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Papagaio em frente ao Ministério Público. Presidente da Império Alviverde quer a volta da torcida organizada ao Couto Pereira e diz que afastou todos os vândalos | Antonio Costa/ Gazeta do Povo
Papagaio em frente ao Ministério Público. Presidente da Império Alviverde quer a volta da torcida organizada ao Couto Pereira e diz que afastou todos os vândalos| Foto: Antonio Costa/ Gazeta do Povo

Entrevista

Allan Garcia Barbosa, torcedor do Coritiba indiciado por tentativa de homicídio na invasão de campo do dia 6/12/2009.

Você foi a algum jogo desde o quebra-quebra?

Não. Até tenho vontade. Mas enquan­­to o processo estiver na Justiça, prefiro não ir.

A Justiça o impediu de ir ao estádio?

Sinceramente, não sei. Até agora, ninguém me avisou de nada.

Então é uma decisão exclusi­­va sua de não ir?

Até onde sei, sim.

O que aconteceu naquele dia?

Foi um baita erro, questão de mo­­mento. Nunca tinha brigado na minha vida. Sempre estudei e trabalhei. Vi meus amigos indo para o campo e subiu à cabeça... Aí já tinha feito bes­­teira: estava no campo, em confronto com a PM. Esses minutinhos de bobeira estão me custando muito caro. Além do dinheiro com advogado, minha família está sofrendo e muitas pessoas se afastaram de mim.

Você ainda é da Império?

Não. Vendi todas as roupas da Império que eu tinha e nunca mais quero vestir uma camisa de torcida organizada. Na hora de entrar no gramado, estava todo mundo junto comigo. Tudo bem, ninguém me obrigou. Fui induzido. Mas depois do que aconteceu, nenhum desses caras veio me perguntar se eu precisava de ajuda. Na hora é todo mundo parceiro, depois...

Você se arrepende?

Muito. O que minha mãe está pas­­sando não desejo a ninguém. É muita humilhação a polícia te pren­­­­der em casa, você ser cha­­mado de vagabundo, ter de raspar o cabelo na cadeia, fazer agacha­­mento na frente dos policiais... Hoje eu digo: quer ir ao jogo, vai para se divertir, não para se meter em con­­fusão. Porque uma hora você está com a vida certinha, na outra, está nessa situação.

O que a invasão atrapalhou sua vida?

Me atrapalhou em tudo. Só não per­­di o emprego porque o patrão é meu ami­­go. Mas tive de vender várias coisas, celular, roupas, com­­pu­­tador... Tu­­do para pagar advo­­gado. Já foram qua­­se R$ 5 mil. Também tive de parar de estudar para arranjar outro empre­­go de noite. Que­­ria dar entrada em um carro, mas não posso porque estou pagando advogado, com o no­­me na Justiça. Por causa de uma bo­­bei­­ra estou com a vida empenhada. (MXV)

Sábado, diante da Portuguesa, o Coritiba volta a jogar no Estádio Couto Pereira após dez jogos de suspensão pelo quebra-quebra de vândalos no empate por 1 a 1 contra o Fluminense, que custou a queda à Série B na última rodada do Brasileiro de 2009. O clube pagou a pena imposta pela Justiça Desportiva. Entretanto, os causadores da confusão que o obrigou a ficar longe de casa por tanto tempo seguem livres e, inicialmente, desimpedidos de ir aos estádios. No total, 14 pessoas foram indiciadas pela invasão de campo na partida de 6 de dezembro do ano passado. Seis deles também respondem por tentativa de homicídio qualificado contra o policial militar Luiz Ricardo Gomide, agredido enquanto estava desacordado no gramado. Passados quase nove meses do episódio, os processos ainda estão na fase de apresentação de defesa. Além disso, nenhum desses 14 nomes consta na lista da CBF de cidadãos sem direito a frequentar estádios.

"Ninguém está preso ou tem de cumprir pena. Falta mais ação do judiciário", cobra o diretor jurídico do Coritiba, Gustavo Nadalin.

Por dois dias a reportagem tentou averiguar na 2ª Vara do Tribunal do Júri, onde tramitam os processos, se esses "torcedores" estão impedidos de ir a eventos esportivos. Não houve confirmação.

Entretanto, um dos acusados da tentativa de homicídio do policial, o auxiliar de cozinha Allan Garcia Barbosa, 19 anos, confirma não ter recebido ne­­nhuma notificação da Justiça informando de que não pode ir aos jogos. "Sinceramente, não sei se estou proibido. Até agora, ninguém me avisou de nada", diz Barbosa, que só não vai às partidas por vontade própria.

A única decisão até o momento para vedar o acesso dos acusados ao estádio partiu do próprio Coritiba. Desde o começo do ano, o clube fixa o nome de todos eles nas entradas do Couto Pereira. Os indiciados que eram sócios também tiveram seus planos suspensos até o fim do processo.

Mesmo assim, reconhece Nadalin, apenas essas medidas não garantem que os torcedores serão realmente barrados. A diretoria, inclusive, recebeu denúncias de que alguns deles já estiveram em jogos em Joinville. "O ideal seria que o poder público exigisse que esses torcedores comparecessem a uma delegacia no horário do jogo, já que eles podem comprar ingresso e, se não forem reconhecidos, entrar no estádio e causar mais confusão", adverte o advogado coxa.

Segurança

Coritiba mantém veto a Império

A torcida organizada Império Alviverde deve seguir afastada do Couto Pereira, conforme decisão da diretoria do Coritiba. Ontem, representantes da Império e do clube se reuniram no Ministério Público com o promotor de Justiça Maximiliano Ribeiro Deliberador para debater o assunto.

Na conversa, o diretor jurídico do Coritiba, Gustavo Nadalin, afirmou que o clube não é contrário à presença da organizada, desde que a própria torcida e o poder público apresentem garantias de que não haverá prejuízos. "Não podemos correr o risco de alguém, mesmo sem responsabilidade da torcida, invadir novamente o campo e trazer novos problemas ao clube", ressalta.

Mesmo afastada, a Império compareceu nas partidas em Joinville e estará no jogo de sábado, contra a Portuguesa, no Couto. Para Luiz Fernando Corrêa, o Papagaio, presidente da organizada, não há como se responsabilizar a pessoa jurídica e deixar impunes os invasores. "Nós os afastamos do quadro da torcida, impedimos que viajassem juntos, mas não temos como barrá-los de ir e vir", disse, para depois confirmar que apresentou um projeto como solução.

"Propomos a criação de uma comissão permanente sobre o assunto, que reuniria o MP, a polícia, dirigentes e membros das torcidas. Teremos então um cadastro oficial dos membros e a polícia poderia agir em cima dos problemas", disse.

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