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Do sonho ao isolamento: Bruno Guimarães e os bastidores na França
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Bruno Guimarães vestiu a camisa do Athletico pela última vez em 4 de dezembro de 2019.

Lesionado, o volante entrou nos acréscimos do segundo tempo contra o Santos, pela penúltima rodada do Brasileirão, apenas para se despedir da torcida. Na Arena da Baixada, ele foi peça fundamental nas conquistas da Sul-Americana e da Copa do Brasil. Após duas temporadas completas, deixou o clube como ídolo, negociado por 20 milhões de euros com o Lyon.

Há pouco mais de um mês na França, o volante, que sempre sonhou em jogar na Europa, já encanta o futebol do continente. Veja abaixo os bastidores da saída do Furacão até o desembarque na Europa.

Maratona

Depois do adeus aos atleticanos, Bruno viveu uma maratona após as férias. O ponto de partida foi o Torneio Pré-Olímpico, na Colômbia, onde foi eleito o melhor jogador. No meio da disputa, ficou definido que seu destino seria o Lyon.

Bruno e a família saíram da Colômbia direto para a França
Bruno e a família saíram da Colômbia direto para a França| Arquivo Pessoal

A chegada na França aconteceu na noite de 10 de fevereiro, em jatinho particular providenciado pelo time. 11 dias depois, estreava já como titular diante do Metz, pelo Campeonato Francês. Foi eleito o melhor do jogo pelo site oficial do OL.

No dia 26, estreou na Liga dos Campeões contra a Juventus de Cristiano Ronaldo. "Parecia um veterano em campo" e "Impressionante como não sentiu a pressão", foram os comentários mais comuns sobre a atuação do camisa 39.

No duelo seguinte, contra o Saint-Étienne, recebeu novamente o prêmio de melhor em campo. Convocado pela primeira vez para a seleção brasileira principal, seguiu como titular nas derrotas para o PSG e Lille, as últimas partidas antes da interrupção do futebol por causa do novo coronavírus.

Quarentena forçada

Desde terça-feira (17), ao meio-dia, a população da França entrou em quarentena. A medida foi tomada pelo governo para ajudar a conter a disseminação do novo coronavírus no país. Sair de casa só é possível com autorização e documento informando o motivo da saída.

No meio disso tudo, Bruno segue treinando individualmente, seguindo as instruções do clube. O tempo também é preenchido com aulas de francês via Skype e jogos no videogame, além do preferido, o game de tiro para celular Free Fire.

Adaptação e rotina

Por enquanto, Bruno mora em um apartamento com outras três pessoas na sexta divisão administrativa de Lyon. A residência fica a apenas 15 minutos do Groupama Stadium e do centro de treinamento anexo ao estádio.

Até a chegada definitiva de seus pais, Dick e Márcia, adiada por causa da pandemia, o volante está com seu empresário Alexis Malavolta, Renan Moura, que trabalha com o agente, e o meio-campista Camilo, ex-Ponte-Preta, contratado pelo Lyon na última janela.

Antes da quarentena, a rotina do jogador envolvia aulas de francês no próprio clube, uma hora antes do treino, entre três e quatro vezes por semana. Nos passeios com a família para conhecer a cidade, já era reconhecido.

"É curioso como os torcedores já reconhecem ele nos lugares e falam como se ele entendesse tudo. Só que na maioria das vezes não entendemos nada", brinca Márcia, mãe do atleta, que ficou até dia 5 de março na França.

"Mas dá para perceber que estão muito felizes em tê-lo por lá".

A adaptação ao time também é facilitada pela presença de outros brasileiros no elenco, entre eles o zagueiro Marcelo, os laterais Marçal e Rafael e os meio-campistas Thiago Mendes e Jean Lucas. A comissão técnica tem outro brazuca, o ex-zagueiro do Lyon Cláudio Caçapa.

Quando a mudança dos pais acontecer, até a cachorra da família, a labradora Mel, ganhará passaporte europeu. Dick e Bruno, aliás, têm cidadania espanhola.

Bruno, Camilo, Renan e Alexis nos Alpes franceses. Arquivo pessoal
Bruno, Camilo, Renan e Alexis nos Alpes franceses. Arquivo pessoal

Tatuagem e neve

Mal chegou, o camisa 39 também virou notícia na França ao tatuar leões no braço direito. A escolha já estava feita antes mesmo da transferência para o time francês, que tem, coincidentemente, o animal como mascote.

No fim de semana passado, o ex-atleticano viu neve pela primeira vez. Com os campeonatos paralisados, ele visitou o vilarejo de Megève, estação de esqui com vista para o Mont Blanc, a mais alta montanha da Europa.

Leões tatuados no braço direito. Arquivo pessoal
Leões tatuados no braço direito. Arquivo pessoal

O erro do Atlético

Se o Atlético de Madrid quisesse, Bruno Guimarães poderia estar agora na capital da Espanha. Em agosto, os Colchoneros acertaram a preferência de compra do meio-campista com o pagamento de € 2 milhões.

Os termos do negócio foram alinhados em novembro, quando o diretor do núcleo de negócios do futebol do Athletico, Rodrigo Gama Monteiro, viajou a Madrid. Porém, cerca de duas semanas depois, o Atlético avisou que decidiu não exercer a opção de compra do camisa 39.

O motivo foi a regra do fair play financeiro, já que o clube madrilenho vislumbrava contratar o atacante Edinson Cavani, do PSG, para suprir uma lacuna no elenco. No fim das contas, a contratação acabou nem saindo do papel.

Juninho foi fundamental para a ida de Bruno ao Lyon
Juninho foi fundamental para a ida de Bruno ao Lyon| Arquivo Pessoal

Juninho e o projeto perfeito

No fim de dezembro, antes mesmo de Bruno jogar o torneio pré-olímpico na Colômbia, o português Benfica apareceu na jogada. Mas a proposta parou no presidente Mario Celso Petraglia. Logo depois, surgiu o interesse do Lyon — e tudo mudou.

O time francês, que tem Juninho Pernambucano como diretor esportivo, conquistou o volante de 22 anos. O projeto do clube encantou também a família Guimarães.

"O Lyon mostrou interesse, coisa que o Atlético de Madrid nunca mostrou", resumiu uma pessoa do staff do jogador, que exaltou a participação (e o tato) de Juninho na condução da transação.

Arrependimento

Um dia depois de o Athletico acertar verbalmente a venda de Bruno Guimarães ao Lyon, o arrependimento bateu no Atlético de Madrid. O time espanhol voltou com tudo para tentar ficar com o jovem após vê-lo se destacar no pré-olímpico.

A oferta era melhor do que a da equipe francesa, mas Petraglia (que já havia dado sua palavra de que faria o negócio com ao Lyon), deixou a decisão nas mãos de Bruno. E ele não teve dúvida.

"Juninho é o responsável pela minha decisão de vir pra cá. Ele ligou para a minha família e meus agentes. Foi honesto e leal. Me ofereceu um lindo projeto de carreira. Isso me fez querer vir para o Lyon", resumiu o volante.

A venda oficial para o Olympique Lyonnais foi fechada por € 20 milhões, mais 20% do lucro de uma futura venda. A proposta espanhola, com valores similares, seria fechada apenas em julho de 2020, mas envolvia outros € 5 milhões em metas de produtividade.

Dick, Bruno e Márcia posam com a 39
Dick, Bruno e Márcia posam com a 39| Arquivo Pessoal

39 "aposentada"

Quando o negócio foi finalmente fechado, Bruno fez um pedido para Petraglia: aposentar a camisa 39 até seu retorno ao Athletico.

O número tem um significado especial para o jogador, o mesmo do táxi que seu pai, Dick, usava quando trabalhava no Rio de Janeiro. Petraglia garantiu que a camiseta está guardada para o retorno do volante.

Na França, o Lyon conseguiu uma autorização para que o 39 fosse usado. Normalmente, os elencos usam numeração de 1 a 30.

Leia o perfil especial de Bruno Guimarães publicado em setembro de 2019

Valorização expressiva

O valor de mercado ex-atleticano aumentou muito desde a estreia em terras francesas. De acordo com o site Transfermarkt, especializado em negócios do futebol, Bruno agora vale € 35 milhões, 42% a mais do que na época da contratação. Ele foi o jogador que mais valorizou na última atualização do site.

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