um maior controle sobre isso para evitar que esse absenteísmo tenha um impacto real sobre a produtividade. Assim, trabalhar com um sistema de gestão se torna uma solução bastante eficaz para reduzir esses índices.

O primeiro passo é conhecer o problema para saber como tratá-lo. “Muitas empresas não conhecem a própria realidade. Elas sentem a ausência do trabalhador, mas não tomam uma ação para evitar que ele continue se afastando”, descreve Cipriani. “É um problema de gestão”. Assim, acompanhar essas faltas e entender as suas causas se revelam processos fundamentais para controlar o absenteísmo.

“Muitas empresas não conhecem a própria realidade. Elas sentem a ausência do trabalhador, mas não tomam uma ação para evitar que ele continue se afastando”

Juliana Cipriani coordenadora de segurança e saúde do Sesi no Paraná

Para o doutor Erasmo Henrique Mello Pereira, médico do trabalho do Sesi no Paraná, monitorar ocorrências menores ajuda a evitar afastamentos de longa duração. “Se há uma frequência nos atestados de hipertensão, por exemplo, vamos fazer uma campanha sobre o tema. Isso ajuda a reduzir o aparecimento de novos casos ou que o trabalhador se afaste por períodos maiores por conta disso”, explica.

Foi essa a estratégia adotada pela Aker Solutions para reduzir os índices de absenteísmo em sua unidade no Paraná. Segundo a médica do trabalho da empresa, a doutora Alana Santos, esse acompanhamento epidemiológico é fundamental para entender o que se passa dentro da organização e identificar eventuais problemas, o que ajuda na hora de apresentar soluções.

Esse cuidado, afirma Santos, é algo básico dentro de qualquer companhia, pois traz reflexos diretos nos resultados e na qualidade do serviço. “Com esse levantamento, conseguimos tomar ações coletivas e individuais no sentido de contribuir para a melhoria da saúde do trabalhador”, revela a médica. “E, ao priorizarmos esse aspecto, influenciamos na produtividade da empresa, mas de uma maneira diferente e efetiva”.

Cultura do atestado

Cipriani defende ainda a ideia de que a empresa deve adotar um maior controle sobre os atestados, não os recebendo apenas de maneira passiva. “É trabalhar com o RH para saber o que está acontecendo, ter um melhor controle e conhecer os problemas para reduzir os números”, sugere.

Saiba mais

Para saber mais sobre o absenteísmo e como adotar práticas para ter mais controle sobre ele em sua empresa, acesse: www.sesipr.com.br/saude

Assim, além de frear a famosa cultura do atestado, esse tipo de medida ajuda a organização a entender sua própria realidade e a se aproximar da equipe. “As organizações bem-sucedidas estão estimulando a presença por meio de práticas gerenciais e culturais que privilegiam a participação dos funcionários”, conta a coordenadora do Sesi no Paraná.

Segundo ela, algumas mudanças comportamentais já se tornam visíveis em alguns poucos meses, principalmente pelo fato de as ações serem focadas na realidade de cada companhia. Para ela, porém, mais importante do que o prazo, são os ganhos que tanto a empresa quanto o trabalhador conquistam com esses cuidados, seja com o aumento na produtividade e na redução dos custos ou na satisfação do funcionário. “São ações preventivas que têm um impacto muito maior do que os gastos que a empresa teria com doenças e acidentes”, conclui.

Não é questão de “corpo mole”

Presenteísmo afeta rendimento dos funcionários e é um problema muito mais difícil de mensurar que absenteísmo

Se o absenteísmo é um problema visível dentro da indústria, o que dizer quando o funcionário está presente em seu posto, mas com um rendimento muito baixo? É o que acontece com o chamado presenteísmo, uma outra realidade bastante presente nas empresas, mas difícil de ser percebida. “Como ele é velado, é muito difícil de mensurar” explica o doutor Erasmo Henrique Mello Pereira, médico do trabalho do Sesi no Paraná. “O trabalhador está presente, cumpre seu horário, mas não produz”.

Segundo ele, essa questão vai muito além de má fé — o famoso “corpo mole”. Às vezes, aponta o médico, esse baixo rendimento está relacionado ao stress, à insatisfação ou algum problema no clima organizacional ou mesmo pessoal. “O presenteísmo também pode estar relacionado a doenças menores que não justificam uma falta ou problemas mais sérios ainda em fase inicial, mas que já afetam o rendimento do trabalhador”, detalha Pereira. Nesses casos, ele funciona quase como um sintoma de algo que pode levar ao absenteísmo.

E, assim como nas faltas, controlar essa questão depende muito de um trabalho de gestão, principalmente de acompanhamento do funcionário para entender a causa de seu baixo desempenho. “Uma análise do clima e um trabalho de RH bem estruturado ajudam a incentivar sua presença, gerar satisfação e identificar possíveis problemas”, aponta o médico.