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Preocupado, técnico da seleção faz apelo à iniciativa privada
O técnico da seleção brasileira sub-20, Caio Couto, aposta na iniciativa privada como alternativa para emplacar o futebol feminino no Brasil. Para o treinador, vale copiar a experiência bem-sucedida do vôlei no país com vários patrocinadores para a realização da Superliga.
"Eu acredito que o maior investimento nem seja dos clubes tradicionais, mas das empresas, como foi feito no voleibol. Não era um esporte muito praticado, há não muito tempo, só se falava em futebol por aqui. Mas cresceu com esse suporte, e hoje temos ligas fortes tanto no masculino quanto no feminino. É uma saída que podemos tentar, pois, no nível das jogadoras, continuamos muito bem, apesar das dificuldades", diz o treinador.
Diante do impasse na Liga Americana, Couto enxerga a Ásia como um novo eldorado para as meninas que compartilham do sonho dos homens de seguir uma carreira internacional na complicada vida de "boleira".
"O futebol na Coreia do Sul, no Japão, está crescendo muito. Na China também há um mercado para ser explorado. É um contraponto ao que está acontecendo nos Estados Unidos, além de uma chance de conhecer uma nova cultura", afirma.
Crise nos EUA
Superpotência do esporte, os Estados Unidos passam por uma crise nunca vista desde a criação da liga americana, a WPS, em 2007. Falências de equipes têm sido recorrentes e, para este ano, somente cinco clubes estavam em condições de entrar na disputa. Porém, para evitar outros dissabores, a associação preferiu cancelar a temporada.
Dessa maneira, estrelas ficaram desempregadas, casos da meia brasileira Marta, da atacante americana Abby Wambach e da meia japonesa Homare Sawa, as três concorrentes ao prêmio de melhor do mundo pela Fifa. Outra sem time é a goleira americana Hope Solo, musa do esporte.
A principal preocupação é que o impasse possa prejudicar a preparação das atletas e seleções para a Olimpíada de Londres, em julho.
Brasil e Argentina jogam hoje, às 18h10, no Couto Pereira, pela última rodada do Sul-Americano Feminino Sub-20, disputado em Curitiba, Paranaguá e Ponta Grossa o time canarinho já alcançou a classificação para o Mundial (no Japão) e agora busca o título. O clássico marca também o derradeiro passo antes de uma dura volta à realidade para as brasileiras.
A partir de segunda-feira, nada de hotel de luxo, estrutura de treinamento, estafe completo, ônibus exclusivo e assédio (mesmo que pequeno) da imprensa e torcedores. Será tempo de conviver novamente com as incertezas de um esporte ainda longe de deslanchar.
A maior prova é o entrave pelo qual passa a liga americana, a mais importante do mundo. Com apenas cinco equipes dispostas a participar, além de alguns problemas legais, a organização optou por cancelar a temporada deste ano.
Enquanto isso, no Brasil, nada muda. O badalado time do Santos, que contou com Marta, a melhor jogadora do mundo, acabou desativado. Não há sequer um calendário fixo de competições, são poucas as disputas estaduais e, de caráter nacional, só existe a Copa do Brasil. Não há apoio nem um planejamento de estruturação para a modalidade.
"A CBF [Confederação Brasileira de Futebol] sempre ajuda da melhor maneira possível na seleção. Mas é diferente quando se fala dos times. O Santos terminou do nada. Quando a gente pensa que o futebol feminino está evoluindo, eu acho que está no mesmo nível", afirma a atacante Thaisinha, 19 anos, um dos destaques do Brasil.
A paulista ainda não sabe o que vai fazer quando terminar o Sul-Americano. "Assinei um pré-contrato para jogar na Coreia do Sul. Mas tenho vontade de ficar no Brasil. Um empresário está vendo pra mim, é ano de Olimpíada [em Londres] e Mundial [sub-20, no Japão, em agosto e setembro]", revela.
Jogadora do Foz Cataratas, Andressa segue na mesma linha. "Na seleção é um sonho, mas quando vamos para o clube é mais difícil. No meu nem tanto, pois temos estrutura. Mas na maioria é preocupante", diz a volante.
A equipe paranaense, aliás, é um oásis no futebol feminino. No ano passado, o time foi campeão da Copa do Brasil, principal torneio da categoria no país. Este ano vai disputar a Libertadores da América das meninas. O clube é um projeto do locutor esportivo Luciano do Valle e do professor de Educação Física Alekssandro Fogagnaoli.
Como a maioria não pode contar com nenhum tipo de planejamento, as meninas se agarram aos resultados como única esperança para uma reviravolta. "Infelizmente é assim, vivemos de resultados. Não temos estabilidade", sentencia a zagueira Thayla Carolina, também atleta do Foz.
Ao vivo
Brasil x Argentina, às 18h10, na TV É-Paraná.
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