• Carregando...
Glauco (à direita), vítima de racismo: diretoria recuou na investigação do caso após prometer até instalar câmeras no estádio | Mauro Bianchi/Divulgação
Glauco (à direita), vítima de racismo: diretoria recuou na investigação do caso após prometer até instalar câmeras no estádio| Foto: Mauro Bianchi/Divulgação

César Sampaio e Cléber são ofendidos

Não bastasse ter de tirar o Rio Claro da zona de rebaixamento do Estadual, César Sampaio sofre com insultos raciais no clube que comanda. No sábado, após a derrota por 1 a 0 para o Oeste, em casa, o ex-jogador e agora dirigente estava no camarote com Cléber, ex-zagueiro e um dos sócios da C2B, empresa que comprou o clube em novembro, quando foi chamado de "macaco" por dois torcedores. Assim que identificá-los, Sampaio entrará na Justiça contra eles.

Leia a matéria completa

Entrevista

Glauco Simonelli Venâncio, 28 anos, zagueiro e capitão do Toledo

Em entrevista à Gazeta do Povo, o zagueiro Glauco descreveu as ofensas de que foi vítima e disse que não vai levar o caso para investigação policial.

Do que você foi xingado?

De macaco e preto fdp. "Quer banana, quer banana?" Você não sabe o quanto estou chateado com isso. O pior é que vi a cara dele ali. Estou mal mesmo, e o pior é que minha esposa e minha filha estavam no jogo. Para você ver que o negócio foi tão grave que chegou até aí (em Curitiba). Mas a diretoria já está correndo atrás disso.

Disseram que a sua esposa foi chamar os policiais...

Sim, mas a polícia não teve como fazer nada, pois estava distante. Não culpo a polícia. Eles estavam do outro lado e tinham de se preocupar com a organizada. Mas foi o pessoal da numerada. Foi aquele torcedor de amendoim.

Por que não avisou o árbitro?

Não deu tempo, o jogo estava rolando e a gente estava perdendo.

Você irá tomar alguma medida legal?

Resolvi deixar essa coisa para lá. Deus sabe de todas as coisas. Devo ter para ganhar mais para a frente e acho que se for fazer isso aí (denúncia na polícia), vou sair perdendo. Sou profissional, tenho de cumprir o meu contrato aqui e isso é coisa passada. Aqui no clube todo mundo é gente boa. Não temos do que reclamar.

Já aconteceu algo semelhante contigo?

Tenho relacionamento bom com todo mundo, nunca aconteceu isso comigo, não. Não deu para entender.

Um ato de racismo contra o za­­gueiro e capitão do Toledo, Glau­­co, que partiu do próprio torcedor do Porco, levou o técnico Agenor Picinin a pedir demissão do cargo no começo da semana. Na derrota do seu time para o Pa­­ranavaí, por 3 a 1 (domingo, no 14 de dezembro), o atleta do time da casa teria sido chamado de "macaco e preto fdp". Os gritos vieram das cadeiras numeradas e foram seguidos pela pergunta: "Quer banana, quer banana?".

"Em protesto pela falta de respeito ao profissional Agenor e ao Glauco, pedi demissão em caráter irrevogável", afirmou o ex-técnico do Toledo, Agenor Pici­­nin.

A agressão verbal teria ocorrido logo após a paralisação para o tempo técnico, na primeira etapa, quando o Toledo já perdia por 1 a 0. Indignado ao ouvir as pa­­lavras racistas, Glauco revidou com gestos obscenos, o que dei­xou a torcida irritada. No meio da gritaria, quem começou as ofensas saiu de fininho.

"Foi um cara no primeiro ou se­­gundo degrau da escada. Quan­do ele viu que tinha feito a coisa errada, vazou. Se tivesse uma câmera, aí poderia até ter feito alguma coisa. O cara que chamou ele de macaco sabe quem foi, mas nós não sabemos mais", completou Agenor.

O caso teve desdobramento no começo da semana, quando o presidente do clube, Irno Picinini – primo do ex-técnico –, foi a uma rádio da cidade para pedir mais respeito do torcedor e avisar que colocará seguranças para evitar novos acontecimentos. Via assessoria de imprensa, o di­­rigente também disse que "a di­­­retoria está à procura de duas testemunhas que ouviram as pa­­lavras de cunho racial para to­­mar as providências cabíveis de forma jurídica". Ontem, porém, o discurso mudou.

"Foi coisa pequena, não va­­mos falar mais nada disso aí. O Glauco está tranquilo, voltando a trabalhar hoje (ontem). Coi­­sinha simples de piá, de moleque", afirmou por telefone à Ga­­zeta. "Ontem (terça-feira) dei en­­­trevista em uma rádio pe­­din­­do para não acontecer mais. Mas vai monitorar o estádio? Não te­­mos estrutura para isso hoje."

No dia do jogo o monitoramento acabou ficando por conta da própria esposa de Glauco, que ouviu o xingamento e foi chamar os policiais de plantão no estádio: não foi atendida.

"Não culpo a polícia. Eles estavam do outro lado e tinham de se preocupar com a organizada. Só que foi o pessoal da nu­­me­­rada. Foi aquele torcedor de amendoim (corneteiros)", disse Glauco, que só foi sair de casa ontem, para a apresentação de Rogério Perrô, o novo treinador do Toledo. "Es­­tou chateado e ma­­goado. Nem consigo direito falar sobre isso."

A procuradoria do Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR) começou a investigar o caso. De acordo com o novo Código Bra­­sileiro de Justiça Desportiva, que entrou em vigor no começo do ano, caso haja a denúncia e condenação máxima, o Toledo po­­derá perder dez mandos de campo e ser multado em R$ 100 mil.

"Vamos investigar esse caso", afirmou o procurador-geral do TJD-PR, Ramon de Medeiros No­­gueira.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]