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| Foto: Osvalter Urbinati/Gazeta do Povo

Tiago Retzlaff Nunes, 38 anos, técnico que conduziu o Atlético-PR à sua primeira final de Copa Sul-Americana, segue à risca os ensinamentos de uma antiga expressão em latim.

Labor improbus omnia vincit, “o trabalho persistente vence tudo”, atribuída ao poeta romano Virgílio, é lema familiar e guia a carreira do gaúcho de Santa Maria, agora a um passo de fazer história com o Furacão.

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No jogo de ida contra o Junior Barranquilla, na última quarta-feira (5), na Colômbia, empate por 1 a 1. A decisão será nesta quarta-feira (12), na Arena da Baixada lotada, e uma vitória simples garante a taça.

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A inédita conquista continental viria com menos de dois anos no clube – e apenas cinco meses após a estreia no time principal. Ao mesmo tempo, representaria a coroação de 15 anos peregrinando por dez estados e 22 equipes em funções diversas. A recompensa por uma vida de dedicação (e sacrifícios) por um sonho.

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“Tiago é um cara que se preparou demais. Tem um alicerce muito bom, tanto de teoria quanto na parte de experiência prática. Trabalhou em todos os níveis do esporte, na formação, nos profissionais, em diferentes estados. Estava pronto quando a oportunidade chegou”, diz Diogo Giacomini, técnico do sub-20 do Atlético-MG e veterano do técnico rubro-negro na faculdade de educação física na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM).

Osvalter Urbinati/Gazeta do Povo

Tiago Nunes se formou em 2003. No mesmo ano, teve a primeira oportunidade como preparador físico, no Inter de Santa Maria, e em seguida no minúsculo Camponovense, de Santa Catarina. Mas foi a partir do ano seguinte, ao retornar para o Rio Grande do Sul, que o novato viveu sua primeira grande experiência no mundo da bola.

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Em 2005, no São Luiz de Ijuí, exerceu papel importante na conquista da segunda divisão gaúcha. “Ele já era muito diferente. Moderno, sempre muito estudioso, não era só de fazer o simples. Sempre chamou a atenção”, recorda Delmar Blatt, gerente de futebol do Alvirrubro.

Na época, outra característica do futuro treinador floresceu. Assim como tem o grupo do Atlético nas mãos hoje em dia, Nunes também usou o discurso franco, alinhado com o que aplica na prática, para tirar o máximo de um elenco que estava com salários atrasados.

“Ele interagiu com muita inteligência com os atletas. Já se via liderança nele, um comando muito forte. Nós tínhamos muitas dificuldades, até com pagamento dos jogadores, mas ele mostrava esse poder de convencimento e fazia os caras treinarem mesmo sem receber muito”, conta Hélio Roberto dos Santos, o Betinho, diretor do São Luiz à época.

Simultaneamente ao trabalho como preparador físico, Tiago se especializou em treinamento desportivo pela Universidade Regional do Noroeste do Rio Grande do Sul (Unijui). Na verdade, ele nunca parou de estudar e fez diversos cursos ligados ao futebol, mas também buscou se aperfeiçoar em gestão de pessoas, com cursos na área. Um típico caso de alguém sedento por conhecimento, por evolução.

“Ele sempre foi muito estudioso, atualizado e metódico. O primeiro a chegar e o último a sair. Essa sempre foi a rotina dele”, descreve o empresário Luiz Paulo Chignall, representante de Tiago Nunes há mais de dez anos.

“Ele tinha o mesmo cabelo branco, também usava sapato social, calça apertada, terninho. E já estava planejando, pensando o futuro, na transição para treinador”, acrescenta Chignall.

De esquentado a maduro

Osvalter Urbinati

Quem observa a postura equilibrada e educada de Tiago Nunes à frente do Atlético dificilmente imagina que ele já foi considerado do tipo “nervosinho”. “Ele era bem esquentado nos campeonatos da faculdade”, lembra Giacomini.

“O Tiago era explosivo, típico da escola do Sul. O perfil dos jogos é pegado, então a adrenalina vai lá em cima. É competição a todo momento”, corrobora Chignall.

Aos poucos, a cabeça quente deu lugar a um perfil mais calmo, mas sem prejudicar o essencial: senso de competitividade. No Veranópolis, último clube antes de desembarcar em Curitiba, a mudança já era clara para quem convivia com o treinador.

“A gente ouvia falar que ele era ‘pavio curto’ e que, quando se acalmasse, seria um vencedor. O Tiago entendeu isso e chegou nesse estágio de amadurecimento mesmo jovem, ainda no começo da carreira. Mas é claro que ninguém é santinho. O cara quer vencer e quando precisa cobrar forte, cobra”, diz Ademir Bertoglio, gerente de futebol do Pentacolor.

No primeiro Gauchão, em 2017, o treinador fez boa campanha. Seu time terminou a primeira fase na quinta colocação, com a defesa menos vazada do campeonato. Depois da eliminação para o Grêmio, nas quartas de final, Tiago recebeu convite para assumir o sub-20 do Tricolor gaúcho – onde já havia treinado a equipe infantil quatro anos antes – e outro para ser avaliado pelo Rubro-Negro.

Mesmo tendo que passar por um processo seletivo, com entrevista e dissertação explicando seus conceitos de futebol, apostou alto no Atlético, clube que já o monitorava havia alguns anos por meio do DIF (Departamento de Informação do Futebol).

“Ele ficou em dúvida sobre voltar a trabalhar na base, mas falei que, se desse errado, teria as portas abertas de novo no Veranópolis. Lá no Atlético, a chance no profissional poderia vir mais rápido, ele conheceria a estrutura e o pensamento da diretoria. Se ficasse no interior, teria de rodar mais um quatro, cinco anos até ganhar algo e se destacar”, aponta Bertoglio.

E a chance em veio relativamente rápido. Contratado em abril de 2017, Tiago levou a equipe sub-20 do Furacão a uma inédita semifinal do Brasileirão da categoria.

Neste ano, a estrela do técnico brilhou ainda mais. No comando do time de aspirantes, levantou a taça do Paranaense em plena Arena da Baixada, contra o arquirrival Coritiba. Cenário melhor impossível.

Seu estilo de jogo vertical e intenso, além da personalidade marcante e rápida identificação com as cores do clube conquistaram a torcida. E quando a permanência de Fernando Diniz no time principal se tornou insustentável, durante a parada para a Copa do Mundo, Tiago Nunes abraçou o momento que tanto aguardava.

Após retornar do curso para obter a Licença A de treinadores da CBF, o jovem grisalho assumiu o Atlético na vice-lanterna do Brasileirão, com nove pontos em 12 rodadas. Apesar de ser oficialmente um interino no cargo (com contrato CLT), conduziu o time à sétima colocação, com 57 pontos, a apenas três de uma vaga na fase eliminatória da Libertadores.

Já na Sula, a equipe foi avançando fase a fase, ganhando maturidade e multiplicando seu espírito vencedor a cada jogo. A importância de ficar marcado na história atleticana virou um mantra interno. A tática funcionou e Tiago Nunes replicou sua filosofia ao time. Virou a cara do Atlético.

Mas qual foi o segredo para conseguir essa virada surpreendente? Foi preciso reconstruir a confiança dos jogadores e refazer a maneira de a equipe jogar. Campeões no Paranaense, pratas da casa como Léo Pereira, Bruno Guimarães e Renan Lodi viraram nomes essenciais na reconstrução rubro-negra.

Nada que surpreenda quem trabalhou de perto com o comandante. “Não é nenhuma novidade o sucesso dele. Sabe trabalhar com o grupo e com os jogadores individualmente. Acredito que ele já sofreu bastante na vida e agora está colhendo os frutos que ele mesmo plantou”, relata o experiente atacante Ederson, titular durante o Estadual e artilheiro do campeonato com dez gols.

“Temos um técnico pronto para assumir e ficar muito tempo. Eu falei isso no fim do Paranaense. É um cara correto, que gosta das coisas certas, que trabalha e entende mesmo de futebol”, garante Emerson, zagueiro de 35 anos que disputou sete partidas no Paranaense.

Para o volante Pierre, outro veterano comandado por Tiago Nunes no Estadual, a admiração virou amizade. Principalmente pela transparência.

“Ele tem isso, é sincero. Ele vai e fala a verdade, não o que o jogador quer escutar. Acabou virando meu amigo”, revela o ex-jogador do Paraná, Palmeiras e Galo.

Contando com os duelos pela Sul-Americana, o time de Tiago Nunes agora soma 21 vitórias, oito empates e sete derrotas na temporada, com 65,7% de aproveitamento. Números que o fizeram dar uma alcunha peculiar ao Atlético - ‘Time de guerra’.

E a batalha mais importante, para fechar um ano inesquecível e comprovar que nada vence a força do trabalho, nunca esteve tão perto. Tanto faz se em latim, português ou espanhol.

“O trabalho que desenvolvemos não só nessa temporada, mas em muitos anos, acaba vindo à tona agora na final. Estou muito feliz”, comentou Nunes, em entrevista ao canal Fox Sports, antes dos primeiros 90 minutos da decisão com o Junior.

Atlético-PR x Junior Barranquilla - final da Copa Sul-Americana

Imagens do jogo

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