A paz olímpica

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Ekecheiria. Este era o termo que os antigos gregos usavam para definir a trégua entre várias facções que não paravam de brigar no país inteiro.

A este período de paz de três meses de duração deveriam seguir-se os eventos esportivos de apenas cinco dias. Depois, mais um tempo para que os competidores-guerreiros descansassem em suas casas. Este era o espírito dos embrionários Jogos Olímpicos – paz durante a guerra – que surgiram em algum momento entre o nono e o sétimo séculos antes de Cristo.

Há sinais nos registros históricos que tudo começou com um único evento, a corrida de 170 metros ao redor do estádio. Como a iniciativa foi um sucesso, logo o leque de esportes aumentou, e modalidades como lançamentos de disco e dardo, corridas mais longas, saltos em distância, levantamento de peso e lutas, passaram a fazer parte do festival grego.

Mas só a partir do século 7 AC, os nomes dos atletas e seus feitos começaram a ser arquivados. Os prêmios foram aumentando e três séculos mais tarde já eram maiores do que os ramos de oliveira iniciais. E, para consolo dos russos que ficarão de fora das competições de atletismo por uso de doping, há escritos comentando subornos e tentativas de corrupção entre os vencedores na antiguidade. Ou seja, o ser humano não falha através dos tempos.

Alguma coisa saiu errada na composição da engenharia humana. O ódio e o fanatismo religioso atrapalham o desenvolvimento da sociedade em harmonia. Sem esquecer os falsos profetas. Ou os tais líderes carismáticos.

Os Jogos vêm resistindo a tudo e sobrevivendo como ideal olímpico: guerras, crises econômicas, emulações políticas, diferenças religiosas, ideologias conflitantes, intolerâncias raciais, transformações sociais e, modernamente, a guerra urbana provocada pelo terrorismo.

Com o desembarque das delegações e dos turistas que se aventurarem a vir ao Rio de Janeiro, o prefeito Eduardo Paes, que num país com costumes mais rigorosos teria sido afastado desde o desabamento da ciclovia Tim Maia, os receberá pedindo para que não reparem na bagunça e sintam-se à vontade dentro do possível.

A faixa Welcome to hell (bem-vindo ao inferno), estendida, há alguns dias, por policiais com salários atrasados no aeroporto internacional do Galeão, deu a medida do descalabro da administração pública do estado fluminense.

Transformado em zona de segurança máxima, para que visitantes e participantes do evento tenham a sensação de tranquilidade, o Rio de Janeiro respira o ar da paz olímpica.

Como no passado profundo dos Jogos, a cidade pede uma trégua nos conflitos humanos para que os atletas possam competir.